Disputa

Eleições na Argentina: candidata derrotada no primeiro turno declara apoio ao ultraliberal Javier Milei

Sergio Massa, o mais votado, aparece com dez pontos de vantagem na primeira pesquisa sobre o segundo turno

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Bullrich e Petri durante anúncio de apoio a Milei: segundo eles, derrotar o peronismo é o que mais importa no momento - Tomas Cuesta / AFP

Mesmo com as advertências dos partidos União Cívica Radical (UCR) e Coalizão Cívica de que poderiam romper com a coalizão Juntos pela Mudança em caso de apoio ao candidato Javier Milei (A Liberdade Avança), a candidata derrotada Patricia Bullrich declarou que estará ao lado dele no segundo turno da eleição presidencial contra Sergio Massa.

“Ontem à noite, tive uma reunião com Javier Milei, conversamos sobre suas declarações e nos perdoamos. O país precisa que a gente saiba se perdoar porque está em jogo algo muito importante para o futuro”, afirmou Bullrich nesta quarta-feira (25).

No primeiro turno, no último domingo, o peronista Massa (União pela Pátria) e o ultraliberal Milei obtiveram as duas melhores votações e passaram para o segundo turno, com quase sete pontos de vantagem para Massa (36,6% ante 30%). Bullrich, em terceiro lugar, ficou fora da disputa com sua candidatura conservadora de direita.

A campanha, até aquele momento, foi recheada de ofensas pessoais. Numa das mais notórias, Milei chamou Bullrich de “assassina” e a acusou de jogar bomba de jardim de infância por causa do seu passado como “montonera”, ou seja, como integrante da luta armada contra a ditadura militar nos anos 1970.

Bullrich esclareceu que seu apoio a Milei é de caráter “pessoal” e compartilhado com seu ex-companheiro de chapa Luis Petri, que estava ao lado dela no pronunciamento. Portanto, os partidários das legendas que integram a coalizão Juntos pela Mudança estão formalmente liberados para votarem em quem quiserem.

Bullrich reconheceu ter divergências com Milei e disse que não as esconde. “Mas a maioria dos argentinos optou por uma mudança e temos a obrigação de não ser neutros”, declarou. Segundo ela, é hora de “unir forças para um objetivo maior”. Bullrich negou que haja qualquer tipo de pacto ou acordo para uma possível gestão de Milei.

A senha para este apoio foi dada por Milei ainda no domingo, após a divulgação da surpreendente vitória de Massa. “Estou aqui para dar fim ao processo de ataques e fazer uma trégua para pôr fim ao kirchnerismo”, discursou o candidato de extrema direita. “Além de nossas diferenças, temos que entender que temos diante de nós uma organização criminosa. O kirchnerismo é o pior que aconteceu à Argentina”.

Nesta quarta, Milei repostou um desenho que mostra um abraço entre um leão, símbolo de sua candidatura, e um pato, símbolo da candidatura de Bullrich, enrolado na bandeira nacional.

 

A decisão de Bullrich recebeu tanto críticas quanto elogios. Uma das reprovações mais contundentes foi do presidente da Juventude Radical da Cidade de Buenos Aires, Agustín Dante Rombolá. “Repudio energicamente Patricia Bullrich e sua decisão unilateral de apoiar o autoritarismo. Também exijo que a diretiva nacional da UCR expulse imediatamente Luis Petri de nosso partido”.

Pesquisa aponta crescimento de Massa

Para a candidatura de Sergio Massa, a boa notícia desta quarta foi a divulgação da primeira pesquisa do segundo turno, que lhe dá uma vantagem confortável sobre Milei: 44% das intenções de voto contra 34%. Se forem considerados apenas os votos úteis, já que 7% disseram que não irão votar e 6%, que votarão em branco (6 por cento), Massa teria mais de 50%, o suficiente para ser eleito.

Os dados são do instituto Proyección, que entrevistou 1.459 pessoas por telefone. A pesquisa buscou entender quem herdará os votos dos candidatos perdedores e o resultado foi o seguinte: dos eleitores de Bullrich, 15% declaram voto em Massa, 24% em Milei e 61% ou não sabe, ou vota em branco ou não vai votar; dos eleitores do peronista Juan Schiaretti, 42% preferem Massa e 10%, Milei — metade ou não sabe ou, acima de tudo, não pretende votar; e dos eleitores da esquerdista Miriam Bregman, 60% votarão em Massa.

Bregman foi a menos votada no primeiro turno, com 2,7% (710 mil votos). Schiaretti teve 6,8% (1,8 milhão) e Bullrich, 23,8% (6,2 milhão).

 

Com informações do Página 12.

Edição: Leandro Melito