A poucos metros do Capitólio, cartazes colados pela rua de Capitol Hill chamam Mikle Johnson, presidente da Câmara dos Estados Unidos, eleito ao final de outubro, de novo presidente "MAGA", a sigla do slogan de campanha de Donald Trump, o Make America Great Again, e que de lá pra cá se tornou um adjetivo para se referir à extrema direita no país.
Após 3 candidatos para a Presidência da Câmara dos Estados Unidos não conseguirem o consenso entre as alas moderada e de extrema direita do Partido Republicano, Mike Johnson, um deputado pouco conhecido do estado de Louisiana, foi eleito para o posto no último dia 25.
Durante seu discurso de posse, Johnson disse: "eu acho que todo o povo americano já teve um grande orgulho desta instituição, mas neste momento isso está em perigo. E temos um desafio diante de nós agora para reconstruir e restaurar essa confiança".
No início de outubro, e pela primeira vez na história, o presidente da Câmara dos Estados Unidos foi destituído pelo desejo dos deputados. Mais que isso, por iniciativa dos membros do próprio Partido Republicano, mais especificamente da ala mais conservadora, que não via com bons olhos o tom negociador de Kevin McCarthy.
Com mais de 3 semanas sem comando, a Câmara ficou inoperante, inclusive durante o início do mais recente acirramento do conflito na Palestina, uma situação que será lembrada pelos democratas na eleição do ano que vem. Apesar do caos gerado ter sido uma derrota para os republicanos, a escolha de Mike Johnson como presidente da Câmara não é necessariamente uma vitória para os democratas. Eleito deputado pela primeira vez em 2016, ano em que Trump derrotou Hillary, Johnson é conhecido por defender uma agenda ultraconservadora e cortes profundos de gastos.
"Assim que eu vi os democratas se aliando com os chamados '8 doidos', eu disse que eles talvez iriam se arrepender quando tivessem que lidar com alguém ainda mais extremista", afirma Groper, "e eu acho que a gente talvez tenha chegado neste ponto. É sempre melhor, no governo, e às vezes na vida, o diabo que você conhece ao invés daquele que você não conhece", disse Richard Groper, professor da California State University, ao Brasil de Fato.
Ainda que a decisão de remover o então presidente Kevin McCarthy tenha partido de um grupo pequeno de 8 deputados da extrema direita, a consequência deve ser sentida principalmente por republicanos moderados eleitos em distritos onde há disputa real com os democratas, os chamados "distritos pêndulo".
"Eu acho que os opositores aos republicanos destes distritos moderados certamente trarão isso à tona", disse Groper. A pergunta, segundo ele, é: "vai reverberar?".
O professor de Ciências Políticas acredita que um ano é muito tempo, mas se a situação seguir caótica dentro do partido, isso certamente deve impactar a eleição. "Eu suspeito que o mandato de Mike Johnson vá ser um pouco instável, então eu acho que vai ser mais difícil para os republicanos na eleição geral, mesmo que daqui a um ano", diz Groper.
O Partido Republicano de Ronald Reagan não existe mais
Em uma entrevista a um canal de TV do país, Johnson afirmou que se guia pela Bíblia, um comentário que assustou alguns, umas vez que o presidente da Câmara geralmente diz se guiar pela Constituição. O que parece apenas um comentário, evidencia uma transformação profunda no Partido Republicano.
"O Partido Republicano vem passando por uma transformação. 2016 foi uma eleição transformadora", opina Richard Groper. "Trump não iniciou o fervor populista que existe atualmente dentro do partido, mas ele certamente capitalizou em cima disso e jogou mais lenha na fogueira do populismo que agora ressoa e domina, francamente, grande parte do Partido Republicano".
Alguns veículos importantes da mídia estadunidense caracterizaram que a eleição de Johnson representa a consolidação de uma mudança histórica. Segundo a revista Time, a eleição do ultraconservador ao terceiro posto mais importante do país - atrás apenas do presidente e da vice - "marca o fim do Partido Republicano de Ronald Reagan".
Desafios pela frente
O primeiro grande desafio para Mike Johnson, assim como para a Casa Branca, será a aprovação de um pacote de auxílio financeiro e militar a Israel. Ambos concordam em enviar dinheiro ao aliado, mas a forma com a qual esse envio será feito está em disputa.
A Casa Branca apresentou uma proposta de pacotão com envio de dinheiro para Israel e Ucrânia, além de investimentos na segurança da fronteira com o México para agradar os republicanos. Johnson, porém, apresentou uma ideia diferente: um pacote destinado apenas a Israel e subordinado a cortes de verba para o IRS, a Receita Federal dos EUA.
Ao que tudo indica, esse deve ser apenas o primeiro de muitos desafios que surgirão nos próximos meses. Em breve, Legislativo e Executivo precisam concordar em relação ao orçamento do ano que vem, caso contrário o Estado pode ficar sem dinheiro para pagar as contas.
Para Richard Groper, no entanto, o maior desafio de Johnson é interno: "os seus maiores desafios serão os desafios que Kevin McCarthy teve, que é o de domesticar a franja radical do partido, que não está lá para legislar, está lá para destruir o processo legislativo. Eles estão lá para criar caos. E se ele conseguir acalmá-los, ótimo. Mas lembre-se que ele também precisa dos moderados do partido. Vamos ver se ele está à altura do recado".
Edição: Leandro Melito