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E viva a jabuticaba!

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É uma injustiça: deviam dizer que “é uma jabuticaba” para se referir a alguma coisa legal que só tem aqui - Creative Commons
As pessoas às vezes davam uma jabuticabeira para algum amigo especial

No dia 7 de setembro, depois dos desfiles comemorativos da Independência, o presidente Lula divulgou um vídeo colhendo e comendo jabuticabas de uma jabuticabeira que ele mesmo plantou no seu segundo mandato presidencial. Isso me fez lembrar muitas coisas relacionadas à jabuticaba. 

Um hábito recente de pessoas que querem falar mal de alguma coisa que só acontece no Brasil, é dizer que “é uma jabuticaba”, porque essa fruta é natural daqui. É uma injustiça: deviam dizer que “é uma jabuticaba” para se referir a alguma coisa legal que só tem aqui. 

No meu tempo de criança, havia um costume que até hoje admiro muito: as pessoas às vezes davam uma jabuticabeira para algum amigo especial. O meu pai ganhou uma do amigo Zé Jerônimo. A jabuticabeira era no quintal dele, que tinha muitas outras. Mas daquela só nós podíamos colher. 

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Todos os anos, um dia ele chegava na nossa casa e avisava: “As jabuticabas já estão maduras”. No domingo, a família toda ia lá, parava debaixo da nossa jabuticabeira, diante do tronco e dos galhos pretinhos de tanta jabuticaba. A gente se empanturrava de jabuticaba a tarde toda e levávamos um monte pra casa pra fazer licor. Uma delícia de licor. 

Um detalhe da jabuticabeira é que ela demora muito pra produzir, uns nove ou dez anos. Lembrei de um paulistano que comprou uma chacrinha no interior, levou uma muda pequena achando que já colheria jabuticabas no ano seguinte e o caseiro lhe informou que não era bem assim. Ele se espantou, dizendo “demora tanto”? 

E o caseiro concluiu: “E se não plantar, não vai nunca colher jabuticaba aqui”.

Outra história é do pai de um amigo, em Taubaté, que plantou uma jabuticabeira em frente à sua casa e cuidou dela até chegar a hora de colher seus frutos. Mas precisou vender a casa.

Passado um tempo, do alto do bairro ele olhou em direção à sua antiga casa e não viu lá a jabuticabeira. Foi ver o que aconteceu e viu o tronco e os galhos dela, cortados e amontoados. 

Indignado, tocou a campainha, o dono da casa saiu e contou que cortou a jabuticabeira porque as folhas e os frutos dela caíam e “sujavam” seu carro, uma Brasília velha.

E ouviu isso: “Seu canalha, desgraçado! A jabuticabeira vale muito mais do que esse carro vagabundo! Se eu soubesse que ia fazer isso, não te vendia de jeito nenhum”.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir