Crise humanitária

Explosão em Nagorno-Karabakh deixa 20 mortos e mais de 300 feridos em meio à fuga de armênios

Após operação militar do Azerbaijão em enclave separatista, milhares de pessoas começaram a evacuar para a Armênia

Rio de Janeiro |
Incêndio num depósito de combustível nos arredores de Stepanakert. Mais de 300 pessoas ficaram feridas numa explosão num depósito de combustível em Nagorno-Karabakh - Representante de Direitos Humanos de Nagorno-Karabakh / AFP

Uma explosão num depósito de combustível na região separatista de Nagorno-Karabakh deixou pelo menos 20 mortos e mais de 300 feridos. A causa do incidente, na noite da última segunda-feira (25), ainda é desconhecida.

A tragédia ocorreu em uma instalação de armazenamento de gás perto da rodovia Stepanakert-Askeran. Centenas de pessoas que se encontravam na fila para reabastecer os carros antes de deixar a região foram atingidas.

O comissário de Direitos Humanos armênio, Gegham Stepanyan, informou que o estado de saúde da maioria dos feridos é "grave ou gravíssimo". De acordo com ele, as capacidades médicas de Nagorno-Karabakh não são suficientes.

A explosão aconteceu em meio à evacuação em massa de armênios de Nagorno-Karabakh, enclave separatista de maioria armênia que reivindica independência do Azerbaijão desde 1994. Em 19 de setembro, o Azerbaijão iniciou uma operação militar na região. O risco de uma nova guerra de grande escala acabou resultando em um acordo de trégua em menos de 24h após o início dos ataques. Na prática, foi uma capitulação das forças de Nagorno-Karabakh.

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Com o controle assumido pelo Azerbaijão sobre Nagorno-Karabakh, milhares de armênios começaram a evacuar do território em direção à Armênia no último domingo (24). Segundo as últimas estimativas, mais de 20 mil pessoas já deixaram a região. A evacuação causou congestionamentos quilométricos nas estradas que ligam Karabakh à Armênia. A região é habitada majoritariamente por arménios étnicos, compondo uma população de cerca de 120 mil pessoas.

"Há três dias, por iniciativa do governo, estão funcionando centros de alojamento [para deslocados de Karabakh], o registro de cidadãos está em andamento. Até agora, 20.270 pessoas foram registradas", disse o porta-voz do primeiro-ministro armênio, Nazeli Baghdasaryan.

Primeiro-ministro armênio denuncia 'limpeza étnica'

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, afirmou na última segunda-feira (25) que há uma "limpeza étnica em curso" contra armênios em Nagorno-Karabakh. A declaração foi durante uma reunião com o secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, Yuri Kim, e com a chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, em Yerevan.

"Vocês sabem que, infelizmente, neste momento o processo de limpeza étnica dos armênios em Nagorno-Karabakh continua, está a acontecer neste momento. Este é um fato muito trágico. Tentamos informar a comunidade internacional que esta limpeza étnica iria acontecer, mas infelizmente, não conseguimos evitá-lo", disse Pashinyan.


Grupo de refugiados de Nagorno-Karabakh evacua para a Armênia em 25 de setembro de 2023 após o ataque relâmpago do Azerbaijão contra a região separatista / Alain Jocard / AFP

Segundo ele, as tensões na região continuam a crescer. "Agora é muito importante tomar medidas concretas para evitar uma nova escalada e problemas ainda maiores", observou Pashinyan.

A situação da população armênia na região separatista já vinha sendo crítica nos últimos nove meses em meio a uma escalada da tensão entre Baku e Yerevan. Em dezembro de 2022, o Azerbaijão bloqueou o corredor de Lachin, a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Armênia, deixando a população do enclave isolada.

Ao mesmo tempo, Baku realizou interrupções no fornecimento de gás, alimentos e medicamentos a Karabakh, o que tem sido encarado com uma violação do acordo de cessar-fogo de 2020, além de ser uma forma de forçar um êxodo da população armênia da região.

Edição: Patrícia de Matos