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Tempestade deixa milhares de mortos, desaparecidos e um rastro de destruição no norte da Líbia

Numa única cidade, são encontrados os corpos de pelo menos mil pessoas; Comércio fecha e toque de recolher é decretado

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |

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Destruição em Derna foi causada pelo rompimento de duas barragens, que fizeram submergir praticamente um quarto do município - AFP

Milhares de pessoas morreram depois de uma forte tempestade causar inundações na Líbia. O desastre natural deixou pelo menos 2,3 mil vítimas fatais, segundo autoridades locais, e cerca de 10 mil desaparecidos até o momento, de acordo com a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho. Mas estima-se que as estatísticas podem ser ainda mais altas.

“Os corpos estão por toda parte – no mar, nos vales, sob os edifícios", disse Hichem Chkiouat, ministro da Aviação Civil do governo do leste da Líbia (não reconhecido internacionalmente) e também integrante do Comitê de Emergência criado após as enchentes.

Só na cidade de Derna, banhada pelo mar Mediterrâneo, no norte do país, foram encontrados os corpos de pelo menos mil mortos — ou seja, 1% da população de cerca de 100 mil habitantes. “Bairros inteiros de Derna desapareceram, juntamente com seus moradores. Eles foram varridos pela água", disse Osama Hamad, primeiro-ministro do leste da Líbia.

A destruição em Derna foi causada pelo rompimento de duas barragens, que fizeram submergir praticamente um quarto do município. Gravações feitas com câmeras de telefones celulares mostram uma quantidade enorme de corpos enfileirados em ruas da cidade. Outras filmagens mostram pessoas sendo arrastadas pela correnteza e motoristas tentando se salvar nos tetos dos carros.


Quem sobreviveu agora precisa lidar com os destroços, os danos materiais e o luto pelas milhares de vítimas fatais / AFP

Osama Ali, porta-voz do serviço nacional de emergência, disse que pelo menos 2,3 mil pessoas morreram, mas que a contagem ainda continua. “Regiões inteiras forram varridas do mapa”, afirmou. “Só existe um hospital em Derna e ele está sobrecarregado”.

Segundo ele, equipes de resgate têm dificuldade para alcançar algumas regiões da cidade, porque muitas ruas se transformaram em rios. “Precisamos de suporte logístico para encontrar os desaparecidos. Precisamos de equipes especializadas". No momento em que deu esse depoimento, ele comentou que nenhuma ajuda do exterior havia chegado.

As cidades orientais de Benghazi, Sousse, Derna e Al-Marj também foram afetadas. As autoridades do leste impuseram um toque de recolher. Escolas e lojas foram obrigadas a fechar.

A Líbia está dividida entre duas administrações rivais desde 2014, após o assassinato de Muammar Gaddafi, em 2011. Ambos os governos declararam três dias de luto.

“A infraestrutura não é muito forte. Alguns serviços básicos ainda estão comprometidos e estavam em fase de reconstrução quando veio a tempestade”, explicou ao Financial Times Tamer Ramadan, líder da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na Líbia.

Tempestade Daniel

As enchentes foram causadas pela tempestade Daniel, que está sobre a região do Mediterrâneo. Na semana passada, ela atingiu Grécia, Turquia a Bulgária, matando mais de uma dúzia de pessoas.

No domingo, o Egito estava se preparando para receber a tempestade, mas, à noite, o serviço meteorológico disse que as nuvens de chuva haviam se dissipado na costa noroeste do país. Os líbios, que fazem fronteira com os egípcios, não tiveram a mesma sorte.

Aquecimento global

Suzanne Gray, do departamento de meteorologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, explicou que o aquecimento global tem feito com que haja uma frequência menor dessas tempestades. No entanto, existem “provas consistentes” de que as tempestades mais fortes estão se tornado ainda mais fortes, segundo ela disse à Reuters.

Edição: Thales Schmidt