Ancestralidade

Capoeira de angola: encontro no Tocantins junta gerações de mestres e mestras

Programação em Palmas contou com o mestre Boca Rica e a mestra Jararaca, entre outras personalidades

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Encontro em Palmas (TO) serviu como formação e compartilhamento de saberes e experiências - Flávia Quirino

"Eu sou mestre Boca Rica, conhecido no Brasil, na Bahia e no mundo inteiro, graças a Deus, discípulo do mestre Pastinha, com 12 para 13 anos de idade entrei na capoeira e até hoje estou na capoeira", se apresenta o mestre Boca Rica, um dos mais históricos capoeiristas do mundo.

Aos 86 anos, o baiano Manoel Silva, iniciou sua vida na capoeira ainda na década de 1950 e não parou mais. No currículo, já visitou mais de trinta países e dos estados do Brasil, como ele mesmo contou, só não conhece o Piauí e a região sul do Maranhão. São 14 discos gravados dedicados à capoeira. Em Salvador (BA), cidade onde vive, continua a receber pessoas do mundo inteiro interessadas em sua memória sobre a capoeira, patrimônio cultural do Brasil.

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A idade não é limite para o mestre Boca Rica, que percorreu mais de 1400 quilômetros de Salvador a Palmas para participar da quarta edição do Encontro de Capoeira Angola e Ancestralidade do Tocantins (IV Encaanto), realizado em agosto deste ano. 

O legado de um dos mestres mais antigos no cenário da capoeira angola em todo o país está afinado com o tema do encontro, que foi "No chão de ontem, os passos de agora’". 

Você vê que eu estou com uma idade dessa e faço os movimentos de capoeira, a perna ainda sobe. Está vendo?! Com essa idade

Iniciante na prática da capoeira angola, a assistente social Jana Costa, do Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins (Ajunta Preta), comenta a importância do mestre Boca Rica.

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"É uma figura maravilhosa de se conhecer, porque por mais que ele tenha uma idade avançada e a idade dele já era uma fase para estar esquecendo as coisas e ele tem toda uma memória de capoeira, de musicalidade que impressiona e para nós é muito importante ter passado por esse momento, ter escutado ele, a musicalidade e o que ele representa para a capoeira hoje", afirma Jana.

Mestra Jararaca 

Valdelice Santos de Jesus, a mestra Jararaca, é também uma dessas personagens de importância histórica para a capoeira angola. Em 2001, ela se tornou uma das primeiras mulheres mestras de capoeira angola do mundo.

A mestra iniciou na capoeira angola entre os anos de 1983 e 1984, são quase 40 anos dedicados à essa arte, que é sinônimo de ritmo, tradição, luta e sobrevivência.

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"A capoeira angola para mim é tudo, é o meu viver, respirar, amanhecer, crescimento, humildade, respeito aos mais velhos, é aprender sempre, é o lema e o legado. É aprender para continuar passando o que os nossos antepassados, os nossos ancestrais lutaram tanto para deixar e é isso que ela representa para mim, a continuação", explica Jararaca.

"Para mim é importante essa responsabilidade para minha vida, como pessoa, como mãe, como avó, como discípula, como mulher capoeirista angoleira. Então é de uma alegria, uma satisfação muito grande, a capoeira é tudo para mim, eu sem ela não sou nada, sem ela e sem o candomblé não me sinto completa", complementa a mestra. 

Uma das frases famosas do mestre Pastinha, "a capoeira é tudo que a boca come”,  sintetiza a capoeira angola, que além de jogo, luta e dança, também representa uma filosofia e uma forma de resistência social.

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"O estilo é caracterizado por um jogo mais lento, estratégico e malicioso, onde os elementos de teatralidade e mímica servem para ludibriar o oponente ou mesmo para interagir de forma mais brincalhona, conservando os elementos lúdicos dos primórdios desta prática", destaca Jararaca.

A manutenção desta tradição é uma das funções de mestres e mestras, como explica, mestre Vermelho, discípulo do mestre Boca Rica.

"A capoeira angola, com todas as diferenças e diversidade que ela tem, ainda provoca para gente momentos de cura, de lazer, de alegria onde a gente consegue transmitir ao povo, aos alunos, para crianças, idosos e adolescentes que a capoeira é uma forma diferente de contribuir com o nosso povo", define Vermelho. 

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Edição: Vivian Virissimo