O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (19), afirmou que a Rússia não tem o direito de possuir armas nucleares.
De acordo com ele, "o século XX ensinou o mundo inteiro a abster-se de usar armas nucleares, a não utilizá-las ou ameaçá-las".
"A Ucrânia desistiu do seu terceiro maior arsenal nuclear. Então o mundo decidiu que a Rússia deveria tornar-se a guardiã desse poder", disse Zelensky, referindo-se ao Memorando de Budapeste concluído em 1994.
"No entanto, a história mostra que foi a Rússia quem mais mereceu o desarmamento nuclear na década de 1990. E merece-o agora. Terroristas não têm o direito de possuir armas nucleares", acrescentou.
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É a primeira vez que o presidente da Ucrânia participa presencialmente da Assembleia Geral da ONU em Nova York desde o começo da guerra. No ano passado, sua participação aconteceu de forma remota.
Em discurso dominado por críticas à Rússia, Zelensky acusou a Rússia de ser um país "agressor" e iniciar uma nova guerra a cada década. "Partes do território da Moldávia e da Geórgia permanecem ocupadas. A Rússia transformou a Síria em ruínas. A Rússia quase engoliu Belarus, ameaça o Cazaquistão e os países bálticos", disse ele.
O presidente da Ucrânia também criticou duramente a Rússia por utilizar recursos energéticos como arma. "O mundo testemunhou a Rússia usar óleo e gás para enfraquecer líderes de outros países. E agora essa ameaça é ainda maior. A Rússia está usando energia nuclear como arma, está tornando usinas de energia de outros países como bombas. Veja o que eles fizeram com a nossa usina de Zaporozhye", afirmou, se referindo à ocupação russa da usina nuclear da região de Zaporozhye, anexada por Moscou em 2022.
Zelensky também abordou o tema da segurança alimentar. De acordo com ele, "os portos ucranianos foram bloqueados pela Rússia, o Dnieper continua a ser alvo de drones", observou o líder ucraniano.
De acordo com ele, Moscou está usando a crise alimentar como arma para forçar outros a reconhecer os territórios ucranianos ocupados como parte da Rússia.
"Espero que muitos de vocês apoiem a nossa iniciativa de preservar as rotas terrestres para as exportações de cereais", disse o presidente da Ucrânia.
Apelo por 'fórmula de paz' ucraniana
Além disso, Zelensky apelou aos Estados para que se juntassem aos preparativos para uma cúpula sobre a "fórmula de paz" proposta pela Ucrânia.
Ele lembrou que, no ano passado, primeiro na Assembleia Geral e depois na cúpula do G20, apresentou em termos gerais a "fórmula de paz" ucraniana como forma de acabar com a guerra.
"Durante o ano passado, a fórmula de paz tornou-se a base para a atualização da arquitetura de segurança existente. Podemos agora reviver a Carta da ONU e garantir a plena força da ordem mundial baseada em regras", disse.
Zelensky acrescentou que a "fórmula de paz" foi apoiada total ou parcialmente por mais de 140 Estados e organizações internacionais, e as suas disposições poderiam tornar-se a base para pôr fim a outros conflitos mundiais.
A expectativa é que a "fórmula de paz" ucraniana seja justamente um dos temas da reunião bilateral entre Zelensky e o presidente Lula nesta quarta-feira (20). Será o primeiro encontro presencial entre os dois líderes.
O plano de paz de Zelensky prevê a garantia da segurança nuclear, alimentar e energética da Ucrânia, a troca de "pessoas detidas" respeitando a fórmula "todos por todos", a restauração da integridade territorial da Ucrânia, a retirada das tropas russas e a cessação das hostilidades.
A Rússia, no entanto, rechaça as condições ucranianas. Em maio deste ano, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, declarou que as ideias de Zelensky não são um plano de paz e sim "mais um manual americano para fomentar conflitos na Europa".
Edição: Thales Schmidt