conflito no campo

Após ameaças de madeireiro, cacique e vigilantes da Terra Indígena Maró pedem ajuda ao MPF

Povo Maró foi recebido em audiência na sede do MPF em Santarém (PA) para pedir proteção e investigação

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Cacique Dadá Borari apresenta a representante do MPF fotos tiradas pelo grupo de vigilantes da Terra Indígena Maró durante o trabalho de monitoramento - Alexandre Arapiun/Comunicação Cita

A terra indígena (TI) Maró, localizada na Gleba Nova Olinda, no município de Santarém, oeste do Pará, é há muito tempo palco de conflitos com madeireiros e fazendeiros, e principalmente com a empresa de madeira Rondobel.

A luta dos povos da TI Maró é histórica, no ano de 2009, foram bloqueadas duas balsas com madeira ilegal, no ano de 2010 Poró Borari foi atacado por cerca de 20 homens na comunidade de Curi, entre outros conflitos que acontecem na região diante dessa luta pela demarcação da TI.

Diante de inúmeros conflitos, em 2014, viu-se a necessidade da criação do grupo de vigilantes da TI Maró. O grupo é composto por cerca de 62 pessoas e atua mensalmente fazendo atividades de monitoramento.

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Nesta segunda-feira (11), o grupo de vigilantes foi ao Ministério Público Federal (MPF) para participar de uma audiência com o novo procurador do MPF.

O encontro no MPF ocorreu principalmente após as ameaças sofridas pelo cacique Dadá Borari e pelo grupo de vigilantes que estavam em ação de monitoramento no último dia 5 de setembro. Estiveram presentes no MPF o Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita), representantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Em sua fala na audiência com o procurador do MPF, Dadá Borari contextualizou a formação do grupo de trabalho de vigilantes da TI Maró, que se iniciou com sete pessoas, e que como o trabalho foi dando certo, o grupo foi crescendo e esse grupo foi o responsável pelo fechamento de uma empresa de madeira que derrubou árvore ilegalmente no Maró. O grupo é formado principalmente por pessoas ligadas à educação, como professores, pedagogos e outros, por entenderem principalmente que os órgãos de fiscalização não educam, e sim geram mais conflitos, e diante disso o grupo prefere o diálogo como alternativa. 

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Dadá Borari explicou ao procurador como se deu a ameaça, que de acordo com o cacique, “no dia 5, a gente foi fazer o processo de plaqueamento das nossas terras, fomos colocar as placas no limite das nossas terras, colocamos, mas, encontramos alguns maquinários como dois tratores, três caminhões e um caminhão tanque, paramos todos eles e dialogamos”. Ainda no processo de plaqueamento da área, o grupo encontrou uma porteira dentro de 2 km da TI Maró, que segundo o cacique Dadá, foi colocada lá pela empresa de madeira Rondobel, que é a empresa que mais extraiu madeira dentro da TI e é uma das maiores causadoras de conflitos da região, pois essa mesma empresa não fez consulta no território para o seu funcionamento.

Em nota, a Rondobel afirmou que "jamais se envolveu ou fomentou, direta ou indiretamente, conflitos com qualquer que seja o movimento social/indígena, porém, sempre se posicionou no sentido de respeitar a lei e a justiça e em todas as vezes em que se sentiu lesada, acionou o Poder Judiciário e viu-se prontamente assistida, com o reconhecimento de seus direitos.". Leia a nota completa aqui

No mesmo dia, o grupo encontrou a área de um madeireiro conhecido como Kiko, dentro da terra indígena, o grupo que estava na área por volta das 9h da manhã do dia 5, foi fazer uma ação de vigilância no entorno da casa, e foi onde encontraram madeiras extraídas por motosserra, bem como um anta, animal morto pela caça ilegal. Ainda na vigilância aos arredores da casa de Kiko, a equipe encontrou vários armamentos municiados, que foram recolhidos e trazidos pelo grupo para Santarém, para serem entregues como provas ao MPF.


Em audiência no MPF, Cacique Dadá Borari apresenta fotos tiradas pelo grupo de vigilantes da Terra Indígena Maró durante trabalho de monitoramento / Alexandre Arapiun/Comunicação CITA

O cacique Dadá apresentou ainda ao procurador as fotos tiradas pelo grupo de vigilantes, dos crimes em curso cometidos por Kiko e expôs a ameaça sofrida através da reprodução do áudio gravado na ligação realizada para o cacique. O cacique relatou ao procurador com a exibição de fotos como provas, que a equipe encontrou ainda uma canoa do caseiro do mesmo madeireiro, que era usada para pesca predatória, na cabeceira do igarapé conhecido como Arraia, assoreado pela retirada ilegal de madeira na região.

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Grupo de vigilantes da Terra Indígena Maró esteve presente na audiência com representantes do MPF / Alexandre Arapiun/Comunicação Cita

O Tapajós de Fato conversou com Lidiane Borari, da Terra Indígena Maró e integrante do grupo de vigilância para entender como ocorreu a ação.

De acordo Lidiane Borari, a ação do grupo encontrou diversos ilícitos com indícios de pesca e caça ilegal, e também de retirada de madeira ilegal dentro do território. Durante essa ação, Lidiane afirma que, “foram encontrados ‘bulldog/bordogues1 (que são armas caseiras) na propriedade do senhor Kiko, assim como encontramos zagaias, malhadeiras, tarrafa e um bote”.

Diante do exposto, Lidiane ressalta que o grupo veio a encontro do procurador no MPF para receber orientações de como agir diante da situação, pois o Cacique Dadá Borari recebeu uma ligação do madeireiro conhecido como Kiko que o ameaçou e estendeu a ameaça para o grupo de vigilantes da TI Maró, e de acordo ainda com Lidiane, “ninguém tinha orientação jurídica sobre o que fazer e como proceder, foi por isso a procura pelo Ministério Público, para ouvir as orientações e sair um pouco mais consciente do que fazer e como agir, se a gente encontrar novas irregularidades dentro do território”.

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O cacique Dadá Borari, alvo das ameaças do madeireiro, conversou com o Tapajós de Fato e explicou que já sofre com ameaças desde 2002, e que no dia 6, sofreu mais uma, desta vez de “Kiko”. Dadá revela que “essas ameaças sempre existiram, mas, agora estão se intensificando cada vez mais”, e que em relação à última “eu registrei um boletim de ocorrência, esse boletim de ocorrência já foi publicado. Nós também iniciamos o processo de denúncia que também foi publicado. E agora, vamos buscar o programa de proteção aos direitos humanos e informar o ocorrido a eles”.


Cacique Dadá Borari, da Terra Indígena Maró / Alexandre Arapiun

Dadá Borari explica ao Tapajós de Fato ainda que, as ameaças que sofreu têm relação com a riqueza e biodiversidade que é possível ser encontrada na Terra Indígena Maró, além da madeira, e que foi justamente por essa madeira que o senhor Kiko que possui propriedade dentro da TI o ameaçou, pois o mesmo não quer a permanência dos indígenas no local, este local que pertence aos povos indígenas da TI Maró, por isso, o cacique ressalta que “as ameaças que têm ocorrido são muito sérias, pois ele não ameaça mais a mim pessoalmente, mas sim o nosso grupo de vigilantes”.

E quanto às armas recolhidas pelo grupo de vigilantes, o cacique afirmou que foram entregues à polícia e ao MPF, e espera conseguir que o caso avance.