Na última segunda-feira (27), o auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, ficou pequeno para receber os 162 comunicadores, produtores de conteúdo, dramaturgos, fotógrafos, cineastas e veículos de imprensa populares homenageados pelo mandato da vereadora Monica Cunha (Psol) com uma moção de reconhecimento e louvor da Câmara Municipal do Rio pelo comprometimento em produzir uma comunicação antirracista.
Na abertura do evento, que contou com a presença da vereadora Monica Benicio (Psol), da deputada estadual Dani Monteiro (Psol) e do deputado federal Tarcísio Motta (Psol-RJ), Cunha lembrou da sua trajetória de mãe de vítima da violência do Estado e o quanto a comunicação popular foi fundamental para a construção de uma outra narrativa.
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“Ter conhecido essa comunicação popular que coloca a narrativa real do que a gente falava fez toda a diferença para as mães de vítimas de violência do Estado, porque as outras mídias sempre nos viam como culpadas, como mães de bandidos, então foram os comunicadores populares que mudaram essa página da nossa vida. Hoje, homenagear vocês é dizer para esse Estado que matou o meu filho e de diversas irmãs minhas que nós não somos mães de bandidos porque vocês escreveram em cada página, em cada site isso, muito obrigada por fazer a diferença na vida de tanta gente”, disse emocionada a parlamentar presidenta da Comissão de Combate ao Racismo.
Reconhecimento
O Brasil de Fato Rio de Janeiro esteva entre os veículos de imprensa homenageados na noite, junto com a Telesur, TVT, Mídia Ninja, Voz das Comunidades, Notícia Preta, Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e Agência de Notícias das Favelas (ANF).
A moção foi a segunda homenagem que o Brasil de Fato Rio de Janeiro recebeu neste ano. Em agosto, o veículo de comunicação popular foi congratulado com o prêmio Heloneida Studart de Cultura da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que reconheceu o trabalho de 109 instituições e fazedores de cultura do estado.
‘’Esse é o segundo prêmio que recebemos neste ano, em que completamos 10 anos de circulação pelo Rio de Janeiro. Estamos muito felizes com mais esse reconhecimento do nosso trabalho. Falo no plural porque represento um coletivo de trabalhadoras e trabalhadores que se dedicam todos os dias para fazer circular nas ruas e nas redes jornalismo de qualidade”, afirmou Mariana Pitasse que assina como editora do jornal.
A jornalista ainda destacou a importância social de se produzir uma comunicação comprometida com a luta antirracista.
“Nós, do Brasil de Fato RJ, temos esse compromisso não só como bandeira política, mas na prática, produzindo conteúdos que apontam denúncias e colocam as pessoas para refletir sobre o racismo que se manifesta todos os dias e estrutura nossa sociedade. Produzimos material que fala sobre branquitude, negritude e também sobre como podemos nos mobilizar coletivamente para combater o racismo’’, disse.
Dona Santinha
Entre as homenageadas da última segunda-feira estava Maria dos Santos Soares, mais conhecida como Dona Santinha. Aos 99 anos, a mineira é um dos símbolos nas manifestações no Rio de Janeiro. Presente em atos de movimentos feministas, antirracistas, LGBTQIAP+, mobilizações contra remoções e privatizações, Dona Santinha é sinônimo de luta.
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A enfermeira aposentada tornou-se engajada politicamente após a morte do irmão, um militante do Partido Comunista, em 1984. No leito de morte ela prometeu que “seguiria a sua luta” e assim o faz prestes a completar 100 anos.
“A minha luta principal é pelos negros devido à situação em que nos colocaram, mas a minha militância é pela humanidade. Eu não sei porque estou aqui, talvez a minha vida seja responsável por isso, porque eu não sei ficar indiferente ao que me rodeia. Tudo o que eu acho de errado, eu quero fazer alguma coisa”, disse, ao receber a moção.
Segundo o mandato de Monica Cunha, as homenagens ocorreram a comunicadores, coletivos de mídia alternativa, produtores de conteúdo antirracista e veículos de informação que contribuem para o combate ao racismo, a promoção da equidade racial e na ampliação da representatividade negra no Brasil.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda