O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) encerra nesta quarta-feira (20) sua sexta reunião do ano para definir o patamar da taxa básica de juros da economia nacional, a Selic. No quinto encontro, em agosto, o órgão reduziu a taxa de 13,75% ao ano para 13,25% ao ano. Sinalizou, inclusive, que pretende fazer novos cortes de 0,5 ponto na Selic nesta e nas próximas reuniões.
Essa sinalização, no entanto, ocorreu antes do cenário da inflação do país mudar. De janeiro a junho, o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma desaceleração, abrindo espaço para uma política monetária mais flexível do BC. De julho em diante, o IPCA voltou a subir e, em agosto, já acumulava 4,61% nos últimos 12 meses – o que, em tese, poderia fazer o BC reduzir o ritmo da queda da Selic.
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O órgão é o responsável pelo controle dos preços no Brasil. Usa a Selic para controlar aumentos em épocas de inflação alta.
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que esse não é o caso da inflação do Brasil hoje. Ele reconhece que o índice cresceu nos últimos meses, mas está controlado. Para Weiss, não há motivos que justifiquem um corte menor que 0,5 ponto da Selic neste mês.
"Primeiro porque a taxa de juros ainda está em um patamar muito alto, a taxa de juros real [juros menos a inflação] mais alta do mundo", argumentou. "Depois, porque esse aumento da inflação já era esperado, levando em conta os reajustes da Petrobras, por exemplo."
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O economista Miguel de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), também não crê que a alta recente da inflação vá reduzir o ritmo de cortes de Selic. Ele ressalta, porém, que a taxa poderia cair ainda mais se não fossem os aumentos de preços recentes.
"Se a inflação tivesse vindo mais baixa, isso poderia pressionar o Banco Central para reduzir num percentual maior do que 0,5 esperado. Talvez, 0,75 ponto percentual", afirmou.
Economistas de bancos ouvidos pelo BC na semana passada esperam que a taxa Selic seja mesmo cortada em 0,5 ponto percentual neste mês. A previsão está registrada na última edição do Boletim Focus, divulgada na segunda-feira (18).
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Esses mesmos economistas apostam num novo corte de 0,5 ponto em novembro e outro do mesmo tamanho em dezembro. Desta forma, a taxa básica de economia nacional terminaria o ano em 11,75% ao ano.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já afirmou que vê espaço para que a Selic seja reduzida para em torno de 10% ao ano. Os economistas ouvidos semanalmente pelo BC estimam que ela esteja em 9% ao ano no final do ano que vem.
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Meta de inflação
O BC diz fixar a Selic buscando cumprir as metas de inflação estabelecidas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Para 2023, a meta é que a inflação feche o ano em 3,25%, com tolerância de até 1,5 ponto para mais ou menos –ou seja, até 4,75%.
O próprio governo já não acredita que essa será cumprida. Na segunda-feira (18), a Secretaria de Política Econômica (SPE) informou que o índice deve fechar o ano de 2023 em 4,85% – ou seja, 0,1 ponto acima do estabelecido.
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Economistas ouvidos pelo BC estimam 4,86%, também acima da meta.
André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse a meta de inflação deste ano será ultrapassada. Para ele, porém, neste momento, a autoridade monetária já está preocupada com a inflação de 2024 e 2025. Não haveria, portanto, motivo para manter a Selic como está.
"Já se aceita que a meta vai ser violada", afirmou. "Isso já está dado desde março, pelo menos. Então, não há novidade que justifique o BC apertar a política monetária ou mudar seus planos de reduzir a Selic gradativamente."
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Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse que o sistema de metas de inflação do Brasil tem problemas pois desconsidera crises pontuais, como o choque de preços do petróleo e derivados causado pelo início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Para 2025, aliás, esse sistema de metas já será diferente, não mais perseguindo um número ao final de cada ano, mas sim uma taxa contínua.
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Para 2024, economistas ouvidos pelo BC estimam que a inflação feche o ano em 3,86%. Neste caso, ela estaria dentro da meta de 3%, mais 1,5 ponto percentual de tolerância – limite máximo de 4,5% ao final do ano.
Edição: Thalita Pires