Coluna

Acendeu a luz amarela!

Imagem de perfil do Colunistaesd
Governo Lula corre contra o tempo para aprovar o que precisa em menos de 60 dias - Ricardo Stuckert/ PR
A última pesquisa Genial/Quaest trouxe más notícias para o governo

Olá, com uma queda na popularidade, o governo corre contra o tempo para aprovar o que precisa em menos de 60 dias.

 

.Clima de fim de festa. A última pesquisa Genial/Quaest trouxe más notícias para o governo: queda no índice de aprovação e aumento da insatisfação com a economia e com a atuação internacional. Na verdade, a pesquisa só confirmou o que as impressões gerais já apontavam: aproximando-se do final do primeiro ano de governo, as coisas melhoram mais lentamente do que se esperava, especialmente nos últimos meses. Como se sabe, desde o início, Lula colocou como prioridade a recuperação da economia. Depois das dificuldades iniciais, o governo conseguiu emplacar seu novo arcabouço fiscal, o que ajudou a dar popularidade à equipe econômica e criou um clima de otimismo talvez exagerado no final do primeiro semestre. A projeção do Brasil no mundo também ajudou o país a recuperar a auto-estima, depois de penar quatro anos como pária internacional. Porém, de lá pra cá pouca coisa avançou. A agenda política foi tomada pelas eternas negociações do governo com o centrão e mesmo assim não conseguiu resolver o imbróglio da reforma tributária. Nos últimos meses, as condições internacionais também mudaram e Lula viu suas agendas prioritárias - preservação ambiental, combate à fome e às desigualdades - serem abafadas por uma interminável sucessão de conflitos, da Ucrânia à Faixa de Gaza, sem solução à vista, além dos avanços da extrema direita na vizinha Argentina. Tudo isso, junto com uma sequência de catástrofes ambientais e crise na segurança pública, foi suficiente para dar a sensação de letargia nos passos do governo.

.Mão única. Na prática, a tática do Planalto para reverter o quadro continua sendo a mesma: aprovar a reforma tributária e o aumento da arrecadação para ter recursos para investimentos sociais em 2024, contando que a busca pelo déficit zero conteria a chantagem do mercado financeiro. O problema é que se a letra é do governo, quem determina o ritmo é Arthur Lira. A exemplo da contrapartida para que o Congresso aprovasse a taxação dos fundos exclusivos e offshore de alta renda, que custou a entrega da presidência da Caixa para um aliado de Lira. Mesmo assim, as pressões por emendas e cargos continuam e um novo pregão já está aberto para garantir a aprovação do PL das subvenções do ICMS para os estados. E quando a Câmara entrega com uma mão, o Senado tira com a outra, como a desoneração fiscal de 17 setores empresariais, que vai na direção oposta do esforço arrecadatório do governo. Como a economia não anda, a política também não se move e a extrema direita aproveita a situação para seguir pautando os temas conservadores. O suficiente para causar a primeira vitória deste setor com a inédita rejeição do indicado do governo para a Defensoria Pública da União por uma posição favorável ao aborto. Para bloquear este flanco, o governo quer convencer o STF a segurar pautas delicadas como o aborto e a descriminalização da maconha. Neste caso, a responsabilidade volta para o Planalto, porque petistas e juristas concordam que já passou da hora do presidente Lula escolher o novo procurador da República, em especial com o relatório da CPI de 8 de Janeiro chegando ao Ministério Público, e indicar alguém para a vaga de Rosa Weber no Supremo. Aliás, com o fim da CPI, o tema do golpismo ficaria apenas com o Judiciário, desocupando as agendas do Executivo e do Legislativo. O que também devolve a atenção de Lula e dos parlamentares para o trabalho dos ministros. Com uma eleição municipal se aproximando, Lula quer ver resultados e os ministros devem entrar na corrida contra o tempo para entregar boas notícias até o fim do ano. Enquanto isso, sem conquistas materiais, a esquerda comemora vitórias simbólicas, como o veto parcial ao Marco Temporal, a ampliação da lei de cotas e mudanças no tão criticado Ensino Médio.

.Legado maldito. Depois da CPMI do 8 de janeiro no Congresso, foi a vez da CPI do Distrito Federal encerrar seus trabalhos, com o indiciamento de mais de 100 pessoas, dentre as quais não se encontram nem Bolsonaro, nem o governador Ibaneis Rocha. O fato representa o encerramento de um ciclo de investigações que revelou detalhes das operações golpistas, investigações em que tiveram papel decisivo - diga-se de passagem - a Polícia Federal e o STF. Mesmo assim, ficou um gostinho amargo de impunidade na boca. Caberá a outras instituições, em especial à PGR pós-Augusto Aras, apurar as denúncias das Comissões e indiciar suspeitos, porém agora sem o alarde midiático que as CPIs fazem. Em relação a Bolsonaro, o cerco continua se fechando, no TSE e fora dele, ainda que mais lentamente do que o esperado. Os alvos têm sido aliados e familiares, como Carla Zambelli e um inexpressivo primo dos filhos do capitão. O governo, evidentemente, não tem pressa para saborear o desgaste de um adversário cada dia mais fraco e que de preferência acabe na prisão às vésperas das eleições de 2026. Já o legado deixado por Bolsonaro no submundo do aparato repressivo é outra história. As revelações sobre o esquema de espionagem ilegal operado pela Abin confirmam o que antes parecia apenas teoria conspiratória. O esquema, que contou com o uso de softwares para rastrear celulares, teve como alvos milhares de pessoas, incluindo políticos, jornalistas e até juízes do STF,  foi inclusive contratado por governadores estaduais aliados do capitão. Outro legado bolsonarista difícil de extirpar são as relações íntimas entre as forças armadas e o crime organizado, que produzem histórias mal contadas. Como aquela do “desaparecimento” de armas de um quartel do Exército em São Paulo, encontradas depois numa região do Rio de Janeiro dominada pelo Comando Vermelho, tudo isso às vésperas de uma onda de ataques das milícias na zona oeste da capital carioca. 

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Sete sinais da crise climática no Brasil. A Piauí apresenta estatísticas dos últimos eventos climáticos extremos do norte ao sul do país.

.Renúncia fiscal: soja recebe quase R$ 60 bi ao ano, o dobro da cesta básica. Enquanto o Congresso discute a reforma tributária, o agronegócio bate recordes em isenções. Em O Joio e o Trigo.

.Da bala ao gabinete: como se grila um pedaço de terra. Conheça a realidade do oeste da Bahia, que mistura agronegócio, agrotóxicos, grileiros e pistoleiros.

.Como a religião foi incorporada ao mundo do crime no Brasil. Em entrevista ao podcast Pauta Pública, Bruno Paes Manso comenta seu novo livro sobre as relações entre evangélicos e grupos criminosos.

.Os desmilitantes. No Quatro Cinco Um, Paulo Roberto Pires disseca o perfil dos indivíduos que escamoteiam seu conformismo através da crítica aos sujeitos engajados. 

.'Meu nome é Gal': cinebiografia conta como violência da ditadura atravessou carreira de uma das maiores cantoras do país. Ao Brasil de Fato, Lô Politi, uma das diretoras do filme, fala sobre sua carreira e sobre cinema brasileiro.


Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

 

 

Edição: Vivian Virissimo