Crescem as articulações, dentro e fora da Argentina, para tentar impedir que Javier Milei chegue à presidência. Um dia após a divulgação de um manifesto assinado por 108 intelectuais, dizendo que as propostas do candidato ultraliberal são “potencialmente muito prejudiciais” para a economia da Argentina e seus habitantes, outras duas iniciativas semelhantes vieram à tona nesta sexta-feira (10).
Uma delas é uma carta assinada por vários ex-presidentes, como Michelle Bachelet (Chile) e José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), além de acadêmicos e intelectuais, que apelam pelo voto no candidato peronista Sergio Massa no segundo turno — no próximo dia 19 — para “colocar um freio nas posturas antidemocráticas de Milei”. Eles questionam as “propostas neoliberais” do candidato, que, segundo afirmam, “no passado, foram letais para a sociedade argentina e toda a região”.
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Segundo o texto, aqueles que apoiam o manifesto apostam no “fim da divisão e da polarização que impedem o progresso” e pedem a substituição do “ódio e do sectarismo pela reflexão, para recuperar a concórdia nacional”.
Outros signatários são os ex-presidentes Vinicio Cerezo (Guatemala), Leonel Fernández (República Dominicana), Jose Maria Figueres (Costa Rica), além dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel (Argentina) e Rigoberta Menchú (Guatemala), entre outros.
No cenário interno, o apoio veio dos radicais, grupo político historicamente opositor ao peronismo e que, institucionalmente, está neutro no segundo turno. Mais de 200 líderes do chamado radicalismo, de várias gerações, se manifestaram publicamente e instaram o eleitorado argentino a “defender a convivência e derrotar o ódio”, votando em Massa.
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Eles enfatizam que continuam sendo oposição ao atual governo, do qual Massa é ministro da Economia, e que farão oposição a quem quer que vença a eleição. Mas afirmam que decidiram estimular o voto no candidato peronista “para derrotar a fórmula da Liberdade Avança (nome da coalizão de Milei), que ameaça os valores radicais e da sociedade argentina”.
O texto também menciona “posturas antidemocráticas” de Milei, que teria feito “insultos grosseiros” aos ex-presidentes Hipólito Yrigoyen (1916-1922 e 1928-1930) e Raúl Alfonsín (1983-1989). No caso de Alfonsín, referem-se à decisão de julgar e condenar crimes da ditadura, “base do pacto democrático que desterrou os golpes de Estado”. O documento conta com a assinatura de radicais de todo o país.
Neutralidade, não
O ex-governador de Salta, Juan Manuel Urtubey, afirmou que “não há espaço para neutralidade na Argentina de hoje” e afirmou que o “acordo nacional” proposto por Sergio Massa tem como base colocar o trabalho e a produção no centro do debate.
“Neste segundo turno, temos que escolher entre dois modelos não apenas de organização social, mas de convivência entre os argentinos, e Sergio Massa avança com um enorme processo de abertura, em busca de um grande acordo nacional”, afirmou a uma emissora de rádio.
Urtubey esclareceu que se considera “um peronista opositor ao atual governo”, mas diz ter ficado “entusiasmado” com a proposta do candidato peronista.
(Com informações do El País e Página 12)
Edição: Leandro Melito