O escritor judeu Primo Levi, que passou pelo campo de concentração nazista de Auschwitz, escreveu no livro “É isto um Homem?”: “Viajámos até aqui nos vagões selados; vimos partir em direção ao nada as nossas mulheres e as nossas crianças; reduzidos a escravos, marchamos mil vezes para trás e para diante, numa fadiga muda, já apagados nas almas antes da morte anônima.”
Os tempos históricos são outros, as situações diferentes. Mas o que se pode dizer quando todos os palestinos na Faixa de Gaza ficam sem ter acesso a água, luz, energia e remédios por ordem de Israel? Quando nos escombros de um hospital mais de 500 corpos são expostos depois de um bombardeio? Quando milhões de pessoas são obrigadas a abandonar suas casas, que acabam destruídas…
Os ataques do Hamas, que começaram a guerra atual, são hediondos. Mas, ao final, estão servindo ao propósito do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de expulsar milhões de pessoas da Faixa de Gaza e anexar o território a Israel, acabando com qualquer possibilidade de um Estado Palestino. Mesmo que esse objetivo seja alcançado com a morte de milhares de mulheres e crianças. E Netanyahu já havia fechado os canais de negociação e imposto bloqueio à Gaza há muitos anos. Cabe de novo a pergunta de Levi. “É isto um homem?” É isto um país? É esta uma estratégia válida de guerra?