No mês de outubro, Roraima registrou eventos extremos, com chuvas acima da média esperada (15 mm), para o atual período de calor vivenciado no estado. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), os índices pluviométricos variaram entre 52 milímetros na zona Oeste de Boa Vista e 14 milímetros de chuva na zona Leste.
A primeira chuva de granizo foi vista no sábado (14), por moradores do bairro Cambará, na capital Boa Vista, que compartilharam vídeos de pequenas pedras de gelo caindo do céu. A segunda chuva de granizo foi registrada no domingo (15) por moradores da comunidade indígena Monte Moriá 2, que fica localizada na T.I Raposa Serra do Sol, em Uiramutã, a 313 km de Boa Vista. As lideranças da comunidade gravaram vídeos mostrando as pedras caindo e uma chuva que durou meia hora.
A Gestora Ambiental do Conselho indígena de Roraima (CIR), Sineia Wapichana é referência mundial no estudo da mudança climática a partir da perspectiva dos povos indígenas. Ela já vem alertando sobre as mudanças climáticas, e participou entre os dias 24 a 26 de outubro, no Centro Regional Lago Caracaranã, região da Raposa, na TI Raposa Serra do Sol do intercâmbio de Enfrentamento às Mudanças Climáticas, atividade que faz parte da preparatória da Conferência Mundial de Mudanças Climáticas (CP-28), em Dubai.
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A gestora destaca que os primeiros estudos sobre mudanças climáticas, partiram da necessidade de uma conversa aberta sobre a proteção territorial, atividade exercida pelas lideranças indígenas há muito tempo e que somente agora com os espaços conquistados essas vozes são ouvidas.
Na capital, alguns moradores do bairro Cidade Satélite e Cambará também presenciaram a ocorrência rara do fenômeno. Como o morador do bairro Cidade Satélite, Mika Nelly que relata como percebeu a chuva.
“De primeira, fiquei sem acreditar que seria possível isso. Depois tinha convicção que era realmente granizo, por conta do barulho que fez no telhado, porém esperei mais informações ou relatos de outras pessoas, para se concretizar. E foi o que aconteceu.” conta a moradora.
Por volta da meia noite era notável os prejuízos deixados pelas tempestades, o Corpo de Bombeiros respondeu a 33 ocorrências relacionadas a árvores caídas, além disso o fenômeno extremo ocasionou casas destelhadas, estruturas arrancadas e instabilidade energética em alguns locais do Estado.
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Efeitos da mudança climática no contexto Roraimense
Em Roraima, alguns indicadores apontam um período seco para o final do ano. Os meses de agosto, setembro, outubro e novembro com chuvas abaixo da média e temperaturas mais elevadas que o habitual. Segundo o Comandante do Corpo de Bombeiros, o Coronel Anderson Matos, foi registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), muitos focos de calor, sugerindo a ocorrência de incêndios florestais e queimadas na região que causam graves consequências para o meio ambiente, a saúde da população e a agricultura local.
A ocorrência simultânea de dois fenômenos na Amazônia podem explicar a falta de chuva no Estado. O El Niño – geralmente ocorre no final do ano - representa o aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, mas as águas do Atlântico Tropical norte também estão aquecendo, ocasionando na inibição da formação de nuvens “O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, explica o meteorologista Ricardo Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no INPA.
Além disso, devido às mudanças climáticas deixarem os fenômenos naturais mais intensos, o El Niño chega em Roraima após o Estado passar por um longo período com a presença da La Niña que é um fenômeno oceânico de resfriamento das águas superficiais nas partes central e leste do Pacífico Equatorial, o que provoca um aumento de chuvas. “Passamos por La Niña por 3 anos consecutivos, um fato raro de acontecer, geralmente é somente 1 ano, às vezes de 2 em 2 anos. É a primeira vez que aconteceu no século e desde os primeiros registros do fenômeno é apenas a 3 vez que ocorre algo assim”, explica o meteorologista diretor de recursos hídricos da FEMARH-RR, Ramón Alves Martins.
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Situação do Norte
De acordo com o Boletim de Alerta Hidrológico da Bacia do Amazonas (SAH AMAZONAS) a Bacia do rio Branco, continua descendo em Boa Vista e Caracaraí, apresentando níveis baixos para o período. Os dados são de 19 de setembro a 18 de outubro.
Mas não é só Roraima que está sofrendo as consequências das mudanças climáticas, a capital do Estado vizinho, Manaus (AM), está marcando temperaturas que ultrapassam os 40°. A cidade e os arredores também estão passando por um período de queimadas intensas que cobriu o céu de uma camada grossa de fumaça.
O volume de água de um dos principais rios do Norte, o Amazonas, em Itacoatiara, apresentou em 19 de outubro o nível de 90 cm, considerada a maior vazante desta estação em relação à série de dados. Em Parintins, o Amazonas continua descendo e apresenta níveis muito próximos da vazante de 2010 (-186 cm). Em Óbidos e Almerim, o Amazonas continua em processo de recessão, com níveis considerados baixos para a época.
Os rios Negro, Solimões e Amazonas registraram mínimas históricas, segundo a Estação em Manaus os rios atingiram, no dia 19 de outubro a cota de 13,29 metros, nível mais baixo registrado em 121 anos, de acordo com o novo Boletim de Monitoramento Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Futuro de RR em relação ao clima
Segundo mostram os indicadores do Centro de Previsão do Clima (CPC), e do Serviço Nacional de Meteorologia da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, há 95% de probabilidade do El Niño se prolongar até Março de 2024 e 71% de chance do fenômeno persistir com um calor anormal.
Segundo o meteorologista Ramón Alves, os eventos climáticos extremos em Roraima serão cada vez mais frequentes devido ao tipo de clima que o estado apresenta. “Nós [Roraima], temos aí um clima de transição, com zonas climáticas de floresta e de savanas também. Os eventos que ocorrem nesse clima de transição são mais drásticos e quando associados ao aquecimento dos oceanos tanto Pacífico como Atlântico Norte, temos mais um agravante”, ressalta o meteorologista.
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As lideranças indígenas já citam que o forte calor e o baixo volume de chuva, estão prejudicando as plantações e o acesso à água, provocando grandes consequências para a agricultura, pois impacta nos ciclos reprodutivos das colheitas por serem completamente dependentes ao solo e o clima, influenciando diretamente na produtividade do cultivo.
Diante da alarmante situação do estado, o governo de Roraima lançou no dia 16 de outubro, a campanha “Verão Seguro”, que tem por objetivo aplicar ações “prévias” de combate à estiagem. O atual governador de Roraima Antônio Denarium (PP) explicou em coletiva de imprensa realizada no Palácio Senador Hélio Campos, que a campanha terá a colaboração de entidades no combate aos incêndios florestais, desmatamento ilegal e de sensibilização da população.
“Nesse período alguns agricultores começam a fazer a roça para o próximo plantio, acabam colocando fogo no mato seco que foi cortado e isso pode resultar em incêndio florestal. É o momento de estarmos alinhados entre todas as esferas de governo e instituições para que a gente possa evitar esses incêndios florestais no nosso Estado”, relatou o governador.
Em nota, a Prefeitura Municipal de Boa Vista informou que a Defesa Civil faz um trabalho preventivo junto à população, reforçando as orientações sobre como proceder durante a incidência de eventos climatológicos, que são fundamentais para a minimização dos possíveis danos, principalmente no que tange à preservação da vida.
Edição: Vivian Virissimo