A vereadora de Natal (RN) Brisa Bracchi (PT) afirmou, na quarta-feira (11), em suas redes sociais, que recebeu e-mail com ameaça de "estupro corretivo", termo utilizado por criminosos para se referir ao que eles definem como método de "cura lésbica".
No e-mail, o autor da mensagem se apresenta como pesquisador, diz que o "estupro corretivo" seria uma "prática cientificamente comprovada" e se oferece para ir até a casa da parlamentar “testar o experimento”, afirmando ter o endereço da vereadora. A petista é a oitava parlamentar brasileira desde agosto deste ano a receber e-mail com ameaça de violência sexual.
“Outras mulheres, feministas e LGBTs receberam ameaças semelhantes, mas isso não invalida a dor individual de cada uma. Confesso que fiquei assustada e, por isso, tomarei todas as medidas possíveis, tanto procurando os órgãos de segurança local, como os nacionais, para que os responsáveis por esse tipo de ação sejam devidamente punidos”, disse a vereadora, que se define bissexual.
O autor do e-mail diz que o “coito vaginal por um varão capacitado da forma correta" faz a mulher lésbica recuperar "sua feminilidade perdida e volta a ser heterossexual”.
Brisa Bracchi disse que tomará todas as providências que cabem nos âmbitos local e nacional.
:: Uma em cada 10 menções nas redes sociais a mulheres parlamentares tem algum tipo de violência ::
“Apesar do impacto, não retrocederemos. Recentemente, se tornou lei em Natal a Semana de Enfrentamento à Lesbofobia, exatamente para avançarmos no fim desse tipo de violência que mira em mulheres lésbicas e bissexuais. Continuaremos firmes na luta por um mundo mais justo, em que esse tipo de violência não seja cabível”, defendeu a vereadora.
:: Vereadora Duda Hidalgo é a sétima parlamentar em um mês a receber e-mail com ameaça lesbofóbica ::
Federalização dos casos
Além da vereadora de Natal Brisa Bracchi (PT), outras sete parlamentares mulheres que se declaram LGBTQIAPN+ vêm denunciando, desde agosto, terem recebido e-mail com ameaças de estupro "corretivo": a vereadora de Ribeirão Preto Duda Hidalgo (PT), a deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS), as deputadas estaduais Rosa Amorim (PT-PE) e Bella Gonçalves (PSOL-MG) e as vereadoras Mônica Benício (PSOL), do Rio de Janeiro, e Iza Lourença e Cida Falabella, ambas do PSOL em Belo Horizonte.
Em agosto, as parlamentares acionaram coletivamente o Ministério da Justiça, que decidiu federalizar o caso e levar o assunto para ser investigado pela Polícia Federal. Em nota, a pasta informou que o ministro Flávio Dino recebeu, naquele mês em Belo Horizonte, algumas das parlamentares ameaçadas e encaminhou a documentação com as denúncias à Polícia Federal para a abertura do inquérito.
Deputados e senadores LGBTQIAPN+
O Brasil possui atualmente 18 pessoas LGBTQIAPN+ eleitas em 2022 para os cargos de deputados estaduais e federais e senadores, como aponta um levantamento da ONG VoteLGBT, que monitora e mapeia candidaturas dessa população em todo o Brasil.
Pela primeira vez na história, o Brasil tem duas deputadas federais trans: Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP). Juntam-se a elas Dandara (PT-MG), que é bissexual, e Daiana Santos (PCdoB-RS), lésbica. Dos 18 eleitos, a maioria é mulher e apenas dois são homens. Todos são filiados a partidos de centro, centro-esquerda e esquerda.
Edição: Rodrigo Chagas