Este ano, mais de 2,5 mil pessoas morreram ou desapareceram ao tentar cruzar o Mar Mediterrâneo para chegar à Europa, informou o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR, na sigla em português), uma expressiva alta comparada ao número registrado no mesmo período do ano passado, que foi de mais de 1,6 mil pessoas.
Em um informe divulgado nesta quinta-feira (28), a diretora da ACNUR, Ruven Menikdiwela, disse ao Conselho de Segurança da ONU que apesar do crescimento no número de mortes e acidentes, o fluxo de imigrantes para a Europa não diminuiu e não há razão para acreditar que isso acontecerá no futuro próximo.
::Africanos que tentam chegar à Europa pela Tunísia são mandados de volta para o deserto::
Menikdiwela disse que pelo menos 186 mil pessoas chegaram ao continente europeu pelo Mar Mediterrâneo nesse mesmo período.
Quase 83% dos que desembarcaram na Europa – 130 mil pessoas – o fizeram em solo italiano, com o restante distribuído entre vários países da costa europeia, como Grécia e Espanha.
A ACNUR reiterou o perigo extremo apresentado pela rota terrestre normalmente utilizada por imigrantes e refugiados para chegar à costa africana – cruzando a região subsaariana – e a travessia pelo mar partindo de pontos da Líbia e Tunísia, destacando os riscos devido às guerras e conflitos locais na região.
Segundo Menikdiwela, mais imigrantes estão perdendo suas vidas ainda em terra firme, “longe da atenção pública”.
Ela também declarou que mais de 100 mil pessoas partiram da costa tunisiana para o Mar Mediterrâneo este ano, o que significa aumento de 260% em comparação com 2022. Já na Líbia foram 45 mil pessoas que tomaram a rota mediterrânea a partir da costa do país.
Segundo Pär Liljert, diretor da Organização Internacional para as Migrações (OIM, na sigla em português), o total de mortos e desaparecidos no Mediterrâneo entre janeiro e setembro de 2023 é de 2.778 pessoas. O número é ligeiramente superior ao valor apresentado pela ACNUR.
A OIM alega que do total de pessoas que tentaram a rota marítima, duas mil morreram na área central do Mediterrâneo sozinhas nesta que é a rota marítima mais mortal do mundo. Mais de 28.105 imigrantes desapareceram ou morreram no Mediterrâneo desde 2014, afirma a organização.
A desumana política de controle de fronteira da União Europeia
A maioria dos imigrantes morrem quando seus pequenos e frequentemente inadequados barcos superlotados sofreram acidentes no mar, tendo pouca ou nenhuma chance de resgate ou ajuda disponível. Algumas embarcações acabaram afundando devido ao encontro com forças de segurança das fronteiras europeias.
A União Europeia adotou uma política de controle fronteiriço rigorosa e multifacetada para evitar o fluxo de imigrantes. O bloco tem sua própria agência, a Frontex, que está envolvida no patrulhamento. Além disso, há as guardas costeiras de cada país-membro do bloco. A UE também assinou acordos de controle de fronteira com países como a Líbia e a Tunísia.
Todas essas agências usam vários métodos para desencorajar imigrantes. Elas frequentemente acossam barcos superlotados, ameaçam, fazem as embarcações virarem ou as empurram de volta ao mar caso cheguem à costa. Em alguns casos, quando os imigrantes conseguem desembarcar, eles são atacados e mantidos em prisões a céu aberto. Organizações não governamentais envolvidas no resgate e assistência a essas pessoas também acusam a Frontex de impedir, em algumas situações, a realização das atividades de ajuda.
Um relatório da ONU divulgado no início deste ano culpou a União Europeia por estar direta ou indiretamente envolvida em crimes de guerra na Líbia relacionados ao rapto e confinamento ilegal de imigrantes e refugiados por vários intervenientes não estatais.