'pouco tempo'

'A luta continua', diz Ana Moser após anúncio de saída de ministério; esportistas lamentam

Medalhista olímpica foi retirada do cargo pelo presidente Lula para entrada de André Fufuca, deputado federal pelo PP

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Ex-ministra se pronunciou após ter sido retirada do cargo - Wilson Dias/Agência Brasil

Um dia após a confirmação de sua saída do Ministério do Esporte, a medalhista olímpica Ana Moser disse que teve pouco tempo para tentar mudar a realidade da área no Brasil, mas mostrou orgulho do trabalho que conseguiu fazer em pouco mais de oito meses à frente da pasta. Mesmo fora do cargo, disse que continuará lutando.

Em uma sequência de postagens na rede social X, antigo Twitter, a ex-atleta agradeceu o apoio recebido no período em que esteve no Ministério, e reafirmou a importância do esporte como algo com grande potencial para a sociedade do país.

"Tivemos pouco tempo para mudar a realidade do Esporte no Brasil, mas sei que entregamos muito, construímos muito e levamos a política do presidente Lula aos que tivemos contato de norte a sul deste país. Construí minha vida inteira para chegar aqui. Como mulher lutei para conquistar espaços e no Mesp [Ministério do Esporte] trabalhei para transformar a realidade do esporte brasileiro. E continuarei lutando", escreveu.

"Para mim, o potencial social, educacional e comunitário do esporte ainda está para ser reconhecido e valorizado, especialmente pelos gestores públicos. Por isso a luta continua. Agradeço aos que estiveram comigo percorrendo este caminho curto e árduo", complementou Ana Moser.

Também nesta quinta, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Alexandre Padilha, falou em nome do governo e agradeceu a dedicação de Ana Moser. Ele afirmou que o presidente Luiz inácio Lula da Silva (PT) "tem grande consideração" pela ministra demitida e garantiu que os compromissos com a comunidade do esporte anunciados em campanha serão seguidos.

"A ministra Ana Moser, nesse período, já plantou as sementes e iniciou a colher os frutos daqueles compromissos do presidente Lula com o esporte brasileiro na campanha eleitoral. O presidente considera e acredita que a ministra Ana Moser vai continuar colaborando com o esporte brasileiro, com as políticas públicas federais. Ela tem um apreço muito grande na relação do esporte e a educação", disse Padilha.

A ex-atleta e medalhista olímpica será substituída pelo deputado federal André Fufuca (PP-MA), companheiro de partido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-PI). A mudança já vinha sendo ventilada há vários dias, e foi criticada por atletas, ex-atletas e outras pessoas que vivenciam o dia a dia do esporte no país.

O coletivo Esporte pela Democracia, fundado em 2020, em meio ao desmonte de políticas públicas comandado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), publicou nota dura, dizendo que a demissão da ministra vai no sentido contrário das promessas feitas pelo então candidato Lula, que, em evento com esportistas, jornalistas, atletas e ex-atletas, garantiu que o esporte seria tratado como política de Estado.

"Infelizmente, a demissão da ministra Ana Moser diz o contrário. Ao abrir mão de Moser em nome de governabilidade, atendendo a pressões do que há de mais fisiológico na política brasileira, Lula dá um passo atrás e decepciona profundamente aquelas pessoas que ouviram dele, em alto e bom som, que poderiam acreditar e sonhar com um futuro melhor, no qual o esporte seria um instrumento importante de inclusão e transformação social", pontuou o texto.

A jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, filha da lendária Isabel Salgado, que morreu em novembro do ano passado, disse em postagem em suas redes sociais que a demissão da ministra marcou "um dia triste para o esporte", e afirmou que lamentava profundamente a saída.

"Ver o esporte sendo mais uma vez usado como moeda de troca e entregue nas mãos de um deputado que não tem nenhuma ligação com esporte, que foi a favor do impeachment de Dilma, que apoiou Eduardo Cunha, que é aliado de [Arthur] Lira [presidente da Câmara] e que obviamente apoiou o governo Bolsonaro, é de uma tristeza profunda. Estive e estarei na mesma trincheira sempre que a luta for contra as trevas. Não desconheço a questão da governabilidade num sistema político com as distorções do nosso. Mas isso não pode justificar tudo e nem seremos incondicionalmente ao lado de tudo", pontuou.

Também apoiadora de Lula, a ex-nadadora e atleta olímpica Joanna Maranhão foi mais uma a lamentar. "Erro de Lula. Dei meu voto, fiz campanha e sei das limitações da social democracia. Ainda assim: ele errou", disse. Ela ainda fez uma crítica ao coletivo de atletas e ex-atletas do país.

"O jogo político precisa ser jogado. E nesse aspecto, meus 'companheiros de profissão' não jogam. Se calam. Consentem. Por saber que não serão afetados. Sim, ninguém vai mexer com bolsa atleta. Ninguém vai mexer em repasse de verba pública. Nem Ana queria isso. O que ela queria, e quem discordar tem algo a explicar, era um maior controle desse repasse", afirmou.

Outras mudanças

A minirreforma ministerial anunciada pela equipe de Lula  na quarta-feira (6) incluiu ainda a indicação do também deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) para o Ministério dos Portos e Aeroportos. O antigo titular da pasta, Márcio França, vai assumir o Ministério das Micro e Pequenas Empresas, que será criado. As trocas serão formalizadas após a volta de Lula da reunião do G20, na Índia.

Edição: Geisa Marques