Pessoas atingidas, voluntários e agentes do poder público seguem trabalhando para tentar limpar o estrago feito pelo rompimento de um reservatório de água da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), na madrugada da última quarta-feira (6), em Florianópolis (SC). Segundo os dados mais recentes da Defesa Civil, 280 famílias foram diretamente atingidas, somando 686 pessoas. Vinte moradias foram interditadas, e 59 veículos removidos.
Não houve mortes ou pessoas feridas com gravidade, mas algumas precisaram receber atendimento médico. O resultado do acidente foi menos grave porque o vazamento ocorreu de madrugada. A água chegou, por exemplo, a uma creche, que, devido ao horário, estava vazia.
As perdas materiais, porém, são incalculáveis. Muitas famílias perderam todos seus pertences. Trabalhadoras e trabalhadores ficaram sem acesso a bens necessários para garantir suas fontes de renda, como carros e equipamentos domésticos. Os bairros atingidos, Monte Cristo, Sapé, Jardim Atântico e Coloninha, ficam em uma região periférica.
Integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) trabalham junto às famílias na linha de frente para tentar recuperar o que pode ser recuperado e devolver um pouco da normalidade após o derramamento de cerca de 2 milhões de litros de água. O mutirão de apoio registrado nas primeiras horas após o incidente já não conta com tantas pessoas.
"No segundo dia o cenário já era outro, tinha muito menos gente. É algo que a gente visualiza nesse tipo de rompimento: nos primeiros dias a gente tem muita assistência, e depois isso vai se esvaziando. Teve gente que teve que ir trabalhar e deixar a casa como estava porque não tinha como faltar no emprego. Ao mesmo tempo, muita gente dependia do que tinha em casa para trabalhar, como motoristas de aplicativo que perderam carro, perderam moto", lamentou Mariah Wuerges, integrante da coordenação nacional do MAB.
Em reunião na tarde desta sexta-feira (8), representantes da empresa anunciaram o pagamento de indenização financeira relativa a parte das perdas com os bens materiais. Esses pagamentos, segundo a Casan, começam a ser feitos no sábado (9). Para receberem o valor relativo a tudo que foi perdido, os atingidos terão de comprovar à empresa o tamanho dos prejuízos. Para o MAB, a proposta da não é suficiente.
"Isso não contempla o que a gente vem lutando, que é justo. A gente acredita que, neste primeiro momento, além do adiantamento, tem que ter uma verba de manutenção emergencial para cobrir esses gastos, que são gastos extras. As pessoas vão gastar seu próprio patrimônio para poder se sustentar nesse momento de desespero", explicou Wuerges.
:: Atingidos por barragens defendem PL que cria política para garantir direitos dessas populações ::
O MAB convidou os atingidos para uma reunião na última quinta-feira (7) para passar orientações e acolher demandas das famílias. A Casan e a Defesa Civil estão cadastrando as pessoas afetadas, e a orientação é para que todos os que tiveram perdas se cadastrem para buscar indenizações. A falta de uma política específica para reparações para esse tipo de incidente dificulta a busca, e o cadastro é uma forma de garantia.
Em outro caso que envolveu a Casan na capital catarinense, o vazamento de esgoto que atingiu a região da Lagoa da Conceição, pessoas que não informaram formalmente suas perdas tiveram ainda mais dificuldade de provar os prejuízos causados e buscar ressarcimento.
"A ferramenta organizativa é o que garante que as pessoas estejam informadas, que consigam participar e também que os danos sejam efetivamente reconhecidos. Essa é nossa experiência histórica, de mais de 30 anos de atuação nesse tipo de caso. Nós não temos nenhuma proteção na legislação, não tem nenhuma instituição, não tem uma ferramenta", resumiu Wuerges.
Algumas famílias foram alojadas em hotéis custeados pela empresa, que aceitou pagar pelas hospedagens após pressão. O MAB cobra que todas as famílias que tiveram as moradias comprometidas, inclusive as que vivem de aluguel, tenham a hospedagem em hotéis garantida por pelo menos 90 dias. Além disso, demanda o registro de todas as perdas para evitar que a limpeza das casas comprometa o levantamento dos pertences destruídos. As demandas fazem parte de uma lista mais ampla, que pode ser lida na íntegra aqui. A Casan não tinha dado retorno ao Movimento até a tarde desta sexta.
Empresa vai vistoriar estruturas
Moradores que foram atingidos pelo vazamento da última quarta-feira já tinham denunciado problemas na estrutura, que começou a operar há menos de dois anos, segundo o MAB. Os reparos paliativos não deram conta. O estrago poderia ter sido maior, já que o reservatório continha água equivalente a apenas um quarto da capacidade máxima.
Na última quinta-feira (7), a direção da empresa afirmou que todos os reservatórios vão passar por vistorias gerais em um prazo de até cinco dias úteis, ou seja, até o próximo dia 14. A Casan afirma que tem aproximadamente 1.030 reservatórios instalados em Santa Catarina, sendo 483 deles de concreto, mesmo material do reservatório rompido na quarta-feira.
A companhia informou ainda que suas equipes técnicas trabalham para avaliar os danos "para que seja definida da forma mais breve possível uma antecipação da indenização das perdas" – o que foi anunciado na reunião desta sexta. O processo conta com apoio de lideranças comunitárias, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Defesa Civil, Secretaria de Estado da Assistência Social, Mulher e Família, Secretaria Municipal de Segurança Pública e Guarda Municipal.
Edição: Geisa Marques