O Ministério Público da Venezuela anunciou nesta quarta-feira (25) a abertura de uma investigação contra o grupo que organizou as eleições primárias da oposição realizada no último domingo (22).
Segundo o procurador-geral da República, Tarek William Saab, os alvos são o presidente da chamada "Comissão Nacional de Primárias", Jesús Maria Casal, e a vice-presidente, Mildred Camero.
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Eles serão investigados pelos supostos crimes de "usurpação de funções eleitorais, usurpação de identidade, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha", segundo informou Saab.
"O artigo 293 da Constituição estabelece que o Conselho Nacional Eleitoral é o órgão encarregado de organizar eleições de sindicatos, grêmios profissionais e organizações com fins políticos. Como se tratavam de primárias de organizações com fins políticos, estamos na presença de um caso de usurpação de funções eleitorais", disse o procurador.
Saab ainda lembrou que o CNE "apresentou em setembro uma proposta de assistência técnica às primárias, com a implementação do sistema de voto eletrônico ao invés do voto manual, mas essa proposta foi rechaçada pela Comissão Nacional de Primárias".
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Sobre o suposto crime de "usurpação de identidade", o procurador afirmou que é possível presumir "que para justificar a fraude dos resultados, os organizadores do evento utilizaram sem consentimento a identidade de várias pessoas que não participaram". Já sobre as acusações de lavagem de dinheiro, ele afirmou que as origens dos recursos utilizados na preparação do pleito "ainda são desconhecidas".
Durante o anúncio, Saab fez referência e utilizou os números apresentados nesta terça-feira (24) pelo presidente do Legislativo venezuelano, o chavista Jorge Rodríguez. Segundo o deputado, o governo realizou cálculos próprios pois contava "com uma pessoa em cada centro de votação".
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De acordo com Rodríguez, a participação na consulta teria sido de 598.350 eleitores, número que contrasta com o fornecido pela comissão opositora que organizou as primárias, que afirma que mais de 2 milhões de pessoas votaram no pleito. De acordo com dados do CNE, atualmente há 21 milhões de eleitores registrados e todos estavam aptos a votar na consulta.
"O que ocorreu no domingo não foi uma eleição, foi uma farsa. Uma eleição tem elementos que devem ser respeitados para que a votação possa ser auditável, justa e livre. Isso que ocorreu no domingo não pode ser auditado", disse o deputado.
Até o fechamento desta matéria, a Comissão de Primárias ainda não havia se manifestado sobre as acusações feitas tanto pelo governo venezuelano quanto pelo Ministério Público. Desde a tarde desta terça-feira, o grupo tem divulgado comunicados assinados pelos partidos que participaram da consulta em apoio ao comitê organizador.
Edição: Thalita Pires