O Rio Grande do Sul está passando pelo pior desastre natural de sua história. Foram registradas 39 mortes até a manhã desta quinta-feira (7), e o número deve subir nos próximos dias porque há pessoas desaparecidas. Nas cidades são milhares de desabrigados e na zona rural ainda não se tem certeza do número de famílias que perderam tudo.
Enquanto os esforços nos locais da tragédia seguem sob a coordenação da Defesa Civil, priorizando inicialmente o socorro emergencial às pessoas em risco de vida, para em seguida passar aos esforços de limpeza, reconstrução e contabilização das perdas, diversas organizações em movimentos sociais estão mobilizados para prover as necessidades dos diferentes públicos atingidos.
:: 'Cenário de guerra', afirma ministro ao sobrevoar regiões afetadas pelos temporais no RS ::
Neste sentido, a campanha “Sementes de Solidariedade”, proposta pelo Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) e que mobiliza organizações aliadas no campo social e religioso, está centrando seu foco na aquisição de sementes e nas ações de auxilio ao replantio das lavouras de pequenos agricultores e agricultoras de matriz camponesa e familiar.
"Estamos sentindo muito essa situação dos nossos irmãos e irmãs do Vale do Taquari, atingidos por esse desastre socioambiental", comenta o diretor do ICPJ, Frei Sérgio Görgen. Ele afirma a necessidade imediata de solidariedade humana em relação a todos e todas que de alguma forma foram atingidos, mas destaca que é preciso já articular ações de estímulo para a reconstrução e a retomada das suas vidas.
:: 'Desastre não é natural': Reconhecer o que está por trás é o primeiro passo ::
“As imagens que têm sido compartilhadas são chocantes e deixam claro a necessidade de ação imediata, o mínimo que pudermos fazer vai ajudar muito as pessoas que perderam tudo”, expressa.
Além do ICPJ, se somam à campanha o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Cáritas Brasileira e Cáritas RS, Instituto Koinós, Comissão Pastoral da Terra (CPT-RS), Movimento dos Atingidos e Atingidas Por Barragens (MAB) e JPIC/Franciscanos (Justiça, Paz e Integridade da Criação).
Especificamente para esta iniciativa estão sendo solicitadas inicialmente doações destinadas à conta da Cáritas Brasileira, na chave Pix CNPJ 33654419001007 ou depósito bancário para: Conta Corrente: 55.450-2 / Agência 1248-3 (Banco do Brasil).
"Perderam os plantios, os animais e até as suas próprias casas"
Dirigente do MPA no Vale do Taquari, Lari Hofstetter divulgou um vídeo em frente a uma lavoura arrasada pela enxurrada para demonstrar uma situação que até o momento não tem sido muito exposta: a perda total da maior parte dos pequenos agricultores da região. “Nós podemos ver as lavouras que foram plantadas, as sementes foram afogadas, totalmente perdidas durante a enchente, será preciso fazer um novo plantio”, explica.
Conforme Lari, os pequenos agricultores dos municípios do Vale do Taquari, especialmente a imensa maioria que tem entre 9 e 10 hectares de terra ou até menos, “perderam os plantios, os animais, muitas vezes até as suas próprias casas, perderam amigos e familiares, enfim perderam tudo”.
:: 'Mudança climática é fábrica de gerar pobreza', diz secretário do Observatório do Clima ::
Conforme o dirigente camponês, são esperadas ações rápidas e de grande envolvimento da parte dos governos estadual e federal, mas de imediato a solidariedade ativa das pessoas é o que vai fazer a principal diferença para completar a resistência e iniciar a reconstrução.
Mobilização pública iniciou no Grito dos Excluídos
Durante a programação do Grito dos Excluídos na região metropolitana de Porto Alegre, a campanha foi apresentada pela representante da Cáritas Jacira Ruiz e pelo dirigente do MAB Leonardo Maggi. “Precisamos ter mais cuidado com a casa comum, com a nossa mãe Terra”, afirmou Jacira, relembrando que a tragédia que está acontecendo não é natural, mas, sim, socioambiental, visto os abusos que seguem sendo praticados pelo ser humano contra a natureza.
:: Preparar cidades para eventos climáticos extremos é possível e há exemplos no Brasil ::
“A gente sabe que muitas vezes a chuva para, e a notícia se encerra, mas o sofrimento das pessoas continua, por isso é importante os movimentos sociais se engajarem”, apontou Leonardo.
Foi lembrado ainda que é necessário construir organização para prevenir e superar situações como esta, visto que não foi o primeiro fenômeno do tipo que aconteceu e, inclusive, já se tem notícia que poderão acontecer duas novas ocorrências climáticas ainda no mês de setembro.
As organizações que participam dessa ação emergencial do projeto Sementes de Solidariedade também estão organizando uma equipe ativa que deve se deslocar até a região dos Vales nos próximos dias. Maiores informações serão divulgadas nos canais das organizações nas redes sociais, assim como no site do Brasil de Fato e Facebook do coletivo de comunicação popular Rede Soberania.
“A tua ajuda é necessária e urgente, para reconstruir as roças e as vidas das pessoas”, motiva o texto de divulgação da ação.
Doações para a campanha Sementes de Solidariedade
Pix (CNPJ) da Cáritas Brasileira: 33654419001007
Depósito bancário: Conta Corrente 55.450-2, Agência 1248-3 (Banco do Brasil)
Outras doações
A Defesa Civil tem apontado a necessidade de kits de higiene e limpeza, cestas básicas, agasalhos, roupas de cama, cobertores e colchões.
Os materiais podem ser entregues nos pontos de referência da Defesa Civil, bem como nos quartéis da Brigada militar e do Corpo de Bombeiros.
Também estão recebendo doações todas as agências e pontos de atendimento do Banrisul e todos os pontos de coleta da Campanha do Agasalho.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira