De pai para filho, a Faraoh Records é produtora e estúdio em Curitiba (PR) que atende cerca de dez artistas negros paranaenses. Recentemente, o espaço também começou a receber shows e eventos voltados para a juventude negra, nos fins de semana, além de cursos voltados para a produção musical independente.
Luan dos Santos, o Lulo, e seu sócio Gabriel é quem estão à frente da Faraoh Records desde 2018 e, apesar, das perseguições de cunho racista que relatam estarem sofrendo na cidade, querem expandir o espaço, pois o objetivo é difundir a arte da juventude negra, com destaque para o hip hop.
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A história da Faraoh Records começa com o pai de Lulo, que, em 2013, de funcionário tornou-se proprietário da gravadora. Em 2018, Luan passou a morar com o pai na gravadora e, lá, todos os fins de semana, ele e amigos — entre eles, o atual sócio — ouviam e compunham rap. Quando foi decretada a pandemia de covid-19, o pai de Lulo resolveu ir embora e, assim, a gravadora começou a ser administrada pelo filho.
“Foi nesse ponto que eu e o Gabriel começamos a administrar a gravadora. Em 2022, fomos para uma casa maior, no Centro Cívico, com mais espaço, e expandimos o trabalho com o patrocínio da Budweiser, atendendo, hoje, cerca de dez artistas, todos locais, de Curitiba”, conta. Além dos artistas, Lulo cita que a equipe tem 90% de profissionais negros. “Nós primamos pela valorização em todos os sentidos da racialidade”, diz.
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Perseguições racistas
No início de 2023, também junto a artistas que se reuniam na gravadora, começaram a realizar festas nos fins de semana e cursos voltados para artistas independentes. Apesar da alegria que relata estarem vivendo por verem o espaço cada vez mais ocupado e cumprindo seu objetivo, começaram a sofrer também perseguições de cunho racista.
“Em maio, em uma primeira festa que acontecia no horário de respeito à Lei do Silêncio, das 17h às 22h, a polícia chegou lá no final por causa de denúncias. Mas verificou que estava tudo certo e nada aconteceu. Logo depois, realizamos um Baile Charme, também no mesmo horário, mas aí a polícia chegou no meio do evento com muita truculência. Pediram alvará, viram que estava tudo certo, mas acabaram com a festa”, relata Lulo.
Já em julho, após uma reunião de professores negros de um curso que seria realizado no espaço, o Setor de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba foi até a casa para verificar o alvará. “Falaram também que vieram por causa de denúncias e pediram algumas alterações no alvará, que já foi resolvido”, disse.
Em agosto deste ano, mais uma dificuldade no caminho quando a Imobiliária pediu a casa novamente. “Agora, a gente está vendo a questão jurídica porque fizemos várias melhorias no lugar e o contrato. Inicialmente, estava como tempo indeterminado. Mas isso tudo faz parte dessa perseguição mesmo de racismo estrutural na cidade”, cita.
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Luta para consolidar o espaço
Apesar das dificuldades, Lulo diz que quer lutar para manter o espaço no mesmo endereço. Mas, caso não aconteça, deseja apoio da comunidade para conseguir continuar o trabalho e consolidar a Faraoh Records como um espaço voltado para a arte negra, com destaque para o hip hop.
“Queremos contar a nossa história, para que mais e mais pessoas nos apoiem. E para que os nossos artistas não precisem sair da cidade para buscar reconhecimento”, diz Lulo. Ele diz também estar buscando ajuda de parlamentares para viabilizar apoio e cita a deputada federal Carol Dartora (PT) e o deputado estadual Renato Freitas (PT).
A Faraoh Records disponibiliza para os artistas, além do espaço, toda a estrutura e assessoria para que possam gravar suas músicas. Leticia dos Santos é uma das artistas assessorada pela Faraoh e diz que o espaço foi essencial para trilhar o caminho da música.
“A Faraoh foi essencial para eu poder começar a minha carreira e trilhar um caminho que condiz com o que eu quero. Eu abracei muito as referências e ideias que meu produtor Gabriel Viana trazia. Vem sendo muito importante, também pela oportunidade que eu tenho de ter acesso fácil a um estúdio, com os equipamentos e produção musical excelente, fora o espaço para fazer shows em eventos que organizamos ali dentro mesmo,” relata.
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Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini