MASSA X MILEI

Reta final de campanha na Argentina: Massa enfatiza recuperação econômica e Milei pede fiscalização das urnas

Massa acena aos militares e trabalhadores; Milei critica “comunistas” e pede fiscalização das urnas

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Apoiador de Sergio Massa segura cartaz com imagem do candidato peronista durante ato de campanha de Javier Milei (foto ao fundo): houve tumulto entre partidários das duas candidaturas - Luis Robayo/AFP

As campanhas de Sergio Massa e Javier Milei vivem momentos agitados na reta final antes da eleição presidencial do próximo domingo (19), com uma intensa agenda de eventos em busca dos votos necessários para vencer uma disputa que parece indefinida, pelo que revelam as pesquisas mais recentes.

O candidato peronista Sergio Massa participou nesta quarta-feira (15) de um evento em que destacou o espírito democrático das Forças Armadas e enfatizou a defesa da soberania nacional, encontrou-se com inquilinos para discutir propostas habitacionais e concedeu uma entrevista televisiva, na qual anunciou que na próxima segunda-feira, se eleito, vai revelar o nome do futuro ministro da Economia, que não será oriundo de seu grupo político — o candidato tem enfatizado a ideia de montar um gabinete de “unidade nacional”.

“A maior recuperação de renda ocorrerá no próximo ano, porque vamos reduzir pela metade a inflação”, afirmou o candidato, atual ministro da Economia, ao canal TN. Ele reiterou que a dolarização proposta pelo ultraliberal Milei é “uma megadesvalorização” do peso e que uma abertura maior da economia significaria “o fechamento das pequenas e médias empresas”. Quanto ao seu plano de governo, Massa indicou que renegociará o acordo com o Fundo Monetário Internacional porque é “inflacionário”.

Durante o lançamento da Campanha Antártica de Verão no Embarcadouro Naval do Porto de Buenos Aires, Massa enfatizou que “o Estado argentino tem a convicção de que a soberania nacional também é um valor central para a construção da identidade de nossa pátria”.

“A defesa da soberania das Malvinas não representa apenas a abertura da discussão sobre a participação da Grã-Bretanha em sua política de expansão do continente antártico, mas também representa um marco em termos do que deve ser a defesa de nossa soberania e o cuidado de cada um dos territórios de nossa pátria”, acrescentou após os condenáveis comentários feitos por Milei no debate presidencial sobre a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

Nesta quinta, Massa encerra sua campanha para o segundo turno com diversas atividades: apresentará suas ideias a empresários em um encontro do Conselho Interamericano de Comércio e Produção (Cicyp), mesma agenda que Milei teve nesta quarta (leia mais abaixo); depois, se reunirá com alunos de uma escola pública na Cidade de Buenos Aires; e encerrará o dia com um encontro com trabalhadores na região metropolitana de Buenos Aires.

Milei: briga e constrangimento

Um evento de campanha do ultraliberal Javier Milei terminou em confusão no final da tarde desta quarta-feira (15), em Ezeiza, cidade próxima a Buenos Aires que é reduto peronista. Houve empurrões, chuva de ovos, gritos de guerra de eleitores dos dois grupos que disputam a eleição. A militância de Milei pedia que a polícia liberasse o caminho para que pudesse fazer a carreata prevista, e acusava o prefeito local, peronista, de ter convocado sua militância. Este negou e disse que foi ao local apenas para garantir a segurança, pois o clima estava tenso.

Após a confusão, a campanha do candidato ultraliberal cancelou a carreata prevista e ele fez apenas um discurso, no qual convocou seus apoiadores a fiscalizar as urnas. “Temos os votos (para ganhar), precisamos protegê-los. Para isso, é necessário que fiscalizemos. Pelo bem da República e do nosso país”, disse. Caiu uma tempestade, mas um grupo de fãs não se inibiu e seguiu gritando que “a casta tem medo”, fazendo eco a um dos bordões de campanha de Milei, que critica o que ele chama de “casta política”, ou seja, a política tradicional.

Mais cedo, num almoço com empresários do Cicyp no Alvear, hotel de luxo em Buenos Aires, que reuniu também alguns embaixadores, Milei voltou a dar declarações provocativas e constrangedoras. Numas de suas falas, o candidato disse aos presentes: “Continuem comercializando com quem quiserem mas eu não serei aliado de comunistas”. Em uma das mesas, estava o embaixador brasileiro Julio Bitelli.

Milei já chamou o presidente Lula de comunista e corrupto, tem acusado o governo brasileiro de se envolver na campanha de Sergio Massa, e já afirmou que seus aliados no mundo são os Estados Unidos, Israel e aquilo que ele chama de mundo livre. Apesar de não declarar oficialmente apoio a Sergio Massa, declarações recentes de Lula indicam simpatia por sua candidatura. Na terça-feira, Lula disse que os argentinos precisam de um líder que "goste de democracia, respeite as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul". Patricia Bullrich, candidata derrotada no primeiro turno, o criticou.

Outra fala de Milei que provocou incômodo foi quando sugeriu aos empresários que “acordem” e não se deixem mais serem roubados. “Esse tipo de discurso não é para essa plateia”, afirmou um advogado que participou do encontro. Alguns manifestaram medo do “amadorismo” do candidato.

Algumas propostas de Milei soam tão estranhas e inviáveis que, para impulsionar sua candidatura, seu apoiador mais notório, o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), fala para os interlocutores não se preocuparem porque o candidato, mesmo se eleito, não conseguirá concretizá-las.

“Há coisas que ele propõe que são extremas, mas ele terá que negociá-las com o Congresso porque não tem votos suficientes”, afirmou Macri numa entrevista em um ciclo de reportagens do Woodrow Wilson Center. Em outra entrevista, ao canal La Nación+, Macri abordou o mesmo assunto: “Sei que o que Milei propõe não é perfeito, mas as coisas que você não gosta, ele terá que negociar com o Congresso e não vão passar porque ele não terá os votos necessários”.


 

Com informações do El País, Página 12, Clarín e Folha de S.Paulo.

Edição: Leandro Melito