TRANSPORTE PÚBLICO

Carris: trabalhadores entram em greve no dia do leilão de privatização da empresa de ônibus de Porto Alegre

Prefeitura oferta por R$ 109 mi operação das últimas 20 linhas sob gestão pública

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
A concessão é de 20 anos e prevê a operação de 20 linhas da Carris, o que equivale a 22,4% do sistema de trabsporte público de Porto Alegre - Foto: Leonardo Contursi

Os trabalhadores da Companhia Carris Porto-Alegrense iniciaram na manhã desta segunda-feira (2) uma greve em protesto contra o leilão de privatização da empresa, marcado para o mesmo dia. Das 21 linhas operadas pela estatal de transporte público da capital gaúcha, 11 estão fora de circulação.

O leilão da Carris está marcado para ocorrer no início da tarde. O lance mínimo é de R$ 109 milhões. A concessão é de 20 anos e prevê a operação de 20 linhas da Carris, o que equivale a 22,4% do sistema de transporte público de Porto Alegre. O valor inclui a venda das ações da empresa e de bens como terrenos e ônibus.

A greve dos trabalhadores foi deflagrada às 5h da madrugada, pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Porto Alegre (STETPOA), ligado à UGT. A decisão ocorre após um mês de tentativas de negociação com a Prefeitura e a atual direção da Carris.

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Conforme acordo firmado pelo Sindicato na sexta-feira (29) junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), que estabeleceu um regramento para a greve, os trabalhadores deverão manter em funcionamento um percentual mínimo de 60% dos ônibus.

Em reunião da Prefeitura e representantes do Stetpoa, na quarta-feira (27), o prefeito Sebastião Melo (MDB) descartou qualquer possibilidade de adiamento do leilão de privatização da Carris. "O edital de desestatização não está na nossa pauta de negociação. Respeitamos as divergências, mas esta pauta é um compromisso assumido, muito bem sustentado, com regras claras e que cumpriu rigorosamente o rito legal", disse.

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Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), Amarildo Cenci, a tentativa de privatização da Carris é "mais um capítulo da política entreguista e desenfreada do Melo, que tem retirado direitos de trabalhadores e da população, e promovido concessões de espaços públicos, como o Parque da Harmonia, para agradar os grandes empresários de Porto Alegre e financiadores de campanha eleitoral".

O dirigente sindical destaca que nos últimos anos a Prefeitura tem injetado valiosos recursos públicos nas empresas privadas de transporte coletivo, sob a alegação de evitar aumentos da tarifa, e agora tenta vender a Carris para favorecer ainda a iniciativa privada.

Queda na qualidade

Para o geógrafo Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a primeira consequência prática da venda da Carris será colocar Porto Alegre no mesma patamar que a maioria das grandes cidades brasileiras, em que o sistema de transporte público é inteiramente gerido por empresas privadas.

"O principal ponto que deve despencar é a qualidade. Os empresários vão poder descumprir frequência, não cumprir horário de partida, precarizar mais os veículos, porque não vai ter nenhuma pressão de melhoria feita pela Carris, como empresa pública. O empresário não vai mais ter uma concorrência com empresa pública, então não vai ter nenhum risco de eles perderem o serviço, de eles serem ameaçados, da Prefeitura poder impor alguma mudança, porque eles vão ter total controle do serviço", avalia.

Empresa centenária

Fundada em 1872, a Carris é uma empresa centenária. Começou a operar uma linha de bonde entre o Centro e o Meninos Deus, ainda puxado a mulas.

Em 1908, coloca em circulação o primeiro bonde elétrico da cidade. Os primeiros ônibus da empresa começariam a circular em 1929.

Em 1952, em razão da precarização do serviço e da gestão da empresa americana Bond & Share, inicia um processo de intervenção, que culminaria com a encampação no ano seguinte. Em 1970, encerra a circulação dos bondes elétricos.

As mais conhecidas da Carris, as linhas Ts, transversais, começam a circular em 1976, no período de implantação de corredores de ônibus da Capital. Às linhas Ts, de 1 a 4, soma-se no ano seguinte a Campus Ipiranga, que liga o Centro ao Campus do Vale da UFRGS, recém inaugurado.

Durante os governos do PT na Prefeitura, ocorreu a expansão das linhas, de 5 a 10, a criação da T1 Direta e da Linha Turismo. Em 2006, é criada a T11 e, em 2016, a linha T12.

* Com informações da CUT-RS

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira