O golpismo está no banco dos réus, e dessa vez, a elite verde-oliva dificilmente sairá impune
Olá, o golpismo está no banco dos réus, e dessa vez, a elite verde-oliva dificilmente sairá impune. E, enquanto o Judiciário ajusta contas com o passado, o governo olha para o futuro.
.O quinto réu. O julgamento dos quatro primeiros réus que participaram do 8 de janeiro é mais um capítulo da longa novela iniciada com o impeachment de Dilma em 2016. Vale lembrar que não só o então juiz e agora medíocre senador Sérgio Moro participou da aventura contra Dilma e Lula, mas o próprio STF acalentou o ovo da serpente, afiançando medidas no mínimo duvidosas, seja no impeachment ou na operação Lava Jato. Portanto, o que admira não é saber que houve magistrados e juízes que participaram dos atentados de 8 de janeiro, e sim que o CNJ esteja investigando o caso. Mas, talvez porque a escalada tenha chegado ao nível de ameaçar seriamente a cúpula do Judiciário, como evidencia o plano para assassinar ministros com o uso de snipers, o STF resolveu dar um fim no esqueleto no armário. O próprio julgamento é simbólico, já que o advogado do primeiro réu, o desembargador Sebastião Coelho da Silva, certa vez defendeu que Moraes fosse preso num QG do exército. Agora ele afirma que o julgamento é político e acusa o STF, o que não foi uma boa estratégia de defesa, mas mostra que o golpismo ainda não se dobrou. Até aqui, dentro e fora dos tribunais, o mais convicto de que todas as raízes do golpismo devem ser arrancadas é o próprio Alexandre de Moraes, que cobra do Congresso a regulação das mídias para que as Big Techs possam ser responsabilizadas pela disseminação de notícias falsas ou ameaças à ordem democrática.
.Wagner à brasileira. Antes de desafiar Putin e se dar mal, o grupo de mercenários russos ficou famoso na guerra da Ucrânia. Já, aqui, a tropa veste farda oficial, pinta meio-fio, não faz guerra, mas cobra um preço alto em pensões, cerveja, picanha e leite condensado para apoiar um presidente e não incomodar outro. Porém, o plano dos militares de entregar os anéis (e outras jóias) junto com Bolsonaro para salvar os dedos está cada dia mais distante. Afinal, se as últimas revelações já vinham mostrando a sujeira debaixo do tapete do alto generalato, agora a delação premiada de Mauro Cid promete colocar o alvo no peito do alto escalão, dentre eles, o gen. Luiz Eduardo Ramos, e o estrategista do bolsonarismo, o gen. Heleno. Na hora do salve-se-quem-puder, os generais já cogitam sacrificar um colega que tem mais motivos para se preocupar: ao puxar o fio da intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018, não é que a PF encontrou na ponta o gen. Braga Netto? A suspeita é de ele esteja envolvido com fraude na compra de coletes à prova de bala. O risco agora é que a quebra do sigilo telefônico do general traga mais novidades. Com isso, a sonhada carreira política do ex-futuro vice-presidente pode ir por água abaixo junto com sua pretensão de concorrer a um cargo federal nas eleições de 2026. Mais um tiro no pé do PL, que ainda terá que administrar acusações contra o senador Flávio Bolsonaro vindas da delação premiada de Mauro Cid. E depois que a caixa de Pandora foi aberta, será difícil fechá-la. Como os peixes fisgados são graúdos, a estratégia do Alto Comando militar de “fulanizar” as responsabilidades e poupar a corporação vai ficando inviável. Até a CPMI, que prometia terminar meio morta, pode ganhar ânimo na reta final, com generais sentados como depoentes tendo que responder a perguntas indesejadas dos parlamentares. É claro que o pavor tomou conta da caserna, não tanto pela queda da confiança da população nos militares, mas muito mais pelo risco da perda de poder e privilégios. A sorte é que eles não são os Wagner e Lula não é Putin.
.Vôo de águia ou de galinha. Com o bolsonarismo e o partido militar sendo tratados como questão policial e o centrão acomodado, tudo indica que o governo vai ter o restante do ano para se concentrar no que realmente sempre preocupou o Planalto, a recuperação da economia. Até aqui, a volta dos investimentos sociais e as quedas sucessivas na inflação vinham contrariando as previsões sempre pessimistas do mercado, como detalha Paulo Nogueira Jr.. Aliás, só o fato de ter um governo com capacidade de planejamento e alguma previsibilidade já foram suficientes para animar investidores. O problema é que o crescimento é de fôlego curto e a formação bruta de capital fixo e a taxa agregada de investimento ainda estão fracos. Daí a importância das outras cartas que o governo têm para apostar, especialmente o PAC, mas também o novo programa automotivo, a liberação de recursos para os municípios e o sucesso do Desenrola Brasil. Porém, há outros fatores que podem atrapalhar a recuperação, começando pela intransigente postura do BC com a queda de juros, a pressão dos preços dos combustíveis que a Petrobras vem segurando e a busca pelo déficit zero no próximo ano. Neste último tema, há poucas apostas de que o governo vá atingir a meta e o mercado já avisou que, neste caso, são os investimentos sociais que devem ser cortados, num cenário em que nem a bancada petista apoiaria o governo. Ainda assim, com tanta demanda reprimida, nos cálculos de Paulo Nogueira, um crescimento de 4% já seria suficiente para o país sair da estagnação e se manter como a oitava economia do mundo.
.Centrão paz e amor. Um fator importante para retomar a economia é o fato de que nenhuma turbulência se avizinha nas pautas políticas e parlamentares. Com o centrão contemplado na Esplanada, muito dificilmente o governo terá qualquer coisa parecida com uma oposição organizada. Com o alto escalão fardado do bolsonarismo acertando as contas com a justiça, sobram pouco para os peixes pequenos, por mais que as pautas conservadoras sempre possam ser retomadas. E, por enquanto, a aprovação da minirreforma eleitoral, cheia de retrocessos, especialmente nas cotas e nas prestações de contas, une gregos e troianos. Além disso, a partir de agora, as movimentações com vistas às eleições municipais devem ocupar as pautas de governistas e oposicionistas, com vantagens para quem estiver mais próximo da chave do cofre da União. Com o Congresso em ritmo mais lento, as preocupações de Lula se voltam para outro poder, o judiciário, com a escolha de novos ocupantes da PGR e do STF. Aqui, o problema é a delicada aliança do presidente com o centrão de toga. Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes têm seus preferidos para todas as vagas, o PT também e a militância se divide se é justo ou não exigir uma mulher negra para a vaga no Supremo. Para se ter ideia do enrosco, na PGR, os petistas preferem Antonio Carlos Bigonha, que por sua vez é considerado um aliado do lavajatista Rodrigo Janot (quem se lembra?) e alvo de Gilmar Mendes, que prefere Paulo Gonet. Como sempre, a definição final caberá ao próprio Lula, que desta vez não tem um nome de sua extrema confiança, como Cristiano Zanin, para as duas vagas. E no caso do Supremo, há pouca margem de manobra para o STF. Além dos históricos desacertos quando o assunto é indicar um ministro para o STF, Lula ainda busca nomes que possam contemplar os desejos da dupla Moraes e Mendes e a opinião da militância.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.50 anos do golpe no Chile. N’A Terra é Redonda, confira a apresentação do livro de Ronaldo Pagotto, lançado esta semana pela Editora Expressão Popular.
.É hora de o Brasil reconhecer seu papel na destruição da democracia do Chile. Na Folha de S. Paulo, Roberto Simon lembra da participação militar do Brasil no golpe de 1973 e a sustentação econômica e diplomática dada à ditadura chilena.
.Metade dos mais ricos do Brasil moram fora; paraíso europeu é o favorito. Veja quem são, qual a fortuna e onde vivem os dez maiores bilionários brasileiros. No Uol.
.Jodie Evans: “Apenas continuamos sendo as mulheres clamando por paz”. Conheça o CODEPINK, movimento feminista anti-imperialista que luta contra as guerras mundo a fora.
.As propostas de Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, para a gestão de Lula no G20. Tributação das transnacionais, reforma do FMI e outras ideias. Na Carta Capital.
.Onde estarão os “desaparecidos” do Brasil? Mais de 200 mil pessoas desapareceram no Brasil em três anos. Por que não se fala disso? No Outras Palavras.
.Jesus motivacional: quem são os 'coaches evangélicos'. Eles prometem prosperidade, sucesso e superação dos limites em nome de Jesus. Na BBC.
.Sobre os Retratos Fantasmas. No Esquerda Diário, Pedro Costa analisa o filme brasileiro indicado ao Oscar.
Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Vivian Virissimo