O acordo eleitoral assinado entre o governo da Venezuela e o setor da oposição chamado Plataforma Unitária tornou pública as negociações entre Caracas e Washington. Na noite desta terça-feira (17), após a divulgação dos termos acordados pelas duas partes em Barbados, os EUA e outros países aliados elogiaram o documento e o classificaram como "um passo necessário".
União Europeia, Reino Unido e Canadá acompanharam Washington no comunicado conjunto que manifestou apoio "à saída pacífica negociada que leve a eleições justas e competitivas e ao retorno da segurança e estabilidade econômica".
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Juntos, os três países e o bloco europeu determinaram as sanções contra a Venezuela que, direta e indiretamente, apoiam a Plataforma Unitária e exigem condições do governo de Nicolás Maduro para suspender o bloqueio.
Uma das exigências feitas por Washington era, justamente, a definição de um cronograma eleitoral e de regras acordadas entre ambas as partes para a realização das próximas eleições presidenciais, o que foi alcançado no acordo firmado na terça em Barbados. O governo e a oposição venezuelana definiram que o pleito deve acontecer no segundo semestre de 2024.
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Nem os acordos assinados nesta terça-feira ou o comunicado emitido pelos EUA e seus aliados mencionam a eliminação concreta de alguma sanção contra a Venezuela. No entanto, segundo apurou o Brasil de Fato, há compromissos assumidos por Washington com a Venezuela em relação ao fim de sanções.
Uma fonte ligada ao processo de diálogo disse ao Brasil de Fato que a expectativa é a de que "nos próximos dias sejam cumpridas algumas decisões que já estão acordadas com eles [EUA]". Os anúncios estariam relacionados com as sanções e seriam "uma espécie de alívio pequeno, mas significativo para a Venezuela".
França
Já nesta quarta-feira (18), o presidente da França, Emmanuel Macron, também cumprimentou o acordo assinado em Barbados e disse que o país apoia a ida de uma missão de observação eleitoral da UE, ideia acordada por governo e oposição venezuelana.
"Dentro da perspectiva das eleições presidenciais de 2024 na Venezuela, esse acordo estabelece um roteiro com avanços significativos para um escrutínio livre e inclusivo, condição para uma saída duradoura da crise. [...] As medidas acordadas devem agora ser plenamente aplicadas e o diálogo entre as partes deve ser mantido", disse o Palácio do Eliseu em comunicado.
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Desde que se reuniu e conversou com Maduro pela primeira vez durante a COP27 em novembro do ano passado, Macron tem tentado se colocar como mediador da crise venezuelana. No mesmo mês de 2022, o presidente organizou uma reunião entre os chefes das delegações governista e opositora em Paris, que também contou com a presença dos presidentes argentinos, Alberto Fernández, e colombiano, Gustavo Petro. Já em julho deste ano, o mandatário francês participou de um encontro na Bélgica que contou com ambas as partes venezuelanas além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Negociações diretas
Horas depois da assinatura dos acordos em Barbados, o governo venezuelano revelou que vem mantendo negociações diretas com os EUA ao longo do ano para suspender o bloqueio.
"As negociações estiveram principalmente focadas em curar as feridas sociais causadas pela ilegítima agressão econômica mediante a eliminação plena das 'sanções' criminosas que castigaram coletivamente a população venezuelana sem distinção, solicitadas pela mesma oposição que hoje está concordando em iniciar o processo de eliminação completa", disse Caracas em comunicado.
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Ainda segundo o governo, os acordos são "mais um passo para acabar com as medidas coercitivas unilaterais criminosas contra nosso povo".
Desde 2014, a Venezuela sofre com sanções impostas pelos EUA que agravaram a crise econômica e política no país. Em 2019, o ex-presidente dos EUA Donald Trump impôs um bloqueio total contra a indústria petroleira venezuelana que praticamente impediu que a maior fonte de dólares do país pudesse operar no mercado internacional.
Segundo dados oficiais, existem mais de 900 sanções em vigor contra a Venezuela e o bloqueio contra o setor energético causou uma redução de 98% na arrecadação em dólares nos últimos 10 anos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho