No dia 7 de setembro acontece a 29ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, que este ano tem com o lema "Você tem fome e sede de quê?". Essa, de acordo com a organização, é a pergunta que deve ser feita para todos que lutam por um Brasil mais justo, democrático e soberano.
Para falar sobre a ação no estado do Ceará, o Brasil de Fato conversou com Francisco Vladimir, da equipe de metodologia do Grito dos Excluídos e Excluídas de Fortaleza, defensor de direitos humanos, membro da coordenação da rede Jubileu Sul Brasil e Articulador para o Cone Sul da Rede Jubileu Sul Américas. Confira:
Brasil de Fato CE: Queria começar nossa conversa falando um pouco sobre a história do Grito dos Excluídos. Você pode nos falar como surgiu essa ação?
Francisco Vladimir: O Grito surge como uma proposta nesse processo de avaliação. As pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizam as Semanas Sociais Brasileiras, inclusive se realiza a Sexta Semana Social Brasileira com o tema "Mutirão pela Vida por Terra, Teto e Trabalho". Então, nesse processo de articulação das forças vivas, dos movimentos sociais, dos movimentos populares, de sindicatos, de organizações, de associações de bairros, as pastorais sociais convidam todo esse setor social da igreja para dialogar com os movimentos populares.
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A realização do Grito surge através de uma das reuniões de avaliação do processo na Segunda Semana Social Brasileira. Veja bem, a gente está falando da Segunda Semana Social Brasileira, que aconteceu de 1993 a 1994 e já estamos na Sexta. As Semanas Sociais são processos de articulações, como eu disse, e aí, normalmente, nas Semanas Sociais, tem um compromisso de dar continuidade e concretizar os debates realizados durante as Semanas Sociais Brasileiras. Naquela época, na Segunda Semana Social, o tema era "Brasil, alternativas e protagonistas", e ainda tinha uma pergunta, "o Brasil que a gente quer?", então, nesse processo de articulação da Semana Social Brasileira, nasce o Grito dos Excluídos.
As motivações que levaram a escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito estão para fazer o contraponto ao Grito da Independência, proclamado, como tem na história oficial, por um príncipe, em 1922. E aí, as articulações, as forças sociais do Brasil disseram: "não, nós precisamos dar um sentido ao Grito, ao dia 7 de setembro". Então, desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem como objetivo levar às ruas e praças e comunidades esses gritos ocultos, esses gritos que são sufocados, silenciados, pelos grandes poderes.
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Quem são os excluídos e excluídas?
Veja bem, nós somos excluídas e excluídos porque existe uma forma do capital financeiro oprimir cada vez mais os pobres, de oprimir cada vez mais as classes populares. É ditado pelos grandes, pelos poderosos, como tem que ser o modelo de viver. Por isso que a gente fala: "nós queremos um bem viver", onde as excluídas e os excluídos possam ter acesso à saúde pública de qualidade, onde as excluídas e excluídos possam ter moradia digna, terra para produzir, para plantar, a soberania dos nossos povos e do nosso país em relação aos países dominantes, a garantia do território, à Justiça, mas não a Justiça que mata cada vez mais as mulheres e os pobres, as juventudes negras das periferias, que não seja seletiva. Então, os excluídos somos nós, povo brasileiro, que cada vez mais tem menos acesso a tudo isso que eu disse anteriormente.
É importante sempre dizer que o Grito quer dar visibilidade, quer dar voz a esses setores da sociedade que estão à margem. A gente sempre diz que o Grito é um espaço de expressar, de mostrar à sociedade brasileira que existe mobilização social, que existe mobilização popular.
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Este ano o lema da ação é "Você tem fome e sede de quê?". Você pode falar um pouco sobre o processo da escolha desse lema?
Sim, como eu disse, o Grito é um processo de organização, ele não tem uma coordenação nacional que, por exemplo, propõe temas ou que faz com que já venha dito que este o lema do Grito é "Você tem fome e sede de quê?". É um processo onde essas diversas organizações como o CUT [Central Única dos Trabalhadores], MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], Pastorais Sociais da Igreja Católica, MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], todos esses movimentos fazem parte de uma coordenação nacional onde eles vão recolhendo informações desde os estados e assim que acaba o Grito, por exemplo, em Fortaleza, no mês seguinte já tem uma plenária avaliativa onde se realiza uma avaliação do que nós realizamos nesse processo de construção do Grito.
A gente diz que tem fome de moradia, de justiça, de saúde, de terra, de trabalho, de soberania, todos esses elementos que eu disse onde estão as excluídas e os excluídos. A gente tem sede e fome de que haja uma melhor condição de vida, de que haja o bem viver, que haja políticas públicas, que haja participação, que a democracia seja garantida cada vez mais, não só pelos poderes, mas também pelo povo, por nós. E aí o Grito tem essa proposta de realizar processos de construção de um modo onde as pessoas que estão envolvidas no Grito também decidam o que nós queremos tratar durante o ano de 2023.
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Você tem fome e sede de quê é a pergunta que nós temos que gritar no dia 7 de setembro. Qual é a fome e qual é a sede que temos?
Quais são os maiores desafios para a realização do Grito dos Excluídos e Excluídas no estado do Ceará?
Bom, eu sinto, e aí não é uma avaliação só minha, é de alguns movimentos, organizações, que a gente sente essa ausência, essa lacuna de um espaço de articulação, onde nós possamos, nas nossas diferenças, é importante dizer isso, nas nossas diferenças, porque há diferença entre o modo de realizar e de organizar o movimento popular, mas isso não pode nos dividir, isso tem que ser um fator que vai fortalecer a nossa caminhada de organização. Historicamente é isso, o movimento popular tem que entender que é na unidade que a gente vai buscar, é na diferença que a gente tem que buscar a unidade para a gente poder inverter essas situações. Então, eu acredito que uma das dificuldades é ter uma presença mais efetiva de participação orgânica na construção do Grito, dos movimentos populares e sociais que em nível nacional estão, por exemplo, se organizando, estão na coordenação nacional, mas localmente precisaria de uma participação melhor, de um comprometimento melhor da organização popular, das organizações populares, eu digo especialmente em Fortaleza.
A gente não pode só se encontrar no dia 7 de setembro, não pode ser um momento somente realizado pelas pastorais sociais, tem que haver uma participação na construção, porque o Grito é nosso, é do campo popular, é das pastorais sociais, é da Semana Social, é da associação de bairro, não é de um grupo específico. Então, eu diria isso, ter uma maior participação dos movimentos populares e sociais é um desafio.
Em quais cidades vai acontecer o Grito aqui no estado do Ceará?
A gente tem conhecimento que em todas as dioceses irá acontecer. Sempre, todos os anos, cada pastoral social das dioceses anima e convoca os movimentos. Em outras, não. Então, em todas as regiões do estado do Ceará irá acontecer, umas no dia 7 e algumas realizam no dia 6, e aí tem uma agenda local específica.
Tem algum local específico, rede social, ou site, que fica essa agenda para que as pessoas possam pesquisar onde vai acontecer?
Sim. Tem uma página nacional, que é gritosexcluidos.com. Lá são colocado os "ecos dos excluídos", ali tem uma agenda onde cada pessoa pode conferir onde vai acontecer o Grito em sua cidade. Aqui em Fortaleza, por exemplo, o Grito vai acontecer no dia 7 de setembro, vai sair da Avenida Jornalista Tomás Coelho, nº 2050, pertinho da Avenida Perimentral, às 8h30, no bairro Messejana, e termina na Igreja Matriz de Messejana.
Cada cidade tem a sua organização própria e é importante que nós, do campo popular estejamos atentas e atentos de onde vai acontecer o Grito este ano, em nossas cidades, para que a gente possa levar nossas bandeiras de luta e gritar contra esse sistema que quer nos excluir, que quer nos tirar da mesa do debate, das reflexões.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia