A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta sexta-feira (27), uma "trégua humanitária" na Faixa de Gaza. A proposta recebeu voto favorável de 120 países, entre eles o Brasil, e somente 14 contrários. O texto teve, ainda, 45 abstenções.
O resultado da votação isola EUA e Israel e coloca pressão nos dois países, que defendem a continuidade das operações militares israelenses na Faixa de Gaza, descritas por muitos como um genocídio. Os ataques de Israel já mataram mais de 7 mil palestinos – 3 mil deles crianças –, com intensos bombardeios desde o dia 7 de outubro.
A decisão não tem o poder de uma medida do Conselho de Segurança da ONU e pode não ser acatada por Israel, já que serve apenas como recomendação.
O texto final aprovado pelos países membros do órgão internacional determina o imediato estabelecimento de corredores humanitários; a liberação de civis sequestrados, de ambos os lados; a revogação da ordem de evacuação de Gaza por Israel; e a condenação dos "atos terroristas", mas sem mencionar que Israel tem direito de defesa.
Na assembleia, israelenses afirmaram que a defesa da trégua nos ataques contra os palestinos significa manter "as mãos de Israel amarradas". Nesta sexta-feira, a ONU informou que a ajuda humanitária que tem entrado pelo Egito não atenderá a nem 4% dos palestinos, que são 2,2 milhões em um trecho de deserto de 40 km na Faixa de Gaza.
Entendendo o caso
O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos.
A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da ONU e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região.
Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense.
O acordo encontrou oposição de setores em Israel - que chegaram a matar o então premiê do país - e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1.400, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de cerca de 7 mil palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais e criticadas por vários organismos internacionais.
Edição: Nicolau Soares