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G77 + China: Cuba se prepara para sediar o maior evento multilateral do Sul Global

Havana receberá Lula e outros presidentes da América Latina e África para discutir posições conjuntas

Habana (Cuba) |
O chanceler cubano fala sobre o G+77 em coletiva de imprensa - Fonte: EFE Autor: Ernesto Mastrascusa

Nos dias 15 e 16 de setembro, será celebrada em Havana a Cúpula do G77+ China com o objetivo de acordar posições e demandas comuns em termos de cooperação, desenvolvimento e multilateralismo. Trata-se da maior organização intergovernamental de países do Sul Global dentro da Organização das Nações Unidas (ONU).

"A cúpula tem como objetivo avaliar e debater os principais desafios e questões centrais do desenvolvimento das nações do Sul [Global] e a contribuição indispensável da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento", declarou o ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (13). 

Rodríguez acrescentou que "esperamos que a próxima cúpula em Havana contribua para fortalecer a voz do G77 + China na atual situação internacional, como parte dos processos de negociação intergovernamental relevantes que ocorrerão em breve. Isso inclui a Cúpula sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP28 (...)".

O que é o G77? 

O Grupo dos 77 países foi fundado em 1964, quando foi assinada uma declaração conjunta em Genebra, na primeira sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Essa declaração defendia os interesses desses 77 países do Sul Global em relação ao sistema de comércio internacional. 

Com o passar do tempo, outros países foram aderindo. Cuba entrou em 1971 e a China em 1992. Atualmente, é uma coalizão de 134 estados-membros, que representam 80% da população mundial.

Participação na cúpula 

O evento contará com a participação de mais de cem delegações diplomáticas e governamentais de alto nível da África, Ásia, América Latina e Caribe. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, participará da inauguração do evento, ao lado do Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. 

Ao confirmar sua participação, Guterres garantiu que "se não agirmos agora, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável podem se tornar o epitáfio de um mundo que poderia ter sido. Essa questão é de importância vital para o G77 e para a China". Ele também disse que sua presença estava focada em "garantir que o multilateralismo beneficie todos os países".

Uma das figuras mais aguardadas na ilha é Luiz Inácio Lula da Silva, que chegará a Cuba após vários meses de aproximação diplomática e comercial entre os dois países. A presença do presidente brasileiro na ilha significa uma retomada das relações históricas entre os dois países, depois de terem sido interrompidas durante a presidência de Jair Bolsonaro.

Entre os presidentes latino-americanos que participarão do evento estão os líderes de Argentina (Alberto Fernández), Bolívia (Luis Arce), Colômbia (Gustavo Arce), entre outros. O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e delegações da Índia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, entre outros, também participarão. 

O que se espera da cúpula?

Consultada pelo Brasil de Fato, Claudia Marin, pesquisadora do Centro de Pesquisa de Políticas Internacionais, afirma que "a realização da cúpula é, por si só, uma vitória diplomática de Cuba diante da política de bloqueio". 

"O fato de delegações de todo o mundo virem a Havana para discutir questões tão importantes para o Sul Global mostra a enorme capacidade diplomática que Cuba conseguiu construir", acrescenta. 

De acordo com o Centro de Pesquisa de Políticas Internacionais, há meses Cuba vem coletando e construindo o consenso necessário para a declaração final, que está delineada no esboço: "Os desafios atuais do desenvolvimento: o papel da ciência, tecnologia e inovação". 

A declaração, que deverá ser adotada no sábado, dia 16, inclui as questões e demandas mais urgentes com o objetivo de reduzir a lacuna tecnológica e científica entre o norte e o sul globais. Dessa forma, o objetivo é coordenar ações e propostas a serem feitas em conjunto em organizações internacionais. 

Edição: Thales Schmidt