O médico ginecologista Denis Mukwege anunciou nesta segunda-feira (2) a intenção de concorrer à Presidência da República Democrática do Congo. Mukwege foi o vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2018 por sua campanha de quase duas décadas contra a violência sexual no país.
Com 68 anos, Mukwege tratou centenas de vítimas de estupros, ocorridos durante a guerra, no hospital que ele fundou em 1999 e que fica na região leste da República Democrática do Congo.
Em um evento que reuniu um grupo de apoiadores em Kinshasa, capital do país, ele anunciou que suas prioridades serão a paz e a segurança da população. “Minha única motivação é salvar e desenvolver nosso país. O que farei é a continuação das minhas ações e do meu comprometimento ao longo dos últimos 40 anos a serviço do meu povo”, disse no discurso aos seus partidários.
O líder de oposição concorrerá contra o atual presidente, Felix Tshisekedi, cujo primeiro mandato foi marcado por dificuldades econômicas, epidemias e piora da segurança no leste. A principal figura da oposição, Martin Fayulu, que ficou em segundo lugar nas eleições de 2018, confirmou no final de semana que também concorrerá.
Região de conflitos
Palco de duas guerras civis entre os anos de 1996 e 2006, a região leste da República Democrática do Congo continua sofrendo com o conflito entre centenas de grupos armados, apesar da atuação da Missão das Nações Unidas - conhecida como "monusco" -, que mantém soldados desde 1999 no país.
Alvo de protestos populares contra a sua presença, que se intensificaram este ano, a Monusco foi responsável pela morte de oito civis em fevereiro, em ação que deixou 28 feridos.
Uma investigação do site The Conversation, publicada em agosto de 2022, revelou que a presença dos soldados da ONU deixaram mulheres e meninas grávidas, vítimas de exploração sexual por parte dos capacetes azuis. Atualmente, elas criam seus filhos em condições deploráveis, muitas delas sem receber qualquer assistência financeira.
As descobertas no país centro-africano são baseadas em 2.858 entrevistas com membros da comunidade congolesa, incluindo 60 entrevistas detalhadas com vítimas de violência e abuso sexual que conceberam filhos de agentes das forças de paz das Nações Unidas.
A pesquisa, que remonta a 2018, implica funcionários da ONU de 12 países, em sua maioria tanzanianos e sul-africanos. As mães dizem que esses pais ausentes possuíam cargos variando desde de soldados, oficiais e pilotos, motoristas, cozinheiros, médicos e fotógrafos.
*Com informações de The Guardian, G1 e The Conversation
Edição: Patrícia de Matos