No Brasil, Flávio Dino virou alvo dos jornalões nesta semana
Olá, dentro de casa, Flávio Dino virou alvo dos jornalões, e na política externa, Lula e a diplomacia brasileira estiveram sob ataques de Israel.
.Dino incomoda muita gente. Os sinais do presidente Lula de que resolveria em breve as nomeações para a PGR e o STF abriram a temporada de caça ao ministro Flávio Dino. Inicialmente, os favoritos para a vaga no Supremo eram Jorge Messias, advogado-geral da União e evangélico, e Bruno Dantas, presidente do TCU. Cada um com seu lobby, à esquerda e à direita. O nome de Flávio Dino foi levantado nas fileiras do PT como uma maneira de resolver o impasse, afinal é um nome de confiança de Lula, além de tirar um possível presidenciável dos holofotes e deixar vaga a prestigiosa cadeira do Ministério da Justiça. A possibilidade da sua indicação resultou num ataque coordenado por Flávio Bolsonaro, representando todas as dores do fracassado de 8 de janeiro, e o jornal O Estado de S. Paulo, que quis transformar a presença da esposa de um líder do Comando Vermelho no segundo escalão do Ministério, como representante de uma ONG, num escândalo nacional. O jornal apropriadamente ignorou que a mesma pessoa foi recebida também pelo Conselho Nacional de Justiça e pela Câmara dos Deputados. Para além da absoluta falta de empatia do Estadão pelo atual governo e o alinhamento ideológico com os Bolsonaros, o jornal também canalizou o descontentamento de parte da comunidade judaica com a postura do ministro no episódio dos supostos terroristas presos em São Paulo. E como atenta a Rede Brasil Atual, a denúncia ocorreu poucos minutos depois do CNJ apontar irregularidades nas contas da Operação Lava-Jato. Por fim, com a possibilidade do secretário Ricardo Capelli, braço direito de Dino, herdar o Ministério, também parte do PT foi discretamente diminuindo o empenho para a indicação ao STF. Se, por um lado, o episódio não é suficiente para abalar a confiança de Lula em Dino, por outro, é provável agora que o presidente deixe a decisão da indicação para o próximo ano, durante o recesso do Judiciário.
.Esquentou o clima. Além de Flávio Dino, o episódio respingou também no ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e por tabela no governo como um todo. A novidade é que Lula não pode mais contar com sucessos na política externa para compensar os problemas domésticos. Pelo contrário, mesmo comemorando a saída dos refugiados brasileiros de Gaza, a demora marcada por negociações difíceis e desinformação foi o desfecho dramático da tentativa do Brasil apresentar-se como mediador do processo de paz. A subida de tom de Lula contra as ações terroristas de Israel, a represália israelense na ONU, e a aprovação de uma revolução pelo cessar-fogo no Conselho de Segurança depois da frustrada tentativa brasileira, apenas confirmam o crescente cenário de dificuldades. Mas nem todas as notícias vindas de fora são ruins. Na área econômica, a tendência de queda dos juros norte-americanos deve pressionar o Copom a fazer novos cortes na taxa Selic. Enquanto isso, no Congresso, a reforma tributária aguarda pela segunda votação na Câmara, e o governo espera que a medida saia do papel ainda este ano. Até lá, a meta fiscal continuará sendo de déficit zero, para alívio de Fernando Haddad. E, enquanto todas as atenções estão voltadas para as pautas do governo, quem come miúdo no Congresso são os militares, buscando apoio para abocanhar um quinhão maior dos recursos da União, através de uma PEC que prevê o aumento do orçamento das Forças Armadas para 2% do PIB.
.O Centrão de rodas. A votação da reforma tributária no Senado trouxe para o palco um ator político de peso, mas discreto: a indústria automobilística. Entrelaçada com o poder desde os anos JK, o setor sempre esteve presente nas decisões políticas e econômicas dos governos e recebeu mais de R$69 bilhões em incentivos nas últimas duas décadas. E não tem sido diferente no governo Lula III, onde, de largada, conseguiram um programa de R$800 milhões, que não gerou empregos, mas desovou parte do estoque encalhado. No Senado, o lobby das empresas garantiu não só a prorrogação dos incentivos fiscais às montadoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como também ampliou o benefício que era exclusivamente para carros elétricos, incluindo híbridos que utilizam etanol e gasolina. A decisão beneficia diretamente Fiat, Mitsubishi, Chery e Hyundai e pode fazer com que a GM siga os passos da Ford e deixe o país. Mas a motivação não é apenas fiscal. Incapaz de concorrer e atender o mercado chinês, GM e Ford estão reestruturando a sua produção global para recuperar terreno na China. A perspectiva do movimento sindical se fortalecer no governo Lula também incomoda a montadora que teve 1.245 demissões revertidas pelos metalúrgicos no Judiciário. Tudo isso será motivo para as próximas cenas de chantagem das montadoras e para o apelo por programas que vão na contramão dos planos iniciais do governo para a transição energética ecológica, em especial agora, diante de uma histórica onda de calor no país. O aquecimento global deve prejudicar atividades agropecuárias, sobrecarregar sistemas de abastecimento de água e energia e causar danos à infraestrutura, além dos evidentes impactos sociais e na saúde humana. Por hora, fora a corrida dos especuladores pelos títulos verdes da dívida brasileira, as pretensões do Brasil em liderar esta transição patinam e, no que depender do lobby das montadoras, o mundo pode derreter.
.Ponto Final: nossas recomendações.
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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Vivian Virissimo