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Congresso Brasileiro de Agroecologia: Feira Saberes e Sabores ocupa centro do Rio de Janeiro

Até quinta-feira (23) mais de 300 produtores trazem alimentos saudáveis e artesanato para o público

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | |

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Barraca traz produtos de Mato Grosso como capuccino de coco de babaçu e artesanato indígena - Marina Duarte

 

Frutas sem veneno, hortaliças orgânicas, plantas comestíveis não convencionais, sabonetes naturais, fitoterápicos, sementes crioulas, artesanato indígena e quilombola, tudo isso e um pouco mais está na Feira Nacional de Sabores e Saberes da Agroecologia e Economia Solidária, que acontece durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA).

São mais de 300 agricultores, povos indígenas, quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais reunidos no Parque do Passeio Público, no Lapa do Rio de Janeiro (RJ), até quinta-feira (23) das 8h às 18h com entrada gratuita.

Segundo a organização, o objetivo da feira é não só a comercialização de produções nacionais combinando alimentos e artesanatos, que representam a diversidade da agroecologia no Brasil, mas também gerar renda, reconhecer tradições alimentares, criar oportunidades concretas de diálogos e trocas culturais entre campos e cidades.

“A feira é um espaço de encontro e troca, a gente acredita muito nesse contato entre quem está produzindo e quem está consumindo sem intermediários, mas, de fato, mostrando a cara da agroecologia para quem está circulando no centro do Rio de Janeiro e consumindo esses alimentos. A ideia é que a população da cidade e os visitantes no Congresso possam vivenciar agroecologia por quem faz agroecologia, agricultores, indígenas, quilombolas”, explica Mayná Peixinho Moreno, coordenadora da Feira.

Entre os expositores estão diversos produtores do Estado do Rio de Janeiro, como também de outros estados do Brasil.

A agricultora familiar Marilda Pereira Sá é uma delas. Ela trouxe do Sítio Santa Rita em Manaus (PA) produtos orgânicos como mel de abelha sem ferrão, própolis, óleo de andiroba, copaíba.

“O Congresso é uma vitrine pra gente e um momento também de networking, da gente trocar ideias com outras pessoas seja estudantes, pesquisadores, outros agricultores de outros territórios. Compartilhar um pouco também dos nossos saberes com os saberes dessas pessoas. É uma experiência de troca pra gente”, afirma ela.

Já Asao Wakiinagu, agricultor da Coopamsal, que fica em Cuiabá (MT), trouxe um cappuccino feito a base de farinha de coco de babaçu, que ele e mais 30 cooperados produziram diretamente do extrativismo da palmeira no Cerrado. 

“É um produto natural que não vai agredir nem a natureza nem o nosso organismo. O nosso produto é 100% natural, é colhido na hora no Cerrado e a gente inventou esse capuccino que é do babaçu. Ele pode ser feito com leite ou água quente e é feito com 80% do mesocarpo (coco) do babaçu, café solúvel, canela e chocolate amargo”, conta o agricultor.


Cappuccino de coco de babaçu produzida pela Coopamsal, em Cuiabá (MT) / Marina Duarte

Ele também garante que entre os benefícios medicinais do produto está o tratamento de inflamações digestivas, cólicas e até leucemia.

Na mesma banca a indígena Tatiane Monzilar Parikokureu, da aldeia Balatiponé-Umutina, que fica no município de Barra do Bugres (MT), trouxe os artesanatos representativos da etnia de mesmo nome.

“A seda é do tucum tirado do Cerrado, tem que ir até o mato pegar, tirar a seda, fazer fiozinho e colher a semente também porque tudo a gente tira da natureza e da floresta. O açaí a gente usa tanto para consumo como para o artesanato, nesse colar esse está tingido com a semente do morototó”, explica ela.


Tatiane Monzilar Parikokureu, da aldeia Balatiponé-Umutina, que fica no município de Barra do Bugres (MT) / Marina Duarte

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também marcou presença na feira com mais de 3 toneladas de alimentos dos assentamentos e acampamentos dos estados da região Sudeste. São produtos cooperativados como feijão, arroz, farinhas, doces, cachaças, mel, sucos, café, lácteos, fitoterápicos, castanhas e artesanatos.

De acordo com Bruno Diogo, do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST, a presença dos produtos da Reforma Agrária Popular na Feira é fundamental para conectar a luta pela terra com a produção de alimentos saudáveis para o povo brasileiro.

“Estamos em um momento da luta política, que é fundamental olharmos para a agroecologia em sua totalidade. Agroecologia é saber ancestral, é tecnologia, é reforma agrária, é organização produtiva, é modo de vida, é relação com a sociedade. Mas antes de desenvolvê-la é fundamental destacar: sem ocupação do latifúndio improdutivo não podemos construir agroecologia”, pontua ele.

Já para a agricultora Diléa de Souza Santos, do Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação da Agroecologia Serramar, em Casemiro de Abreu (RJ), a feira é mais que um espaço de divulgação. 

“É uma forma da gente fazer uma divulgação do nosso trabalho e nos ajuda, porque, muitas vezes, nós não temos para quem expor. Por exemplo, faz dois anos que nós estamos colhendo o feijão e nós vendemos para a empresa Agroverde, que é de Magé que é uma cooperativa, mas ainda precisa de mais”, pontua Diléa.

Ela vive e produz no Assentamento Visconde, que possui 88 famílias e há 25 anos tem a posse de terra, e trouxe com as companheiras sabão e sabonete artesanais, plantas ornamentais, abóbora, laranja, limão e açafrão. 

Além disso, elas tem uma barraca na Comedoria, espaço de alimentação da feira com cerca de 20 produtoras e produtores vendendo alimentos como doces e pães artesanais, tacacá, sacolé de Plantas Comestíveis Não Convencionais (PANCs), açaí e suco juçara, entre outros pratos da diversidade regional. 


Outras Atrações 

Além da Feira, o Passeio Público terá outras atrações como parte da extensa e diversa programação do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia.Em meio às árvores centenárias da praça, também serão instaladas estruturas para acolher a Tenda dos Povos Indígenas, a Comedoria (Praça de Alimentação), o Festival de Arte e Cultura da Agroecologia (FACA), os Barracões de Saberes e a Feira da Agrobiodiversidade.

“A ideia da feira é ilustrar essa diversidade que a agroecologia tem de agricultores, indígenas, quilombolas. Então a gente está  recebendo no estado Rio de Janeiro mais de 350 agricultores para trazer essa diversidade de produção, muitos tipos de produtos, 

“O objetivo é que a população do Rio de Janeiro e os visitantes no Congresso possam vivenciar por quem faz agroecologia.” 

"A gente escolheu esse espaço do Parque do Passeio Público, que fica bem no centro do rio de Janeiro para marcar a importância da agricultura familiar, que existe na cidade e na região Sudeste, como também de outros estados do país que puderam trazer seus produtos, e dando visibilidade para os produtores que estão aqui." 

“A feira é um espaço de encontro e troca, a gente acredita muito nesse contato entre quem está produzindo e quem está consumindo sem intermediários, mas de fato mostrando a cara da agroecologia pra quem tá circulando no centro do Rio de Janeiro e consumindo esses alimentos.” 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho