ELEIÇÃO

Massa x Milei: o que esperar do segundo turno na Argentina?

Candidato peronista, Sergio Massa surpreendeu no final e abriu seis pontos de vantagem diante de Javier Milei

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Sergio Massa e Javier Milei vão disputar o segundo turno nas eleições presidenciais na Argentina, em novembro - JUAN MABROMATA, Tomas CUESTA / AFP

O candidato a presidente da Argentina, Sergio Massa, do União pela Pátria, surpreendeu na reta final e saiu como o grande vencedor do primeiro turno, neste domingo(22), com 36% dos votos.

Ele vai enfrentar Javier Milei, do A Liberdade Avança, que ficou em segundo lugar(30%), contrariando as projeções das principais pesquisas. Patrícia Bullrich, do Juntos Pela Mudança, ficou em terceiro, com 23%

A professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Hozhacker, acredita que o duelo deve colocar em destaque no debate eleitoral dois assuntos: a importância da agenda social, elemento crucial para o peronismo, e as questões morais, a partir das polêmicas expostas pela campanha de Javier Milei. 

"Acho que o Massa vai explorar muito a questão da agenda social, que é o Estado que mantém a proteção social e que é questionado na proposta do Milei, que por sua vez propõe um Estado mínimo. Então, haverá também uma discussão sobre a organização da sociedade. Mas também vai entrar muito forte a agenda de costumes, porque o Milei tem uma agenda de questionamento de temas que estavam pacificados na Argentina, como aborto e questões religiosas." 

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Denilde participou do Central do Brasil desta segunda-feira (23) para analisar o resultado do primeiro turno nas eleições presidenciais argentinas. Ela classificou o desempenho de Sergio Massa como surpreendente, mas também ponderou que é preciso cautela e não subestimar uma virada do Milei ao longo do segundo turno. 

"Segundo turno é sempre uma nova eleição, que pode ter outras configurações. A questão central é o eleitor macrista [que vota em Maurício Macri], o eleitor da Patrícia Bullrich, que vai ser bastante disputado pelo dois lados", pontuou. 

Bullrich já afirmou que não vai apoiar Sergio Massa, acusando peronismo de "empobrecer o país". Analistas argentinos apontam também que o ex-presidente Macri já tinha pontes construídas com o ultraconservador Milei há bastante tempo, o que facilita, por exemplo, uma declaração de voto no segundo turno. Alguns candidatos da coligação Juntos pela Mudança também já embarcaram na campanha de Milei. 

O que chamou atenção no resultado deste domingo foi a reviravolta de Massa, contrariando as principais pesquisas de intenção de voto. Sobre este movimento, Denilde destaca a intensa mobilização da campanha peronista na reta final. 

"Tem várias explicações possíveis: uma forte ação do governo nestas últimas semanas para atender determinados grupos, um forte questionamento sobre as políticas propostas pelo Milei que foram consideradas irrealistas e com difícil implementação e uma forte mobilização do peronismo, que está baseado em grupos, ativistas e no sindicalismo. Isso também favoreceu o Massa"

Esta foi a eleição com a adesão mais baixa desde 1980. Para Denilde, a conjuntura social e econômica do país favorece essa rejeição ao processo eleitoral.

"74% é uma parcela bastante considerável. Mas, para um sistema político tão participativo e tão ativista como o da Argentina, é preocupante essa apatia", apontou. 

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Ela também que explica que esta apatia não é um fenômeno exclusivo da Argentina e tem afetado também democracias representativas em outros lugares do mundo. 

"Muitas pessoas [estão] descontentes com o que vem sendo feito e com opções partidárias. Isso não é novo. A gente tem visto muitos países em que a democracia representativa vem perdendo apoios. E ela está atrelada com a desconfiança no sistema político, considerado não capaz de responder às demandas da sociedade", concluiu. 

A entrevista completa está disponível na edição desta segunda-feira(23) do Central do Brasil no canal do Brasil de Fato no YouTube



E tem mais! 

Primárias na Venezuela 

A ultraliberal Maria Corina Machado venceu as eleições primárias da oposição realizada neste domingo (22), na Venezuela. Segundo dados parciais da apuração, a ex-deputada obteve mais de 90% dos votos. A consulta tinha como objetivo definir um candidato unificado da direita para a próxima eleição presidencial, mas o aprofundamento das divisões internas entre membros da oposição deve gerar dificuldades para que a liderança desse setor político passe às mãos de Maria Corina.

O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras espalhadas pelo país. 
 

Edição: Thalita Pires