O bloco da oposição no Parlamento da Venezuela afirmou na tarde desta segunda-feira (23) que as eleições primárias realizadas por um setor da direita no país foram marcadas por "vícios e irregularidades".
As declarações foram feitas pelo deputado Luis Eduardo Martínez, do partido Ação Democrática (AD), em nome da bancada opositora na Assembleia Nacional, órgão Legislativo venezuelano.
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"Foi um processo que careceu de suportes técnicos básicos, como a participação do Conselho Nacional Eleitoral", disse Martínez, que também é pré-candidato à Presidência e deve concorrer nas eleições presidenciais de 2024.
Essa fração da oposição venezuelana está reunida na coalizão Aliança Democrática e rivaliza com o grupo opositor que participou das primárias e que conforma a chamada Plataforma Unitária Democrática.
Martínez fez alegações sobre a participação eleitoral na consulta realizada no último domingo (22), questionando os dados fornecidos pela Comissão Organizadora das Primárias e disse que a Aliança Democrática possui "seu próprio mecanismo de monitoramento".
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"Somente participaram 645 mil eleitores", alegou o deputado. "Em termos percentuais, 2,72% do eleitorado votou, enquanto 97% dos venezuelanos aptos a votar não participaram", disse.
Os números são distintos dos que foram divulgados pelo grupo que organizou a votação. Segundo a comissão, até a noite desta segunda-feira, apenas 64,8% das urnas haviam sido apuradas e o número total de votos era de 1.591.504.
Não há possibilidade de contrapor as cifras de participação com a apuração de terceiros ou de órgãos oficiais pois a oposição recusou o apoio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para realizar a votação. Além disso, não há confirmação de que as primárias contaram com a observação de entidades independentes, nacionais ou internacionais.
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Ainda de acordo com o grupo de opositores que organizou a consulta, a ultraliberal Maria Corina Machado teria recebido 92% dos votos e seria a vencedora do processo. O objetivo das primárias era definir uma candidatura unificada desse setor da direita para as eleições presidenciais do próximo ano, mas divisões internas e a inabilitação de Machado devem ser obstáculos para a unidade.
'Megafraude', diz Maduro
Em seu programa televisivo semanal, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou as primárias como uma "megafraude" e "uma jogada para perturbar" as próximas eleições presidenciais. "Eles vêm com apenas um discurso: o ódio, a intolerância, a vingança e ontem [domingo] tentaram maquiar um show, uma megafraude, para apresentar ao mundo outra vez o mesmo erro", disse.
O presidente ainda lembrou o apoio dado pela Plataforma Unitária Democrática à política de sanções e de "pressão máxima" elaborada pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump e disse que esse setor da oposição quer "chantagear o país no exterior, pedir sanções e pedir invasões".
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Maduro também criticou Maria Corina e outras figuras da oposição classificadas pelo presidente como "fascistas e extremistas" e disse que o "tempo de poder dessas famílias já acabou". Durante o chamado "governo interino" do ex-deputado Juan Guaidó, Maria Corina apoiou o bloqueio e chegou a pedir uma intervenção armada para derrubar o governo.
Edição: Leandro Melito