A Americanas apresentou na quinta-feira (16) seu primeiro balanço de resultados após admitir, em janeiro, ter fraudado sua contabilidade para camuflar seus lucros. Após meses revisando suas contas, a gigante do varejo nacional informou ter registrado prejuízo de R$ 6,2 bilhões em 2021 e outros R$ 12,9 bilhões no ano passado – antes da revisão, a Americanas tinha informado investidores que lucrara R$ 500 milhões em 2021.
A empresa divulgou também que a manipulação de seus resultados atingiu a marca de R$ 25,2 bilhões ao final do ano passado.
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A fraude, segundo a própria Americanas, acabou desorganizando a companhia, que já não gerava caixa real, mas sim dados fraudulentos para enganar investidores. A dívida da empresa chegou a R$ 42,3 bilhões. A companhia pediu recuperação judicial – processo para intervenção da Justiça na renegociação de débitos com credores.
Esse pedido já foi aceito pelo Judiciário. A Americanas trabalha hoje em uma proposta para renegociação de seus débitos. A empresa, controlada desde 1983 por três dos homens mais ricos do país, deve pedir um abatimento de até 80% de seus dívidas para tentar se restabelecer e fugir da falência.
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Os três principais sócios da Americanas são Jorge Paulo Lemann, o mais rico do país; Marcel Telles, o terceiro; e Beto Sicupira, o quarto.
Eles mantiveram pessoas de sua confiança no conselho de administração da empresa – instância máxima da gestão e que, em tese, supervisiona o trabalho de diretores. O próprio Sicupira presidiu o órgão. Sua filha, Cecília Sicupira Giusti, e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo Lemann, também integraram o grupo.
Apesar disso, segundo a Americanas, eles não sabiam da fraude.
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Recuperação judicial
Pedro Henrique Costa, advogado especialista em Direito Empresarial, explicou que o percentual de desconto proposto pela Americanas é comum. Segundo ele, empresas que entram em recuperação judicial buscam abatimento de suas dívidas barganhando também com a possibilidade de falir e deixar credores sem receber.
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Durante o processo de recuperação, esses credores fazem uma assembleia para decidirem se o proposto pela companhia será aceito. Se for, um acordo é homologado e a empresa fica obrigada a cumpri-lo. Já sem acordo, resta à Justiça decretar a falência.
"É a última alternativa antes de falir", disse Costa. "Se o credor não aceitar a proposta na recuperação, é grande a chance de ele nunca mais receber."
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No caso da Americanas, a empresa se compromete a pagar débitos trabalhistas e com micro e pequenas empresas de forma integral, sem desconto. São R$ 260 milhões. Quem tem até R$ 12 mil a receber receberia integralmente.
Já o grosso dos R$ 42 bilhões devidos a empresa quer pagar pedindo abatimento de 70%, parcelados em 15 anos, ou até 80%, em 20 anos.
O presidente da Associação Brasileira dos Investidores (Abradin), o economista Aurélio Valporto, disse que o processo de recuperação judicial no Brasil tem sido usado para "legalização de calotes" de grandes empresas contra credores.
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André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse que o desconto tende a ser alto no caso da Americanas porque as dívidas da empresa são altas também. Além disso, a empresa pode estar propondo um abatimento elevado para negociar um percentual mais razoável no futuro.
A Americanas espera aprovar sua proposta para pagamento da dívida ainda em 2023.
Edição: Thalita Pires