Uma manifestação na região central da capital paulista nesta segunda-feira (9) reuniu trabalhadores do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) como mais uma etapa da campanha contra a privatização destes serviços, planejada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Com faixas, bandeiras e carro de som, os manifestantes se reuniram em frente à Secretaria de Transportes e à sede administrativa do Metrô e da CPTM, menos de uma semana depois que as três categorias organizaram uma greve unificada de 24 horas.
Entre as reivindicações, a anulação do pregão marcado para esta terça-feira (10), que visa terceirizar os serviços de atendimento no Metrô. A empresa estatal conseguiu, nesta segunda, um mandado de segurança que garante a realização do pregão, ainda que os seus efeitos só possam se efetivar depois do processo julgado. Isso porque na última sexta (6) o Sindicato dos Metroviários tinha conseguido uma decisão judicial liminar do Tribunal Regional do Trabalho da segunda região (TRT2) suspendendo o edital de licitação.
"A intenção do Metrô é muito nítida", critica o sindicato, em nota: "substituir empregados públicos concursados por trabalhadores contratados por uma empresa terceirizada".
"A gente está aqui para fazer essa pressão. Não queremos que se terceirize o serviço do metrô e nós não queremos que se privatize nem metrô, nem CPTM, nem Sabesp", enfatiza a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa.
Para Valdenora Pereira, trabalhadora do Metrô há 35 anos, as desestatizações vão na contramão das necessidades da população. "No Rio de Janeiro que privatizaram o serviço de águas, o pessoal estava tomando água que nem tratada era. Está tendo um retrocesso no Brasil", opina.
"Antes de entrarmos em greve", lembra Valdenora a respeito da paralisação unificada da última terça (3), "nós sugerimos trabalhar com catraca livre para não prejudicar a população. Quem na verdade optou pela greve foi o governo".
Trabalhador da Sabesp, Abdon Sousa cita as atuais tarifas sociais da companhia, que ele acredita que vão deixar de existir. Ele avalia que a privatização "vai ser danosa para toda a população, principalmente a de baixa renda".
"A conta vai aumentar, essas tarifas vão desaparecer, vai comprometer o abastecimento, precarizar o serviço e haverá uma demissão em massa dos trabalhadores da Sabesp que gozam de um conhecimento técnico muito importante", argumenta Abdon.
Ainda sem datas marcadas, outras greves contra as privatizações estão sendo planejadas. Além deste, que é o mais visível dos instrumentos da campanha, um plebiscito popular sobre o tema está sendo feito com urnas itinerantes nas estações até 5 de novembro. Os trabalhadores demandam que o governo Tarcísio faça essa consulta formal à população.
"O governador não criou, até agora, um canal de diálogo com o trabalhador. Também não anunciou um plebiscito", comenta Marcelo Moreira, trabalhador da CPTM há 25 anos. "Porque tem muita gente que votou no Tarcísio e é contra essa entrega dos serviços para empresas privadas. Essa greve foi importante porque levou o conhecimento do que está acontecendo para as pessoas, para a região metropolitana, as periferias", afirma.
Na última semana, poucas horas depois que Tarcísio se posicionou contra a greve e exaltou as linhas privatizadas, uma pane elétrica prejudicou o funcionamento da Linha 9-Esmeralda, administrada pela iniciativa privada, por dois dias. A linha é gerida pela concessionária ViaMobilidade, formada pelas empresas CCR e Ruas Invest Participações.
"De novo ficou evidente que nas linhas privatizadas o serviço que está sendo entregue para população não é de qualidade. Não há esse compromisso da empresa que assumiu o controle. A gente tem visto diariamente as falhas", relata Moreira.
Edição: Rodrigo Durão Coelho