O movimento unificado contra as privatizações dos serviços públicos em São Paulo afirmou que buscará medidas judiciais contra a tentativa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de individualizar as manifestações grevistas.
Em coletiva de imprensa, Tarcísio prometeu penalizar individualmente metroviários e ferroviários da greve que ocorre nesta terça-feira (28). Em resposta, Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, afirmou que o posicionamento do governador "expressa sua visão antidemocrática ao não aceitar que parte da população se insurja contra uma política que não foi escrutinada pelo povo".
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"É problemática a ameaça ele fez de individualizar as penalizações aos metroviários. É uma prática de assédio moral absurda. Os problemas precisam ser resolvidos entre a representação coletiva dos trabalhadores e a direção da empresa, não com o governador. É um recurso intimidatório, alheio aos direitos democráticos. Vamos buscar as medidas judiciais para que não haja esse tipo de coisa. São coisas que não estão previstas na legislação", disse Lisboa em coletiva de imprensa nesta terça-feira.
O movimento também informou se, caso o governador não suspenda os projetos de privatização das empresas públicas, as mobilizações grevistas e outras formas de manifestação continuarão. Uma das promessas de campanha, Tarcísio pretende privatizar todas as linhas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que ainda não foram desestatizadas. O primeiro projeto é a concessão do Trem Intercidades e da Linha 7-Rubi da CPTM.
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Camila Lisboa afirma que mais da metade da população não aceita as privatizações. "Na capital, onde as linhas podem ser privatizadas, a população não escolheu Tarcísio de Freitas. O governador não dá muita bola para os serviços públicos", afirma. Na capital paulista, o então candidato petista Fernando Haddad teve 54,41% dos votos. Já Tarcísio, 45,49%.
"O governador tem dito ao longo do dia que vai seguir o projeto de privatização. A população não elegeu para que durante quatro anos ninguém pudesse contestar as medidas que ele está tomando, principalmente falando da privatização de setores estratégicos", afirma Lisboa. "Como ele pode provar que a privatização da Sabesp não vai virar o que virou o caos da Enel? Como ele pode provar que a privatização das linhas não vai virar o caos que virou as linhas privatizadas?"
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Em 17 de outubro, Tarcísio protocolou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) o projeto de lei 1501/2023, em regime de urgência, que prevê medidas para privatizar a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Em pouco mais de um mês, a proposta passou pelas comissões e está pronta para ser votada em plenário.
José Antonio Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), afirma que o movimento unificado significa a defesa do direito da população ao saneamento e à água tratada.
"A Sabesp presta um serviço de excelência, lucrativa, com serviços quase totalmente universalizados. Atendemos 365 municípios e 70% da população. Não tem argumento razoável para privatizar. O saldo dessa greve de hoje é poder fazer esse debate com a população de São Paulo. Todo esse projeto privatista do Tarcísio é uma manifestação contra os trabalhadores, e a população com certeza é contra esse projeto", afirma Faggian.
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Helena Maria da Silva, vice-presidente Sintaema, lembra que o projeto de privatização da Sabesp passou nas comissões "praticamente sem alterações". "[Tarcísio] enganou o povo. Ele disse que ia fazer estudo, consultar a população e não fez nada disso. Não aceitamos essa política de entrega e desmonte que ele quer fazer no estado todo", disse.
Em seu perfil no X, antigo Twitter, Tarcísio de Freitas chamou a greve de "ilegal e abusiva" e afirmou que o movimento "tenta colocar a população refém de uma pauta política e corporativista". "Uma minoria que não se constrange em impor prejuízo e sofrimento a milhares de trabalhadores por puro oportunismo. Não é só egoísmo, é irresponsabilidade e crueldade com quem depende do transporte público", afirmou o governador.
Edição: Thalita Pires