"Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro."
Cachaça é coisa séria. A definição do parágrafo anterior consta do decreto 6.871, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2009, durante seu segundo mandato. A bebida "típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil" tem até um dia próprio: 13 de setembro.
A origem da data, inclusive, mostra como a cachaça (em alguns lugares conhecida por pinga – ou por apelidos carinhosos, como "caninha", "marvada", "mé" e muitos outros) está diretamente ligada à história do Brasil. A referência é o ano de 1661. Sim, isso mesmo, mais de 360 anos atrás.
É muito provável que a cachaça tenha sido criada ainda no século XVI, por negros escravizados em fazendas de cana e engenhos de açúcar. Por muito tempo considerada uma bebida que não era adequada à nobreza, ela foi proibida pela corte portuguesa, visando proteger a bagaceira, destilado de uva tradicional do país, da concorrência do aguardente nascido na colônia.
Entre idas e vindas na proibição da produção da bebida, houve uma rebelião, que, não por acaso, foi mais tarde batizada de Revolta da Cachaça. No Rio de Janeiro, onde legislação local permitia a fabricação e a venda, a reclamação era contra altos impostos. Após muitos meses, a cachaça voltou a ser permitida definitivamente em 13 de setembro de 1661, daí a data.
Produtos da reforma agrária
Vencidos todos os preconceitos e proibições, a cachaça hoje é orgulho nacional. Encontrada em diversas formas e cores, ela é consumida pura; com gelo, limão e açúcar, na tradicionalíssima caipirinha; em outros drinks; e é usada também em receitas. Em suma, uma bebida versátil.
Nas prateleiras do Armazém do Campo, por exemplo, são encontradas marcas que já se tornaram tradicionais, produzidas por camponeses de assentamentos da reforma agrária: Campesina; Vidas Secas - Lula Livre!; Veredas da Terra; Camponeses... A lista de rótulos é grande.
Produzida pela Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi) no assentamento Santa Maria em Paranacity (PR), a cachaça da marca Camponeses, artesanal e orgânica, é armazenada em diferentes tipos de barris antes de ser engarrafada: amburana, bálsamo, carvalho e aço. São 25 famílias envolvidas na produção de 15 mil litros da bebida por ano.
"A cana de açúcar orgânica, após colhida, é transportada até a agroindústria. Passa pelo processo de moagem, filtragem do caldo e depois vai para tanques de fermentação. Após a fermentação, é colocada no alambique para destilação. Terminado o processo de destilação temos a cachaça, que é colocada nos barris para armazenamento. Após seis meses ou mais, a cachaça é padronizada e destinada para o envase e segue para o estoque e venda", conta Valmir Stronzake, um dos produtores.
Outra marca reconhecida em várias partes do país é a Veredas da Terra, que vem dos assentamentos Estrela da Terra e Darcy Ribeiro, em Montes Claros (MG). Além de ser oferecida nas lojas do Armazém do Campo, ela é enviada ao Rio Grande do Sul, onde é trocada por produtos como suco de uva e arroz.
"Para nós é muito satisfatório, você ser reconhecido nos estados onde passa. Falam 'Veredas', o povo já conhece bastante, é um produto bem conhecido. É muito satisfatório para nossa cooperativa ter produtos que são reconhecidos no Brasil inteiro", orgulha-se um dos produtores, Rodrigo Tiago.
Edição: Nicolau Soares