Um dia após o grupo palestino Hamas realizar um ataque sem precedentes contra Israel, numa ação que já deixou 700 israelenses mortos e mais de 2 mil feridos, além de 100 reféns, e que incluiu o disparo de milhares de foguetes e a entrada de centenas de combatentes a organização em território sob controle israelense, um dos principais jornais de Israel, o Haaretz, publicou editorial atribuindo a responsabilidade pelos ocorridos ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
“O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é de clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu”, diz o primeiro parágrafo do editorial do jornal. “O primeiro-ministro, que se orgulha de sua vasta experiência política e de sua insubstituível sabedoria em questões de segurança, não conseguiu identificar os perigos para os quais estava conscientemente conduzindo Israel ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação, ao nomear Bezalel Smotrich [atual ministro das Finanças de Israel, de extrema-direita] e Itamar Ben-Gvir [ministro da Segurança Nacional de Israel, do partido de extrema-direita Otzma Yehudit] para cargos importantes e ao adotar uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos.”
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Segundo o jornal, o primeiro-ministro, que em resposta ao ataque decretou estado de guerra e ordenou bombardeios contra a Palestina que já deixaram 413 palestinos mortos e mais de dois mil feridos, tentará esquivar-se de sua responsabilidade, jogando-a às lideranças militares israelenses, que não previram a ação do grupo palestino. “Eles desprezaram o inimigo e suas capacidades militares ofensivas. Nos próximos dias e semanas, quando a profundidade das falhas das Forças de Defesa de Israel e da Inteligência vierem à tona, certamente surgirá uma demanda justificada para substituí-los e fazer um balanço.”
No entanto, reitera o editorial, as falhas “não isentam Netanyahu de sua responsabilidade geral pela crise”. Segundo o editorial publicado neste domingo (8), o governo Netanyahu tem feito “um esforço multidimensional para esmagar o movimento nacional palestino em ambas as suas alas, em Gaza e na Cisjordânia, a um preço que pareça aceitável para o público israelense”, embora no passado “se apresentasse como um líder cauteloso que evitava guerras e perdas múltiplas para o lado de Israel.”
A mudança, segundo o jornal, se deu após sua vitória nas últimas eleições: “ele substituiu essa cautela pela política de um ‘governo totalmente de direita’, com medidas abertas para anexar a Cisjordânia e realizar uma limpeza étnica em partes da Área C definida em Oslo, incluindo as Colinas de Hebron e o Vale do Jordão.”
O Haaretz termina seu editorial em tom duro, dizendo que “um primeiro-ministro indiciado em três casos de corrupção não pode cuidar dos assuntos do Estado, pois os interesses nacionais estarão necessariamente subordinados a livrá-lo de uma possível condenação e de uma pena de prisão. Essa foi a razão para o estabelecimento dessa terrível coalizão e do golpe judicial promovido por Netanyahu, e para o enfraquecimento dos principais oficiais do Exército e da Inteligência, que eram vistos como oponentes políticos. O preço foi pago pelas vítimas da invasão no Negev Ocidental.”