Quase 700 mil pessoas foram afetadas direta e indiretamente no Rio Grande do Sul em decorrência das chuvas intensas registradas desde 15 de novembro. Conforme o último balanço da Defesa Civil estadual, o número de atingidos saltou, nos últimos três dias, de 474.136 para 673.188 pessoas.
A quantidade de municípios que reportaram danos e ocorrências aumentou de 208 para 221. Algumas cidades sinalizaram mais de um fato. A exemplo de Lajeado, que comunicou três ocorrências. Por isso, a lista contém, ao todo, 237 itens.
O número de pessoas em abrigos públicos caiu de 3.545 para 2.685. Na semana passada, chegou a mais de 28 mil o número de pessoas que tiveram que deixar suas casas.
Em novembro, o estado registrou, associados às chuvas fortes, vendavais, enxurradas, inundações, soterramentos e uma microexplosão (uma intensa corrente de vento com poder destrutivo). Além de danos humanos, materiais e ambientais, houve prejuízos econômicos e sociais. A dimensão dos impactos sofridos varia de acordo com a situação de cada município.
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Na sexta-feira (24), o governo do estado anunciou a ampliação das transferências fundo a fundo aos municípios afetados por eventos meteorológicos. De R$ 60 milhões, o valor inicial deve aumentar para R$ 110 milhões. A metodologia de repasses do Fundo Estadual da Defesa Civil diretamente para o Fundo Municipal foi estabelecida para desburocratizar o processo e garantir mais celeridade à reconstrução dos municípios.
O governo federal anunciou medidas para ajudar as pessoas atingidas pelas chuvas no estado. Em visita à Porto Alegre nesta sexta-feira (24), o ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias informou a liberação de R$ 104,14 milhões para ações do Plano Brasil Sem Fome, de combate à pobreza, de fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e de atendimento à população afetada pelas fortes chuvas.
As mudanças climáticas têm afetado a região Sul do país com períodos de estiagem e outros com fortes chuvas. Além da situação de emergência e calamidade, estes eventos extremos do clima causam insegurança alimentar na população. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) repassou, nesta sexta-feira (24), R$ 104,14 milhões para o Rio Grande do Sul atender a população atingida.
Para municípios em situação de emergência ou estado de calamidade pública, o MDS adota medidas especiais para atender as famílias atingidas. Entre elas estão a unificação do calendário do Bolsa Família e garantia de facilidades para o saque do benefício; a antecipação de até duas parcelas do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que corresponde a um salário mínimo; o envio de cestas de alimentos; e destinação de recursos do Fomento Rural a produtores de baixa renda com perda no cultivo.
Especialistas debatem eventos climáticos extremos
Um time de especialistas em meteorologia e hidrologia se reuniu, na tarde desta segunda-feira (27), em audiência pública na Assembleia Legislativa do RS para tratar dos eventos climáticos que atingiram o estado. Durante quase três horas, representantes das principais instituições que atuam na produção de dados e monitoramento de clima, explicaram como funcionam os mecanismos disponíveis para prever e alertar a população sobre eventos de riscos
A audiência foi promovida pela Comissão de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado por iniciativa do deputado Miguel Rossetto (PT). “Nosso objetivo é acumular conhecimento para prever, preparar e proteger as comunidades para conviver com fenômenos que são globais e aqui têm se caraterizado por flutuações entre períodos de estiagem e inundações”, justificou o parlamentar.
:: O que mais é necessário para que seja declarada emergência climática no Rio Grande do Sul? ::
A diretora do Departamento de Hidrologia do Serviço Geológico Brasileiro, empresa pública ligada ao Ministério das Minas e Energia, revelou que dos 17 sistemas de alerta existentes no país, três estão no Rio Grande do Sul, nos rios Caí, Taquari e Uruguai.
Segundo Andréia Germano, o monitoramento permite verificar o aumento do nível das águas, prever o tempo de transbordamento e avisar as comunidades em risco com antecedência. “As previsões são feitas com antecedência, mas não estamos conseguindo fazer com que a sociedade nos escute”, lamentou.
El Niño
O coordenador do Distrito de Meteorologia de Porto Alegre, Marcelo Schneider, afirmou que as temperaturas mais altas que a média estão entre as principais causas da intensidade das chuvas que atingiram o estado. Nos últimos três meses, segundo ele, a Região Norte do Rio Grande do Sul registrou chuvas quatro vezes superiores à média histórica. Schneider revelou ainda que o El Niño deverá se estender até março de 2024, mas que a maior preocupação, nos próximos meses, é com a intensidade dos temporais.
A importância de uma cadeia de dados num momento de incertezas e mudança climática foi abordada pelo professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Guilherme Fernandes Marques. “Ou a sociedade paga por um sistema de alerta ou pelos prejuízos. E isso numa proporção de R$ 600 para os danos por cada R$ 1 para a prevenção”, contabilizou.
“Poder Público em xeque”
A audiência foi acompanhada pela presidenta da comissão, Stela Farias (PT), e pelos deputados Adão Pretto Filho (PT) e Guilherme Pasin (PP). Todos ressaltaram a importância de a Assembleia Legislativa incorporar em sua agenda de debates o tema dos eventos climáticos extremos e de buscar alternativas para proteger a população e a economia do estado.
“Este é o nosso novo normal, que tem colocado o Poder Público em xeque. No verão, muitos municípios ficam sem água para o consumo humano. E agora, muitos não se recuperaram de uma inundação e já enfrentam outra”, apontou Stela.
O deputado Adão Pretto Filho reclamou da falta de investimentos na Defesa Civil e na educação ambiental no Rio Grande do Sul. “A legislação sobre educação ambiental do Rio Grande do Sul foi revogada em 2019. E o orçamento para o ano que vem destina apenas R$ 40 mil para a Defesa Civil”, criticou.
Já o deputado Guilherme Pasin ressaltou a necessidade de formação de uma “fonte de dados e de pesquisa potentes para orientar as decisões dos governantes”.
A audiência pública contou ainda com a participação secretários municipais do Meio Ambiente, engenheiros, urbanistas, vereadores e ambientalistas, que cobraram o respeito às atribuições dos comitês de bacias hidrográfica definidas em lei.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira