Na última quarta-feira (6), um juiz distrital ordenou a retirada de boias colocadas pelo governo do Texas ao longo do Rio Grande, na fronteira com o México. A medida foi anunciada pelo governador republicano Greg Abbott, no início do ano, como uma forma de dificultar a travessia de imigrantes sem documentos.
A barreira flutuante gerou diversas críticas. Grupos em defesa dos imigrantes argumentaram que a barreira aumentaria o número de afogamentos. De fato, no mês passado, um corpo foi encontrado próximo às boias.
O presidente mexicano, Andres Manuel López Obrador, fez críticas diretas ao governador do Texas após o corpo ser encontrado no Rio Grande: “Abbott não deveria agir assim. Isso é desumano”. Semanas antes, o governo do México tinha apresentado uma queixa formal ao governo dos Estados Unidos sobre a barreira.
Em resposta, o embaixador estadunidense no México também criticou a instalação das boias e o Departamento de Justiça solicitou que a barreira fosse removida. De lá pra cá, a questão está na justiça. Ontem, uma corte de apelações no Texas permitiu que o governo mantenha a barreira até que a decisão final da justiça seja tomada.
Crise migratória na fronteira
Republicanos, já há muito tempo, criticam as políticas imigratórias da Casa Branca. Com o fim da emergência da covid-19, os pedidos de asilo na fronteira com o México foram restabelecidos, aumentando assim o número de travessias.
A lei nos Estados Unidos obriga o Estado a processar os pedidos de asilo. Atualmente, com o alto número, um processo leva em média mais de 4 anos para ser concluído. A lei, porém, proíbe que as pessoas fiquem detidas por mais de 60 dias.
Em resumo, elas são liberadas dentro do país com o comprometimento de comparecer perante ao tribunal, o que geralmente não acontece, por medo de negativa do processo e, consequentemente, deportação.
Desde o ano passado, governadores republicanos, principalmente Greg Abbott, do Texas, e Ron DeSantis, da Flórida, resolveram adotar uma nova tática. Com ônibus, e às vezes até aviões, fretados, eles passaram a enviar grupos de imigrantes sem documentos para cidades e estados democratas.
Crise migratória longe da fronteira
A tática dos republicanos é como quem diz: “você não gosta dos imigrantes? Então leve para casa”. Milhares deles foram enviados para a Califórnia, Massachusetts, Nova York e cidades como Chicago e Denver. Locais que não estavam preparados para o alto fluxo.
Só na cidade de Nova York, a prefeitura afirma que já chegaram mais de 110 mil imigrantes aguardando pedidos de asilo desde abril de 2022. Pessoas que chegam, diariamente, na rodoviária de Port Authority, em Manhattan.
A lei de Nova York obriga a prefeitura a garantir abrigo a todos os imigrantes, o que levou a cidade a um estado de emergência. Primeiro acabaram as vagas em abrigos, depois em quartos de hotéis pagos pela prefeitura. Por fim, o governo passou a montar abrigos improvisados em ginásios de escolas durante as férias de verão.
Na quarta-feira, Eric Adams, prefeito democrata de Nova York, disse que a crise migratória “vai destruir Nova York”. Ele subiu o tom e fez criticas duras ao presidente Joe Biden e à governadora do estado, Kathy Hochul, também democrata, por não ajudarem a prefeitura.
Segundo Adams, a cidade está recebendo 10 mil novos imigrantes por mês e ele afirmou não saber mais o que fazer. Outra preocupação levantada foi sobre as escolas. Com a volta às aulas no 7 de setembro, a expectativa é que 20 mil novas crianças imigrantes sejam absorvidas pelo sistema municipal de educação.
Há um mês atrás, a governadora de Massachusetts declarou estado de emergência pelos mesmos motivos. Maura Healey, também democrata, afirmou não ter mais solução para abrigar os imigrantes que desembarcam todos no estado. Assim como Adams, ela pediu que permissões de trabalho sejam concedidas de forma mais rápida, para que os imigrantes possam trabalhar e procurar moradias próprias.
As críticas, claro, estão sendo fortemente publicizadas pelos republicanos.
Edição: Thales Schmidt