Sobrecarregados por um grande número de vítimas da guerra, além de cidadãos em busca de abrigo dos bombardeios israelenses, hospitais em Gaza estão deixando de funcionar por falta de água e combustível para geradores. Nessa realidade que exige muito improviso, médicos são forçados a realizar cirurgias com pouca ou nenhuma anestesia. Telefone celulare e vinagre viram insumos cirúrgicos.
“Não temos combustível para fazer funcionar os geradores de reserva, e isso afeta primeiramente os centros cirúrgicos, as unidades de terapia intensiva e as salas de emergência”, disse Medhat Abbass, diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza.
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“Temos um grande número de vítimas nos hospitais que cuidam de casos cirúrgicos. O problema é que a equipe está exausta e não temos suprimentos médicos. Estamos consumindo em um dia o que costumávamos consumir em um mês”, contou Abbass. Segundo ele, pacientes estão sendo operados nos corredores, no chão, à luz de telefones celulares, alguns deles sem anestesia. Em muitos casos, vinagre é usado em vez de antisséptico.
Pequenas quantidades de suprimentos médicos puderam ser transportadas pela fronteira Egito-Gaza nos últimos dias, mas Israel se recusa a permitir sua distribuição no norte, onde a maioria dos hospitais está localizada, por causa da ideia de evacuar toda a parte norte da Faixa de Gaza antes da planejada ofensiva terrestre. Mais de 20 hospitais no norte e centro de Gaza receberam ordens do exército israelense para evacuar, mas os médicos dizem ser impossível cumprir essa determinação.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alega ser inviável distribuir combustível e materiais médicos no norte devido à falta de garantias de segurança. Desde o ataque-surpresa do Hamas, em 7 de outubro, não é permitida a entrada de combustível em Gaza, o que deixou sem energia os geradores dos hospitais e a usina de dessalinização e bombeamento de água.
A água potável também está praticamente esgotada em Gaza, segundo a organização não-governamental Oxfam. Os suprimentos de água engarrafada estão diminuindo e isso provocou aumento do preço, tornando a água potável inacessível para a maioria das famílias. Em comunicado, a organização afirma que a fome está sendo usada como arma de guerra contra civis em Gaza, acrescentando que apenas 2% dos alimentos habituais foram entregues ao enclave desde o "cerco total" de Israel.
Saúde em risco também nas escolas
Desde o início do ataque israelense, as 286,6 mil crianças palestinas que frequentavam 183 escolas mantidas pela ONU em Gaza estão afastadas das salas de aula, porque as escolas foram transformadas em abrigos para mais de 600 mil pessoas.
Segundo a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos na região, a guerra alterou a rotina nos campos de refugiados de Gaza, que abrigam 1,47 milhão de refugiados, cerca de 70% da população de Gaza. Como alguns desses campos já foram alvos de ataques, as escolas se transformaram em campos de refugiados improvisados. Salas de aula normalmente são reservadas para mulheres e crianças, enquanto homens adultos ficam nos pátios.
A superlotação preocupa os agentes humanitários, porque algumas escolas hospedam 12 vezes mais pessoas do que sua capacidade permitiria. Tal situação restringe o acesso à assistência básica e faz proliferar doenças devido às baixas condições de higiene.
“Gaza já estava passando por uma crise humanitária muito profunda”, afirma Juliette Touma, diretora de comunicações da UNRW. “Pelo menos 1,2 milhão de pessoas dependiam de assistência alimentar, e 80% viviam na pobreza. As restrições de acesso e movimento já eram muito rígidas devido ao bloqueio [imposto por Israel]. A situação já era muito ruim. E a guerra agravou ainda mais”.
Com informações da Al Jazeera, The Guardian, Folha de S.Paulo e do site da UNRWA.
Edição: Leandro Melito