O Rio Grande do Sul é um enclave estratégico no Mercosul, tem aeroportos e hidrovias centrais, algumas das melhores universidades e parques tecnológicos do país, lidera em patentes e goza de um setor produtivo moderno e diversificado. Mas o governador Eduardo Leite (PSDB) parece incapaz de gestar novas ideias para conduzir o estado ao desenvolvimento econômico e social.
Em seis anos de Piratini, nosso governante demonstrou conhecer apenas duas formas de elevar receitas: vender estatais e aumentar impostos. A primeira sacrifica o futuro de estado, abrindo mão da soberania e de ativos lucrativos por recursos temporários. A segunda cobra do trabalhador a conta do deserto criativo semeado por Leite.
Ambas possuem, a médio e longo prazo, o efeito inverso do pretendido, jogando o estado em espirais recessivas. Então vem a necessidade de cortar gastos. A política da tesoura também se destaca pela falta de inventividade, recaindo ano após ano sobre o funcionalismo público, em especial os servidores que ganham menos, como o miserabilizado Magistério gaúcho.
Em tratativa sobre a necessidade de reajuste para os profissionais da educação, o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos, me confidenciou haver apenas duas alternativas: aumentar impostos ou atrasar salários. Questionado se não havia um plano de desenvolvimento econômico capaz de assegurar a saúde orçamentária e fiscal do estado para os próximos anos, o secretário silenciou.
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Nada. Nada além de um profundo vazio. Mesmo as soluções mais evidentes, como a revisão das renúncias fiscais - compromisso, aliás, firmado pelo estado ao aderir ao draconiano regime de recuperação fiscal - são ignoradas. Conceder isenções sem qualquer transparência ou comprovação do retorno social e econômico é uma política tratada como intocável. Não se sabe por quê, já que o governo se nega a debater o tema.
Não sabemos aonde se espera chegar com a entrega de estatais, o desmonte da educação pública e o aumento de impostos para o trabalhador. Mas podemos afirmar com razoável grau de certeza: não vamos longe. Este receituário pobre, prestes a completar 10 anos se considerarmos os mandatos de Leite e seu antecessor, José Ivo Sartori, atua como uma camisa de força para as potencialidades do estado.
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Pior; se retroalimenta, produzindo todos os anos os males que alega curar. Estes remédios amargos, testados e reprovados pelo tempo, precisam ser descartados. Nas dimensões econômica e social, o Rio Grande do Sul está para concluir uma década perdida. Resta saber se continuaremos a perder tempo, insistindo no fracasso, ou seremos capazes de fazer jus à grandeza do estado e do povo gaúcho.
* Professora da rede estadual e presidenta do CPERS/Sindicato.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira