PROCESSO ARQUIVADO

UFPB recomenda que professor não use camisetas do MST; docente denuncia perseguição

Servidor há 15 anos, professor de medicina diz ser perseguido por se opor à reitor "biônico" indicado por Bolsonaro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Professor alvo de denúncia na UFPB diz que usa camiseta do MST como manifestação pessoal de cidadania - Divulgação/Luciano Bezerra Gomes

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) arquivou o processo administrativo contra o professor Luciano Bezerra Gomes. O procedimento interno foi aberto porque o docente vestiu uma camiseta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em sala de aula.

Embora reconheça não ter havido atitudes ilegais ou irregulares por parte do professor, a Ouvidoria da UFPB recomendou que ele ou outros docentes não utilizem roupas que provoquem "conflitos" nas dependências da Universidade.

"Recomenda-se sugerir a docentes se apresentarem com vestimentas que não possam produzir conflitos dessa natureza novamente", escreveu o ouvidor da UFPB Hermann Atila. 

Professor do curso de Medicina da UFPB há 15 anos, Luciano afirmou ao Brasil de Fato que é alvo de perseguição por fazer oposição política à gestão da Universidade. Ele recebeu apoio do sindicato docente da UFPB, a ADUFPB, e também do MST.

:: 'Denúncia infundada', diz professor da UFPB alvo de processo administrativo por usar camiseta do MST em sala de aula ::

"Perseguição não só a mim enquanto pessoa física, mas à própria noção da universidade como um espaço democrático, plural, onde se fomenta o debate de ideias, onde se valoriza e respeita o direito constitucional de liberdade de pensamento e de expressão", afirmou o docente. 

Docente diz ser perseguido por fazer oposição a reitor "biônico"

O servidor faz parte do Departamento de Promoção da Saúde do Centro de Ciências Médicas (CCM), onde leciona no curso de medicina da instituição há 15 anos. Ele também coordena o mestrado em Saúde Coletiva da UFPB e é responsável por um projeto de extensão aprovado pela Universidade que dá apoio ao setor de saúde do MST na estado.

Luciano diz ser perseguido por fazer oposição ao reitor "biônico" da UFPB, Valdiney Gouveia, que foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mesmo tendo sido o último colocado nas eleições de 2020. Na época, alunos da Universidade se acorrentaram na porta da reitoria em protesto contra a nomeação do reitor.

:: Uma ideia na cabeça: boné do MST ganha cada vez mais adeptos e é sucesso de vendas ::

"Eu sou uma das pessoas que se colocou sempre de maneira muito explícita contra essa ação do governo federal de colocar um reitor ilegítimo indicado por um governo autoritário, antidemocrático e que desrespeitou a autonomia universitária", disse o professor de medicina. 

Luciano sustenta ainda que o uso da camiseta do MST não provocou nenhum conflito em sala de aula. No processo administrativo, ao qual a reportagem teve acesso, não há menções a situações conflituosas. 

"Não houve nenhum tipo de situação animosa da parte minha, nem da parte dos discentes ou de quem quer que tenha sido autor, autora dessa denúncia", relata o docente. 

Denúncia diz que professor fez "propaganda política"

A denúncia contra Luciano foi protocolada em 31 de agosto de 2023. De acordo com o denunciante, o professor também teria feito "propaganda política" por meio de slides com o logotipo do movimento. 

O professor diz não ter usado símbolos do MST no material didático e justificou que eventualmente precisa utilizar seu computador pessoal em sala de aula, por causa do sucateamento da estrutura fornecida pela universidade. Conforme Gomes, seu notebook particular tem fotos do projeto de extensão na área de trabalho.

Outro lado

O Brasil de Fato solicitou posicionamento à reitoria da UFPB. Quando houver resposta, a reportagem será atualizada. 

Edição: Camila Salmazio