Para “repensar como a sociedade entende a maternidade”, a pscicanalista Vera Iaconelli lança o livro O manifesto antimaternalista, que expõe como “certas ideologias sobrecarregam as mulheres no papel de mães".
Editado pela Zahar, a obra vem repercutindo no pouco mais de um mês desde seu lançamento.
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Para a escritora, este resultado é consequência não só do tema polêmico proposto no livro, mas também por conta da necessidade que a sociedade, em especial as mulheres, têm de expor o tema.
“O que a gente observa é que a maternidade está entrando em colapso, porque as mulheres já não conseguem mais exercer tantas funções ao mesmo tempo. O que está acontecendo é que as mulheres estão começando a entender que são elas que estão oprimidas por uma situação, e não elas que têm que correr atrás de corresponder a isso”, explica Iaconelli em entrevista ao Brasil de Fato, veiculada na edição desta quarta-feira (1) do programa Bem Viver.
Livro está disponível desde setembro para venda / Reprodução/Zahar
“Agora a mulher fala assim: ‘eu quero ser mãe, mas eu quero ser pai do meu filho, eu quero ter uma vida, eu não quero abrir mão’. Para ser mãe, as mulheres sempre acharam que tinham que abrir mão de uma vida. E hoje elas falam assim: ‘nossa, eu fui enganada, não era para ser assim não’.
O recente lançamento não é o primeiro sobre o tema escrito pela autora. Vera Iaconelli é conhecida também pelas obras O Mal-estar na Maternidade e Criar Filhos no Século XXI.
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Doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), a especialista é, também, diretora do Instituto Gerar de Psicanálise.
Em O manifesto antimaternalista, Iaconelli, traz elementos da vida pessoal dela para a discussão.
“Em relação à minha família, [...] está colocada desde o começo por conta da minha mãe ter sido adotada na maternidade onde ela nasceu, uma adoção à brasileira, eu começo o livro contando isso, mas depois também como mãe, como mulher, com as minhas duas filhas, que hoje são jovens adultas, tudo que eu passei para conciliar o casamento, a vida pessoal, o trabalho, a maternidade, que foi muito investida, mas também um trabalho muito investido.”
Além do aspecto familiar, a especialista lembra que, ao longo de três décadas atuando como psicanalista, o tema da maternidade sempre esteve presente entre suas pacientes.
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“Foi nessa mistura de coisas que a minha pesquisa se deu, sempre voltada para a psicanálise e a parentalidade. Eu tentei responder algumas questões que vieram da clínica, da teoria e também da minha vida pessoal através desse último livro.”
Por fim, a especialista destaca que a questão da maternidade não é uma pauta exclusivamente de debate feminista, são outras questões da sociedade que atravessam o tema e que precisam ser levadas em consideração para entender que caminho a sociedade precisa enfrentar para compreender a luta "antimaternalista".
“A gente fala assim: “ai, a maternidade é tão linda, é sagrada”. Sim, mas depende de qual. A maternidade branca, de classe média alta, de mulheres casadas, cisgênero, heterossexuais, com seu maridinho, babá, genitoras - que gestaram e pariram - é a maternidade padrão ouro."
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Edição: Lucas Weber
