CRISE HUMANITÁRIA

República Dominicana fecha fronteira com Haiti

Aflitos com a violência das gangues, haitianos têm entrado no país vizinho em busca de voos e serviços básicos

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Mulher ferida durante manifestação contra o alto custo de vida no Haiti chega ao hospital na comuna de Petit-Gôave, a oeste da capital Porto Príncipe - Richard PIERRIN / AFP - 14/9/2023

A República Dominicana fechou por tempo indeterminado a fronteira com o Haiti, ampliando o isolamento do país vizinho, que vive uma grave crise humanitária. Gangues armadas já controlam a maior parte da capital Porto Príncipe, situação que leva muitos haitianos a tentar sair do país.

O governo dominicano alega que tomou essa decisão por discordar de um plano para desviar águas de um rio comum, chamado Massacre, que violaria o acordo de fronteira. Trata-se de um projeto privado, que não conta com aval das autoridades haitianas e teria como objetivo vender água a agricultores. O Haiti acusa a decisão de ser unilateral, já que os dois países têm conversado sobre o conflito e buscado soluções.

A República Dominicana fechou sua fronteira com o país vizinho pela última vez após o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em 2021. Desde então, o presidente dominicano, Luis Abinader, tem bloqueado ocasionalmente partes da fronteira e começou a construir um muro entre os dois países.

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Com apoio de parte da população, o governo dominicano adota uma política de baixa tolerância contra imigrantes haitianos, que chegam num volume de 250 a 300 por dia, segundo estimativa de ONGs locais. Na última segunda-feira (11), a emissão de vistos para haitianos foi suspensa.

De acordo com especialistas da ONU, mulheres gestantes e puérperas que buscavam atendimento médico na República Dominicana teriam sido presas enquanto realizavam exames e deportadas. Além de serviços básicos, como saúde, haitianos cruzam a fronteira em busca de voos, já que poucos partem do Haiti.


Mulher ferida por tiros aguarda atendimento em hospital no Haiti: muitas haitianas têm buscado atendimento na República Dominicana, onde são deportadas / Richard PIERRIN / AFP - 14/9/2023

"A República do Haiti tem soberania sobre a exploração de seus recursos naturais. Assim como a República Dominicana, com a qual compartilha o rio Massacre, ela tem o pleno direito de fazer captações (retiradas de água) ali, de acordo com o acordo (bilateral) de 1929. O governo da República do Haiti tomará todas as medidas necessárias para proteger os interesses do povo haitiano", disse o governo haitiano em um comunicado.

Histórico e discriminação

Há meses, a República Dominicana vem tentando impedir a migração de haitianos. Inclusive, a posição do país no Caricom (Mercado Comum e Comunidade do Caribe) é que "os Estados Unidos e outras potências deveriam intervir no Haiti".

O relacionamento entre os vizinhos sempre foi turbulento. Há uma discriminação forte por parte de uma parcela dos dominicanos, o que gera terreno fértil para uma propaganda que diz que "o Haiti invade a República Dominicana".

A ditadura de Rafael Trujillo na República Dominicana (1930-1961) sempre foi contrária ao Haiti. Em 1937, ele organizou um massacre contra os haitianos e todos os negros que se pareciam com haitianos, alegando que havia o perigo de a República Dominicana se tornar "haitianizada". Grupos de ódio contra haitianos se formaram na época.

Em 2015, o governo dominicano, então sob comando de Danilo Medina (2012-2020), alegou que os haitianos estavam entrando na República Dominicana "como se estivessem na sua própria casa".

Cuba

A fronteira fechada para haitianos deverá respingar em Cuba, onde existe uma grande comunidade haitiana, que vem crescendo nos últimos anos, com o agravamento da crise. Em geral, os haitianos são bem recebidos, inclusive como força de trabalho em potencial. No entanto, Cuba tem dificuldade para gerenciar o fluxo de pessoas, consequência da crise econômica do país.

Embora Cuba mantenha uma política de "compartilhar o que tem e não apenas o que sobra", o país tem enfrentado crises energéticas e dificuldades no fornecimento de produtos de primeira necessidade.

(Com informações da Folha de S.Paulo)

Edição: Thales Schmidt