Algumas semanas antes dos ataques em Gaza, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi à Assembleia Geral da ONU e mostrou um mapa, com seu plano para um novo Oriente Médio. A formação de um corredor econômico, apoiado pelos EUA, que se estende desde a Índia, passando pelos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia, Israel e, por fim, todo o continente europeu.
Essa é a resposta dos EUA, junto com o governo lacaio de Israel, diante do seu enfraquecimento mundial, da queda da relevância do dólar depois que roubaram 300 bilhões de dólares da Rússia, do crescimento do BRICS e, em especial, da Nova Rota da Seda, ligando a China à Síria e ao Mar Mediterrâneo.
Há poucas semanas, o Irã e o Iraque assinaram um acordo com a China, criando uma ligação ferroviária para a Nova Rota da Seda. Também recentemente, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, que o imperialismo estadunidense vem tentando isolar há mais de uma década, visitou a China e está assinando uma parceria estratégica, dando acesso para a Nova Rota da Seda no Mar Mediterrâneo, por meio do Porto de Latakia. Essa rota compromete profundamente a hegemonia dos EUA no mundo.
Há também a questão do gás. Quando os EUA instigaram o golpe de Maidan na Ucrânia, em 2014, não se tratava apenas da expansão da OTAN e do cerco à Rússia. Tratava-se de cortar o gás russo para a Europa. A Rússia é o país com as maiores reservas comprovadas de gás natural. Quem controla a Ucrânia, controla os gasodutos que fornecem gás russo para a Europa. Há anos, os políticos dos EUA diziam abertamente que não aceitavam os gasodutos Nordstream (Rússia-Alemanha). Eles foram explodidos. O maior e mais flagrante ataque terrorista à infraestrutura europeia da história moderna. Combine com isso os pacotes de sanções que proíbem o petróleo e o gás russo na União Europeia. Assim, não há mais gás russo entrando na Europa. E, desse jeito, os EUA alcançaram um objetivo imperialista de longa data.
Agora, o único outro país com enormes reservas de gás, o segundo maior do mundo, é o Irã. O Irã assinou um acordo nuclear em 2015 e 2016, no qual se comprometia a não desenvolver tecnologia que permitisse a construção de armamento nuclear. O país vinha cumprindo o acordo de todas as formas imagináveis. E, então, os EUA voltaram atrás em sua palavra e rasgaram o acordo, sem mais nem menos, impondo novas sanções ao Irã. Agora o Irã está impedido de vender seu gás e petróleo para a Europa e outros países. Desse modo, a Rússia e o Irã, os dois países com as maiores reservas de gás, estão fora de cena.
Em 2010, havia sido descoberto um monstruoso campo de gás no Oriente Médio. Chama-se Leviatã e está localizado no Mar Mediterrâneo, na bacia do Levante. Isso significa que fica bem na costa da Síria, do Líbano e da Palestina. Síria rejeitou ofertas e se recusou a instalar tubulações para um projeto de gás do Catar. Apenas um ano depois, “coincidentemente”, a guerra irrompeu na Síria. E quem a está financiando? Catar, Israel e EUA. Atualmente, os EUA controlam um terço do território e todos os poços de petróleo da Síria. E Israel vem bombardeando regularmente o porto de Latakia.
Por sua vez, em 2020, o porto do Líbano localizado na costa do Levante explodiu “misteriosamente”. Logo após, Israel apareceu com um enorme navio de extração de gás para tentar roubar gás dos campos de Karish, no Líbano. Gaza, na Palestina, também tem seus próprios campos de gás inexplorados. Como se sabe, Gaza é um campo de concentração sitiado e administrado pelos israelenses, sob bloqueio naval desde 2007. Ou seja, não é possível nem mesmo pescar adequadamente, quanto mais extrair gás.
Portanto, os portos libaneses, sírios e palestinos estão todos fora de ação. E o único porto em funcionamento na costa é o porto israelense de Haifa. Como o inverno está se aproximando, Israel precisa desesperadamente obter gás para a Europa. Mas não há “estabilidade” na região. Para isso, é preciso “resolver” a questão da Palestina. E é precisamente por isso que eles estão massacrando os palestinos como loucos. O governo de Israel já disse literalmente que esperam que os palestinos fujam com medo para o deserto do Sinai, enquanto que os palestinos da Cisjordânia fujam para a Jordânia.
Foi no decorrer desses fatos que, “convenientemente”, Israel apareceu com na ONU uma “solução”, combinada com os EUA, para “resolver” a escassez de gás na União Europeia. Em outras palavras, Israel e EUA, juntos, não só pretendem bloquear a Nova Rota da Seda, como estão acabando com toda a concorrência, roubando e dominando o mercado de gás. É, fundamentalmente, por esse motivo que estão promovendo o genocídio e a limpeza étnica na Palestina.
Ou a resistência popular e os países que não se alinham ao imperialismo expulsam os colonizadores estadunidenses e israelenses do Oriente Médio, ou Israel e os EUA continuarão ocupando a região, sufocando a Nova Rota da Seda, saqueando o petróleo da Síria e mantendo o gás russo, iraniano e árabe fora da Europa e isolados do mercado mundial. Este é um momento decisivo, e não apenas para a Palestina, porque os vencedores acabarão determinando para que lado a balança mundial vai pender, em favor dos opressores imperialistas ou dos povos e nações oprimidos e não-alinhados.