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Entidade denuncia falta de representatividade de mulheres e negros na justiça após eleição no TJSP

Com base em resolução do CNJ, entidade cobra mais participação de mulheres e negros na corte paulista

Recife (PE) |

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A presidência do Tribunal de Justiça paulista nunca foi ocupada por uma mulher - Paulo Santana / TJSP - Klaus Silva / TJSP

O resultado da eleição para a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), realizada na última quarta-feira (8), mostra que a justiça paulista segue distante de qualquer perspectiva representativa, segundo avaliação da organização JUSTA, que atua no campo da economia política. De acordo uma nota publicada, a eleição do desembargador Fernando Antônio Torres Garcia, atual corregedor-geral da corte, "sintetiza com exatidão o estado das coisas no sistema de justiça brasileiro". 

O JUSTA aponta que "os dois candidatos que disputaram a liderança do TJSP representam fielmente a absoluta falta de representatividade de raça e gênero que caracteriza o Tribunal, composto por 90% de desembargadores do sexo masculino, contra apenas 10% de desembargadoras". 

Segundo a Universidade Zumbi dos Palmares, apenas 3 dos 360 desembargadores paulistas são negros, menos de 1% do total.

De acordo com levantamento do JUSTA, em 132 anos, a presidência do Tribunal de Justiça paulista nunca foi ocupada por uma mulher, situação semelhante no Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Paraná. 

Relembre: Em dez anos, nenhum juiz foi punido por racismo em processos abertos no CNJ

"Do pouco que se teve notícia, considerando que os candidatos se recusaram a tornar públicas as propostas que apresentaram ao colégio eleitoral dos desembargadores, a eleição foi marcada por discussões corporativistas, especialmente em estratégias para inflar ainda mais auxílios e benefícios que descaracterizam totalmente o teto de remuneração do funcionalismo público, conforme determina a Constituição Federal", aponta a organização. 

A entidade faz, ainda comparativos em termos de poderio orçamentário, utilizando o orçamento do estado de São Paulo para 2023. O Poder Judiciário paulista dispõe de R$ 15 bilhões, ao mesmo tempo que R$ 13 bilhões foram destinados ao transporte metropolitano, R$ 1,7 bilhão para o desenvolvimento social e apenas R$ 1,4 bilhão para políticas habitacionais.

A nota também questiona a aprovação de um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa do estado, que aumentou o valor das custas processuais em 50%, dificultando o acesso da população mais pobre à justiça.

"O que vemos é um Tribunal ensimesmado e avesso ao interesse público", define o JUSTA. 

Decisão do CNJ

Em setembro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a criação de política de alternância de gênero no preenchimento de vagas para a segunda instância do Judiciário. Com a decisão, as cortes deverão iniciar uma transição para tribunais mais representativos e democráticos. 

Com base na medida, o JUSTA cobra "que o novo Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo dê nova orientação à falta de transparência e ao desdém pelo interesse público que a corte superior paulista insiste rotineiramente em demonstrar".

Edição: Rodrigo Gomes