OPINIÃO

O Brasil e as condições para que haja paz entre Israel e Palestina 

Respeito à vida e aos direitos de seres humanos não pode aceitar distinção por conta da etnia ou da nacionalidade

São Paulo (SP) | |
Milhares de manifestantes vão às ruas de Argel, capital da Argélia, pedir paz em Gaza - AFP

O mundo inteiro está consternado diante do conflito que, desde o sábado retrasado, tem vitimado israelenses e palestinos em atos terroristas por parte do Hamas e respostas das forças armadas de Israel que violam todos os tratados internacionais e constituem crimes de guerra. 

O Brasil, cuja diplomacia tem em seus quadros históricos nomes como Oswaldo Aranha, que presidiu a Assembleia Geral da ONU na qual foi aprovada a criação do Estado de Israel, sempre atuou para garantir a paz nesta região que é sagrada para as três maiores religiões monoteístas do planeta. 

O governo Lula, vale destacar, tem tido uma atuação impecável nos esforços de resgatar cidadãos brasileiros que queiram sair da zona de conflito. O êxito da Operação Voltando em Paz é tão evidente que gerou pedidos de auxílio de inúmeros outros países ao nosso governo. Daí que, em breve, os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) deverão carregar também pessoas dos países vizinhos, tais como Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e outros. 

Retornando ao cerne da dolorosa questão que nos aflige a todos, ainda que a dor pelas imagens e notícias que chegam de Israel e da Faixa de Gaza seja imensa, inclusive com o falecimento de compatriotas brasileiros, enfatizo que a única solução que pode estabelecer uma paz duradoura e uma convivência minimamente harmoniosa entre israelenses e palestinos é a consolidação de um Estado Palestino soberano e autônomo, conforme apontam, há várias décadas, várias resoluções das Nações Unidas e acordos como os de Oslo, assinados em 1993. 

Esta solução, entretanto, só pode ser alcançada se e quando os ataques contra Israel cessarem e, sobretudo, se o governo desse país mostre uma disposição verdadeira para dialogar e, principalmente, respeitar e cumprir os acordos mediados e as resoluções da ONU – o que inclui a liberação do injustificável cerco à Faixa de Gaza, que, inegavelmente, é uma prisão a céu aberto onde vigora um apartheid contra a população palestina

Em linhas gerais, essa é a posição que o Brasil e centenas de outros países defendem historicamente. É possível condenar os odiosos ataques terroristas às cidades de Israel e, ao mesmo tempo, denunciar as violações de direitos humanos cometidos pelos seguidos governos israelenses, especialmente desde que Benjamin Netanyahu está à frente do país com sua postura beligerante e sem limites para impor o objetivo de eliminação da Palestina, defendido abertamente por vários dos seus partidários. 

A resolução que o governo brasileiro apresentou, aliás, obteve praticamente o consenso no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, mas foi vetada pelos Estados Unidos, que seguem na sua recorrente posição belicista e pouco preocupados com direitos humanos ou com a convivência pacífica das populações que vivem na região do conflito. 

Quem deseja convictamente a paz não pode ter um olhar seletivo ou distorcido da realidade. O respeito à vida e aos direitos de seres humanos não pode aceitar distinção por conta da etnia ou da nacionalidade. 

*Deputado federal, advogado, Vice-Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados. 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho