A ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza entrou neste domingo (29) no 23º dia, com um saldo de mais de 9 mil mortos. Deste total, 1,4 mil são israelenses e 8 mil são palestinos, de acordo com as autoridades locais. Quase metade das vítimas palestinas, 3,5 mil, são crianças.
As Forças de Defesa de Israel afirmaram que caças atacaram mais de 450 alvos 'associados ao Hamas' nas últimas 24 horas. Mas como Gaza é uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, a população civil palestina vem sendo amplamente atingida pelas bombas israelenses.
A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), que atua no território palestino, relatou que a escassez de recursos por causa do cerco israelense vem obrigando médicos a realizarem cirurgias em crianças mesmo sem anestésicos.
"Faltam narcóticos, faltam sedativos, faltam opióides. Fazemos muitas operações com meia dose de sedativo, o que é terrível", disse Léo Cans, chefe da missão do MSF à agência de notícias AFP
Internet restabelecida em Gaza
A conexão à internet começou a ser restabelecida do lado palestino. A ONG Internet NetBlocks relatou a restauração da internet na região em uma postagem no X, antigo Twitter.
Os serviços estavam indisponíveis desde a última sexta-feira (27), quando a Faixa de Gaza sofreu uma série de ataques aéreos israelenses.
As empresas de telecomunicações que atuam em Gaza, Paltel e Jawal, também confirmaram que os serviços de telefonia fixa e móvel foram gradualmente reativados.
Armazéns da ONU saqueados
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), ligada à ONU, relatou neste domingo (29) que seus armazéns e centros de distribuição em Gaza foram invadidos por milhares de pessoas.
Os invasores levaram farinha de trigo e outros itens básicos, como produtos de higiene, conforme a ONU. Um dos locais saqueados é onde a UNRWA armazena suprimentos humanitários provenientes do Egito.
Thomas White, diretor da UNRWA na Faixa de Gaza, avaliou que as tensões e o medo das pessoas foram exacerbados pelos cortes nos serviços telefônicos e na internet.
“Este é um sinal preocupante de que a ordem civil está começando a desmoronar após três semanas de guerra e um cerco rigoroso a Gaza. As pessoas estão assustadas, frustradas e desesperadas”, disse White.
Entendendo o caso
O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos.
A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região.
Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos - apoiada pelos EUA - foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense.
O acordo encontrou oposição de setores em Israel - que chegaram a matar o então premiê do país - e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas em Gaza, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1.400, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de milhares de palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais, criticadas e rotuladas de "massacre" e "genocídio" por vários organismos internacionais.
Edição: Rodrigo Durão Coelho