Nesta quinta-feira, 7 de setembro, o Grito dos Excluídos e das Excluídas vai realizar sua 29ª edição em 25 estados brasileiros. A tradicional manifestação popular escolheu como tema 'Você tem fome e sede de quê?', e deve reunir ativistas, trabalhadores e trabalhadoras, grupos, entidades, pastorais e movimentos sociais nas ruas de todo o estado.
O membro da coordenação nacional do Jubileu Sul Brasil, Célio Peres Bezerra Maranhão, explica que o tema foi escolhido dentro de um coletivo de mais de duas mil pessoas, uma rede de articuladores e articuladores de todo o Brasil. “Esse tema foi escolhido porque estamos vivendo em um país onde a fome e sede de justiça aumenta cada dia mais. O desmonte do Estado brasileiro promovido pelo governo passado ainda reflete muito na situação do nosso povo e particularmente na população de rua, dos povos indígenas, quilombolas, mulheres, crianças e jovens negros”, pontua Célio.
A assessora regional da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, Inéria Florinda, chama atenção para a reflexão provocada pelo tema da Campanha da Fraternidade de 2023. “Você tem fome e sede de quê? Eu diria que tenho fome de uma democracia verdadeira em que realmente o poder de decisão esteja nas mãos do povo, dos periféricos, daqueles considerados escória no nosso mundo egocêntrico e neoliberal”, destaca.
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Primeiro grito pós governo Bolsonaro
A manifestação ocorre todos os anos na mesma data em contraponto ao Grito da Independência, questionando os padrões de independência do povo brasileiro e promovendo uma reflexão sobre a necessidade de construção de um Brasil mais justo e igualitário para as pessoas.
Essa é a primeira edição depois do governo Jair Bolsonaro, que deixou marcas e um legado de políticas de desmonte aos direitos das populações vulneráveis. No decorrer dos quatro anos de mandato do ex-presidente, a data foi símbolo de ataques à democracia, à independência das instituições e ameaças de golpe de Estado.
Esse ano, o ato está concentrado em quatro eixos de luta principais: políticas públicas; democracia e soberania; violências estruturais, patriarcado, racismo, machismo; e desigualdade, economia, justiça social. Os temas se subdividem em denúncias graves, como violência contra a mulher e policial; combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes; fome; alto índice de desemprego; intolerância religiosa; falta de água e de merenda escolar e reivindicações por direitos humanos básicos, como moradia digna e direito à cidade.
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“É o momento de trazer para as ruas todas as reivindicações, lutas e clamores por justiça. Por um Brasil onde todos têm direito à terra, teto e trabalho. É o momento de fortalecer as lutas e exigir dos poderes públicos os direitos devidos por uma política de governança identitária, igualitária, ecológica e integral”, explica Inéria.
Questões atuais, como o assassinato da Mãe Bernadete e a votação do marco temporal, também serão lembrados. “As denúncias aparecerão no dia 7 de setembro, mas já estão ecoando nas atividades do Pré-Gritos”, relata Josilene Nascimento Passos, educadora popular e assessora no Jubileu Sul Brasil, no Projeto Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais em Salvador.
Ela destaca ainda o “vergonhoso e escandaloso” quadro de desigualdade do país, um um dos três que mais produzem alimentos no mundo, 12ª economia do globo, e de volta ao Mapa da Fome. “Diante das questões gritantes de insegurança alimentar e de fome no país, o Grito convida todos à reflexão e ação em busca de alternativas para os enormes problemas que o povo enfrenta com a questão da fome e da água”, alerta.
“Em Salvador, as comunidades populares que tenho acompanhado, mesmo com mudança de governo com perfil popular e progressista, ainda enfrentam a situação de fome e de insegurança alimentar”, completa. Ainda assim, a educadora observa o resgate da abertura e do diálogo com os movimentos populares.
A retomada de conselhos, fóruns e conferências para ouvir e debater as proposições da sociedade civil, é um dos exemplos disso. Assim como as propostas de projetos de taxação dos super ricos, na busca pela equidade. “Porém a democracia não voltou plenamente. São questões complexas e estruturantes. Tenho fome e sede de que nós pessoas empobrecidas e excluídas possamos decidir o rumo do país. E não acredito que numa canetada, e em tão pouco tempo de governo acabe com as desigualdades”, pondera.
Célio adiciona ainda outro desafio à conjuntura, embora o país tenha retomado um governo minimamente democrático, as representações dos brasileiros no Congresso Nacional ainda são extremamente conservadoras. “Pra democracia existir, temos que combater a desigualdade social, herança de uma economia que não promoveu inclusão social. É difícil porque não temos maioria no Congresso, temos um Banco Central que mantém os juros altos e temos que lutar contra a precarização do emprego. Nossa luta é constante”.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Gabriela Amorim